São Paulo, sábado, 02 de agosto de 2008

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Brasil cedeu rápido na OMC, afirma negociador argentino

Às vésperas da visita de Lula, secretário critica atuação brasileira na Rodada Doha

Para Alfredo Chiaradía, país agiu de forma autônoma durante negociações em Genebra e não representou interesse dos demais países


ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES

O Brasil cedeu muito rápido às pressões dos poderosos na Rodada Doha e agiu autonomamente, sem representar outros países. Após o fracasso das negociações em Genebra, Brasil e Argentina não assumem os atritos gerados pelas divergências bilaterais, mas opiniões como a acima, expressada pelo secretário de Relações Econômicas Internacionais, Alfredo Chiaradía, principal negociador argentino na OMC, mostram que há feridas na relação, às vésperas da visita do presidente Lula ao país.
"Quando se negocia, é preciso estar preparado para dizer não. Se alguém entra numa negociação e não está preparado para sair sem um acordo, implica que está pronto para concordar com as exigências dos que têm maior força", disse Chiaradía. Ao ser indagado sobre se se referia ao Brasil, disse apenas: "Vocês podem deduzir". Ao aceitar a proposta da OMC para desbloquear as negociações, o Brasil teria deixado de lado aliados tradicionais, como a Argentina, que pedia mais proteção para suas indústrias.
Em entrevista à imprensa local e estrangeira, Chiaradía se negou a usar o termo traição e disse que, entre sócios, as dificuldades sempre se superam. Mas assumiu que houve, sim, "tensão" e que a Argentina já sabia que o Brasil estava "mais predisposto" a aceitar a proposta dos países mais ricos, mas que não esperava que "isso iria se cristalizar tão rápido".
"Não havia uma posição comum, mas podia se haver tentado um pouco mais."
Ele afirmou que o Mercosul quase foi atropelado em Doha. "É bom quase ser atropelado. Aí, cada vez que você cruzar a rua, vai prestar mais atenção. É bom para que aprendamos no futuro a ter harmonia, a negociar com uma só voz."

Visita de Lula
Dispersar as tensões de Doha e buscar uma só voz vão ser o desafio da visita de Lula, que chega amanhã à Argentina e começa a sondar o vizinho sobre a retomada de negociações do Mercosul com outros blocos e países. Para mostrar boa vontade, Lula chega com uma missão de 240 empresários, representantes do BNDES e a promessa de investimentos no país e de ajuda para a companhia aérea Aerolíneas Argentinas, recém-estatizada e em crise.
Os dois presidentes jantam juntos amanhã e, na segunda, participam da abertura de um seminário empresarial entre os dois países e de uma reunião para tratar de temas bilaterais.
Para a presidente argentina, Cristina Kirchner, não é pouco. Após enfrentar uma crise de quatro meses com o setor agropecuário, ela viu ser derrubado no Senado seu projeto que previa um aumento de impostos às exportações de grãos.
Durante o conflito, houve panelaços e bloqueios de estradas e a popularidade da presidente caiu para cerca de 20%, enquanto Lula foi apontado por uma pesquisa local como o mandatário que tem melhor imagem entre os argentinos.
Para mostrar apoio a Cristina Kirchner, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, anunciou de última hora que também virá ao país na segunda-feira para uma reunião trilateral entre os presidentes, ainda não confirmada oficialmente.


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