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MERCADO FINANCEIRO
Superávit primário tende a perder intensidade com despesas maiores do setor público no 2º semestre
Aperto fiscal deve diminuir, dizem analistas
MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
O país deverá cumprir a meta de
superávit primário de 4,25% do
PIB (Produto Interno Bruto),
possivelmente com alguma folga,
mas a intensidade do aperto fiscal
feito pelo setor público no primeiro semestre deste ano não deve se
repetir nos próximos seis meses,
segundo economistas.
No segundo semestre, as despesas tendem a ser maiores por efeito sazonal, especialmente em ano
de eleições. A partir de julho entram despesas com a elevação dos
salários dos servidores.
"A folga obtida pelo Tesouro
deve se reduzir para o final do
ano. Vai ter de compensar o fato
de estatais não cumprirem sua
meta", diz Julio Callegari, da consultoria Tendências.
Foi o maior superávit primário
registrado no país desde 1991,
quando o Banco Central passou a
calcular as estatísticas fiscais.
Entre janeiro e junho, União,
Estados, municípios e estatais
economizaram R$ 46,183 bilhões
para o pagamento de juros da dívida -o que representa 5,76% do
PIB (Produto Interno Bruto) acumulado no período.
A dívida pública em relação ao
PIB caiu de 58,7%, registrados em
2003, para 56%, em junho, e essa
redução se deve ao aperto fiscal,
ao crescimento do produto, à
queda de juros e à inflação.
Economistas considerados
mais conservadores têm argumentado que o país precisaria de
um aperto fiscal ainda maior, um
superávit em torno de 6%, 7%.
Mas, mesmo no mercado financeiro, a idéia não encontra muita
ressonância.
Muitos economistas concordam que um superávit primário
maior ajuda a cortar os juros, permite reduzir a dívida. O risco-país
cai e o investimento sobe, mas
vêem limites para tamanho aperto fiscal.
"O problema é conseguir isso
através do aumento de impostos,
de certos cortes ruins. Não é só
uma questão de quantidade, mas
também de qualidade do superávit", diz Drausio Giacomelli, estrategista -chefe de Brasil do JP
Morgan.
Para Giacomelli, o governo não
tem margem de manobra para
cortar porque grande parte das
despesas é vinculada às receitas, o
que o obriga a transferi-las aos Estados, à saúde, entre outros casos.
"O risco é cortar despesas com o
que é produtivo, como infra-estrutura, como investimento em
estradas. É preciso desvincular,
ter flexibilidade dos gastos. Aí, seria possível cortar imposto. Caso
contrário, o governo será um departamento da Previdência, para
onde irá o dinheiro."
Para Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco, não há
necessidade de aumentar a meta
de superávit.
"A relação dívida/PIB cai nos
próximos anos com superávit de
4,25%, mesmo com crescimento
de 2,5% e taxa real de juros próxima a 9%. Mais importante é torná-lo estrutural, ajustar as contas
públicas para que não seja resultante de ato heróico, mas fruto de
mudanças do orçamento", diz.
Receitas
O cumprimento com folga da
meta acertada com o FMI para o
período, de R$ 32,6 bilhões, foi
permitida pela recuperação das
receitas.
A arrecadação subiu, segundo o
Banco Central, graças à retomada
da atividade econômica, mas essa
elevação se deve também ao aumento da carga tributária. Mais
receitas, mais gastos.
O aumento da arrecadação tem
aberto espaço para o aumento das
despesas, segundo Barros. "Esse
resultado dá muita segurança de
que a meta de superávit primário
será cumprida neste ano, mas, ao
contrário de 2003, o resultado será alcançado por meio do aumento da arrecadação e das despesas."
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