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Argentino minimiza déficits com o Brasil
MAELI PRADO
DE BUENOS AIRES
O sinal verde dado pelo Brasil
no início do mês passado para começar a discutir a institucionalização das salvaguardas no comércio com a Argentina acalmou os
ânimos entre os dois países e permite hoje uma relação mais harmônica, segundo o secretário de
Relações Econômicas do país vizinho, Alfredo Chiaradía.
De acordo com ele, os mecanismos de proteção comercial devem ser encarados como uma espécie de hedge (operação de proteção financeira) na relação comercial entre os dois países.
Para Chiaradía, não preocupam
os sucessivos déficits comerciais
que a Argentina vem acumulando
com o Brasil. "Na medida em que
a Argentina tenha um superávit
global, ter déficit com um país
não é preocupante", declarou.
Em julho, de acordo com dados
divulgados ontem pela consultoria abeceb.com, a balança comercial entre os dois países foi deficitária para a Argentina, pelo 26º
mês consecutivo, em US$ 346 milhões, um saldo negativo recorde.
Leia abaixo trechos da entrevista
do secretário à Folha.
Folha - Os sucessivos déficits da
Argentina na balança comercial
com o Brasil preocupam?
Alfredo Chiaradía - Isso não me
preocupa. Na medida em que a
Argentina tenha superávit global,
ter um déficit com um país não é
preocupante. Simultaneamente,
preocupa-me o caso daqueles setores industriais em que pode haver alguma situação pontual de
vulnerabilidade por distintas razões.
Folha - A aceitação brasileira em
discutir as salvaguardas criou um
clima mais harmônico?
Chiaradía - Hoje há uma maneira mais harmônica de nos entendermos e de administrarmos as
dificuldades. Temos sido bastante
enfáticos, há bastante tempo, em
sublinhar que não havia necessidade de tanto medo de abordagem dessa questão, da Cláusula de
Adaptação Competitiva. Que não
era um retrocesso do Mercosul.
Na maioria dos processos de integração, existem instrumentos que
prevêem como atuar ante situações de extraordinário fluxo de
importações em um determinado
país, em um sentido ou outro.
Quando há algum mecanismo
que permita abordar isso sobre
bases acordadas, ajuda que não
haja conflito.
É como um hedge, um seguro
que permite que se liberalize. Se
tenho um problema, sempre há
um seguro. Mais ainda no caso do
Mercosul, porque este ainda não
está aperfeiçoado.
Folha - Essa foi a linha de argumentação nas discussões com o
Brasil?
Chiaradía - Sim. O Mercosul beneficiou mais alguns do que outros. O ponto de vista de que há
necessidade de observar com
mais cuidado, que é o ponto de
vista dos investimentos, não satisfez o interesse dos quatro membros. Foram mantida no interior
do Mercosul elementos que fizeram com que esse benefício fundamental da integração não ocorresse em sua plenitude. Continuaram existindo incentivos à realização de investimentos, fiscais e
financeiros.
Em segundo lugar, continuou
havendo barreiras não-tarifárias,
como técnicas, sanitárias, de
transportes, etc. Esse estado de
coisas requer ainda mais a existência desse tipo de mecanismo.
Folha - Em alguns setores em que
foram aplicadas medidas restritivas, houve desvio de mercado para
terceiros países. Como isso pode
ser consertado?
Chiaradía - Isso pode ter ocorrido como conseqüência não desejada das medidas. De nenhuma
maneira existe a intenção do governo argentino de frear as importações do Brasil para importar
de outros países. Se aconteceu isso, é medida que não serviu. Queremos proteger setores vulneráveis, mas sem prejudicar sócios.
Existe a necessidade de consertar
isso e há que haver vontade.
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