São Paulo, terça-feira, 02 de agosto de 2005

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País exporta mais itens tecnológicos

CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar de ter uma participação ainda modesta na pauta de exportações do país, o setor industrial intensivo em tecnologia aumentou sua expressividade. No primeiro semestre deste ano, o segmento contribuiu com 9% do crescimento das exportações no período. Nos primeiros seis meses de 2004, a contribuição foi de 7,5%, segundo estudo elaborado pelo Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
Por trás do incremento da relevância da indústria intensiva em pesquisa e desenvolvimento está o dinamismo da indústria automobilística e de celulares, que estão, respectivamente, nas categorias de média-alta e alta intensidade tecnológica.
"Quase todo o acréscimo da indústria com maior grau tecnológico veio do setor de celulares. Aviões [outro setor exportador brasileiro de tecnologia de ponta] não teve um desempenho especialmente melhor que em 2004", disse Júlio de Almeida, diretor-executivo do Iedi.
No primeiro semestre de 2005, as exportações brasileiras cresceram 24% em relação ao mesmo período do ano passado. Com isso, as vendas externas totalizaram US$ 53,7 bilhões.
Para Roberto Segatto, presidente da Abracex (Associação Brasileira de Comércio Exterior), a maior relevância da indústria automobilística tem uma explicação simples.
"Esses investimentos em tecnologia para exportação são possíveis, muitas vezes, porque são acordos entre a filial brasileira e a matriz estrangeira."
Segundo Segatto, "ainda são necessários mais investimentos para o Brasil ser um exportador de tecnologia de ponta em automóveis. O grosso dos investimentos nessa indústria já tem mais de uma década", argumentou.

Setores vulneráveis
O fato de os setores automobilístico e de celulares terem ampliado muito sua participação na pauta fez os segmentos com baixa intensidade tecnológica terem sua participação reduzida, o que mostra a desconcentração da pauta brasileira.
De acordo com o relatório do Iedi, setores de baixa e média-baixa intensidade tecnológica tiveram contribuição de 68,5% para a expansão das vendas externas brasileiras. Em 2004, diz o diretor-executivo do Iedi, as indústrias de produtos de menor investimento tecnológico chegaram a representar 90% da alta das exportações.
Exemplos desses tipos de bens são commodities agrícolas e também produtos primários combustíveis, como petróleo e carvão. Os setores de base agropecuária (produtos agroindustriais também se inserem nessa categoria) contribuíram com 13,6% do aumento das exportações. Já aqueles com base mineral -com destaque para o minério de ferro- tiveram participação de 16,6%.
O principal problema de ter um elevado grau de dependência das exportações de bens básicos é que a demanda internacional por esse tipo de produto é muito instável. Hoje, principalmente por causa da China, há um forte vigor do comércio de commodities.
"De repente, se a dinâmica do mercado mudar, a situação [do comércio exterior brasileiro] pode se complicar", diz Almeida.
O economista lembra que, entre 1996 e 2001, esses produtos que hoje são os destaques da balança comercial brasileira tiveram um crescimento negativo nas exportações mundiais.
Para escapar dessa armadilha, a solução óbvia é investir em setores de maior grau tecnológico, como químicos e farmacêuticos, que ainda tem pouca expressividade na balança brasileira.
Além disso, o diretor do Iedi afirma que, por causa do câmbio, o Brasil pode perder dinamismo nos setores que, recentemente, têm agregado valor tecnológico às exportações: complexo automotivo e bens de capital.

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