São Paulo, terça-feira, 02 de agosto de 2005

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LUÍS NASSIF

Bastidores da eleição do BID

O bid (Banco Interamericano de Desenvolvimento) foi criado no bojo da OPA (Operação Pan-Americana), uma invenção do poeta e empresário Augusto Frederico Schmidt, encampada por Juscelino Kubitschek.
Em quase meio século de história, o BID só teve três presidentes. O quarto poderia ter sido João Sayad, ex-ministro do Planejamento do Brasil. Era o nome mais adequado para o cargo, na visão da burocracia do banco, do seu Conselho de Governadores e, ao que tudo indica, da Secretaria do Tesouro dos Estados Unidos.
Foi derrotado por Luis Alberto Moreno, que não entende de finanças, não tem currículo de banqueiro, com exceção de uma desastrosa passagem pelo Banco Pacifico, do México, do qual resultou um processo por fraude bancária e sonegação de impostos. Essa foi a razão de o Ministério das Finanças do México ter divulgado nota em 8 de julho em que negou o apoio a Moreno e, depois, voltado atrás, humilhado pela diplomacia norte-americana. Em todos os momentos da votação, esteve clara a pressão da Casa Branca, que aliciou os países-pedintes do Caribe e contou, por aqui, com a adesão do Paraguai.
Moreno é embaixador da Colômbia em Washington desde 1999. Nascido em Filadélfia (Pensilvânia) há 52 anos, é considerado mais americano do que colombiano. Em Washington, é tratado como um agente dos interesses dos Estados Unidos, espécie de Pierre Laval latino-americano. É figura manjada no circuito social de Washington, onde brilha com o apoio da segunda mulher, a socialite venezuelana Gabriela Febres Cordero.
Foi um dos articuladores do Plano Colômbia, projeto geopolítico que praticamente conferiu aos Estados Unidos o controle da política, da economia e das Forças Armadas do país latino-americano, para combate ao narcotráfico.
Ao fim do governo de Ernesto Samper, a Colômbia estava quase rompida com os Estados Unidos. Coube a ele ser o instrumento de reaproximação, que se tornou umbilical ao fim do governo de Andrés Pastrana e que se consolidou no atual governo de Álvaro Uribe -depois de US$ 4 bilhões de ajuda, principalmente militar.
Moreno era um executivo da TV da família Pastrana. Nesse ambiente, conheceu sua primeira mulher, Adriana Foglia, produtora da rede norte-americana de TV NBC.
Na Presidência Pastrana, ela foi convocada para chefiar a Secretaria de Imprensa do Governo colombiano. Foi esse esforço de mídia que convenceu o Congresso americano a aprovar o Plano Colômbia, o pacto de satelização da Colômbia pelos Estados Unidos.
Observadores com contato direto com o Departamento de Estado dos EUA julgam precipitação atribuir ao Itamaraty o fracasso da candidatura Sayad. Segundo eles, nem o Barão do Rio Branco conseguiria inverter o peso hegemônico dos Estados Unidos.
O voto em Sayad de países de peso na América Latina, como o Chile e a Argentina (que, com o Brasil, tem a maior participação no capital entre os latino-americanos), além de europeus importantes, como a França, demonstra o desconforto com a solução Moreno, um latino-americano de fachada.

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