São Paulo, terça-feira, 02 de agosto de 2005

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Argentino minimiza déficits com o Brasil

MAELI PRADO
DE BUENOS AIRES

O sinal verde dado pelo Brasil no início do mês passado para começar a discutir a institucionalização das salvaguardas no comércio com a Argentina acalmou os ânimos entre os dois países e permite hoje uma relação mais harmônica, segundo o secretário de Relações Econômicas do país vizinho, Alfredo Chiaradía.
De acordo com ele, os mecanismos de proteção comercial devem ser encarados como uma espécie de hedge (operação de proteção financeira) na relação comercial entre os dois países.
Para Chiaradía, não preocupam os sucessivos déficits comerciais que a Argentina vem acumulando com o Brasil. "Na medida em que a Argentina tenha um superávit global, ter déficit com um país não é preocupante", declarou.
Em julho, de acordo com dados divulgados ontem pela consultoria abeceb.com, a balança comercial entre os dois países foi deficitária para a Argentina, pelo 26º mês consecutivo, em US$ 346 milhões, um saldo negativo recorde. Leia abaixo trechos da entrevista do secretário à Folha.

Folha - Os sucessivos déficits da Argentina na balança comercial com o Brasil preocupam?
Alfredo Chiaradía -
Isso não me preocupa. Na medida em que a Argentina tenha superávit global, ter um déficit com um país não é preocupante. Simultaneamente, preocupa-me o caso daqueles setores industriais em que pode haver alguma situação pontual de vulnerabilidade por distintas razões.

Folha - A aceitação brasileira em discutir as salvaguardas criou um clima mais harmônico?
Chiaradía -
Hoje há uma maneira mais harmônica de nos entendermos e de administrarmos as dificuldades. Temos sido bastante enfáticos, há bastante tempo, em sublinhar que não havia necessidade de tanto medo de abordagem dessa questão, da Cláusula de Adaptação Competitiva. Que não era um retrocesso do Mercosul. Na maioria dos processos de integração, existem instrumentos que prevêem como atuar ante situações de extraordinário fluxo de importações em um determinado país, em um sentido ou outro.
Quando há algum mecanismo que permita abordar isso sobre bases acordadas, ajuda que não haja conflito.
É como um hedge, um seguro que permite que se liberalize. Se tenho um problema, sempre há um seguro. Mais ainda no caso do Mercosul, porque este ainda não está aperfeiçoado.

Folha - Essa foi a linha de argumentação nas discussões com o Brasil?
Chiaradía -
Sim. O Mercosul beneficiou mais alguns do que outros. O ponto de vista de que há necessidade de observar com mais cuidado, que é o ponto de vista dos investimentos, não satisfez o interesse dos quatro membros. Foram mantida no interior do Mercosul elementos que fizeram com que esse benefício fundamental da integração não ocorresse em sua plenitude. Continuaram existindo incentivos à realização de investimentos, fiscais e financeiros.
Em segundo lugar, continuou havendo barreiras não-tarifárias, como técnicas, sanitárias, de transportes, etc. Esse estado de coisas requer ainda mais a existência desse tipo de mecanismo.

Folha - Em alguns setores em que foram aplicadas medidas restritivas, houve desvio de mercado para terceiros países. Como isso pode ser consertado?
Chiaradía -
Isso pode ter ocorrido como conseqüência não desejada das medidas. De nenhuma maneira existe a intenção do governo argentino de frear as importações do Brasil para importar de outros países. Se aconteceu isso, é medida que não serviu. Queremos proteger setores vulneráveis, mas sem prejudicar sócios. Existe a necessidade de consertar isso e há que haver vontade.

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