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COMÉRCIO
Ministro discursa em NY
Protecionismo dos EUA é "vergonha", diz Malan
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
Num discurso feito ontem à tarde em Nova York que não escondia o clima de despedida de governo, o ministro da Fazenda, Pedro Malan, chamou o atual protecionismo norte-americano no setor siderúrgico de "uma vergonha".
Não foi o único ataque aos Estados Unidos numa fala mais crítica
do que o habitual. Em outro momento, o ministro afirmou que
dizer que a dívida externa brasileira é inadministrável é "uma bobagem" e que os que estão interessados no Brasil de verdade não
deviam ficar "repetindo os mantras do momento".
O ministro atacou a também
proposta do Departamento do
Tesouro dos Estados Unidos,
apoiada pelo G-7, que diz respeito
às chamadas Cláusulas de Ação
Coletiva (CAC) dos contratos de
emissão de títulos numa renegociação, que garantem que, se a
maioria dos credores concordar
com a revisão dos termos originais da dívida contratada, todos
os detentores daqueles papéis são
obrigados a aceitar a mudança.
Sem reestruturação
"Não faz sentido no momento
atual ter uma iniciativa oficial sobre reestruturação de dívida soberana", disse Malan. "Neste momento, marcado por um profundo processo de aversão a risco, de
retração, isso pode contribuir para uma retração ainda maior e elevação de custos."
Para ele, no entanto, o ponto
central na cabeça do mercado deve ser sempre o de que o Brasil
não tem necessidade de reestruturar sua dívida. "Nem dívida externa pública, nem externa privada, nem doméstica, isso é o que
importa no momento", afirmou.
Malan concluiu na cidade o périplo, para acalmar os mercados
internacionais, que realiza desde
o começo da semana nos Estados
Unidos ao lado do presidente do
Banco Central, Armínio Fraga,
que ficou em Washington.
Seu discurso foi feito a convite
do Conselho das Américas e reuniu na platéia em Manhattan acadêmicos e representantes de investidores estrangeiros e de instituições como Citibank, Goldman
Sachs e JP Morgan.
Charles Dickens
Durante sua fala, o ministro atacou indiretamente o Partido dos
Trabalhadores, o candidato petista à Presidência da República,
Luiz Inácio Lula da Silva, e as administrações petistas em geral,
evitando citar nomes ou situações
específicas.
Evitou também, mais uma vez,
citar nominalmente o candidato
governista, José Serra (PSDB), em
segundo lugar atualmente nas
pesquisas de opinião. "Todos sabem que eu tenho o meu candidato, mas não estou aqui para fazer
campanha", disse.
Malan abriu sua participação citando "Um Conto de Duas Cidades", do romancista inglês Charles Dickens (1812-1870), dizendo
que este é o melhor dos tempos e
o pior dos tempos. Terminou reforçando o tom de despedida ao
dizer à platéia, sorrindo: "Mantenham contato".
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