São Paulo, quarta-feira, 02 de outubro de 2002

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Lojas partem para o "matar ou morrer"

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O varejo e a indústria precisam sentar na mesa de negociação agora e decidir o que fazer: fechar de forma antecipada os contratos de mercadorias que serão entregues no início de 2003, quando assume o novo governo, ou deixar para fechar no prazo normal. É o que o mercado tem classificado como operação "matar ou morrer". As empresas estão decidindo isso agora, mas há grupos querendo antecipar a operação.
Se fecharem acordos para a entrega de importados no prazo habitual, as lojas vão ter de pagar o preço que a moeda americana estiver valendo em 2003 -o que embute um risco na operação caso o dólar siga em escalada.
Se as redes ficam com a segunda opção e fecham contratos antecipadamente, compram o produto com o dólar de hoje, a R$ 3,60. Mas só pagam quando a encomenda chega ao país -o que também é arriscado, já que ninguém sabe qual será o valor do dólar quando a mercadoria, para venda no primeiro trimestre de 2003, for entregue. A saída: fazer hedge -comprar dólares e guardar no caixa para fazer o pagamento do negócio-, o que é um mecanismo caro de proteção cambial. Ou seja, nesse caso, as saídas são parte do problema.
O Carrefour, por exemplo, está traçando a estratégia agora. Há a possibilidade de a rede antecipar as negociações de entrega de importados (que são vendidos no primeiro trimestre), de novembro e dezembro para outubro. Isso caso acredite que a moeda subirá. A empresa ainda não bateu o martelo.
A rede já antecipou em junho as compras natalinas e negociou, na época, a cotação das mercadorias que serão vendidas em dezembro. Fechou contratos com dólar a R$ 2,40, em média.
Isso funciona da seguinte forma: o varejo chama as empresas e "trava" os pedidos segundo o Ptax (preço médio do dólar, medido diariamente pelo BC). Se o dólar tiver disparado no momento da entrega do produto, a rede ganha -pois pagou o valor mais baixo. Se a moeda desaba, a companhia perde dinheiro.
Para evitar muitas perdas, o Carrefour, por exemplo, fez hedge. Com dólares em caixa, não precisará recorrer ao mercado na hora de pagar os importados.
"Agora temos de apostar em algo. Estamos preparando a estratégia para o primeiro trimestre para ver como fecharemos os contratos", diz Luis Carlos Costa, diretor de mercadorias do Carrefour.

Gatilho às avessas
O Pão de Açúcar, concorrente direto do Carrefour, também já montou sua estratégia. Criou um "gatilho" de preços às avessas.
A rede negociou com importadores a entrega de itens com base no dólar atual, ou seja, numa cotação elevada. Se o negócio for fechado e o valor da moeda cair, os fornecedores precisarão, entretanto, reduzir seus preços de acordo com a queda na cotação da moeda americana.


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