São Paulo, quarta-feira, 02 de outubro de 2002

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COMÉRCIO

Ministro discursa em NY

Protecionismo dos EUA é "vergonha", diz Malan

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

Num discurso feito ontem à tarde em Nova York que não escondia o clima de despedida de governo, o ministro da Fazenda, Pedro Malan, chamou o atual protecionismo norte-americano no setor siderúrgico de "uma vergonha".
Não foi o único ataque aos Estados Unidos numa fala mais crítica do que o habitual. Em outro momento, o ministro afirmou que dizer que a dívida externa brasileira é inadministrável é "uma bobagem" e que os que estão interessados no Brasil de verdade não deviam ficar "repetindo os mantras do momento".
O ministro atacou a também proposta do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, apoiada pelo G-7, que diz respeito às chamadas Cláusulas de Ação Coletiva (CAC) dos contratos de emissão de títulos numa renegociação, que garantem que, se a maioria dos credores concordar com a revisão dos termos originais da dívida contratada, todos os detentores daqueles papéis são obrigados a aceitar a mudança.

Sem reestruturação
"Não faz sentido no momento atual ter uma iniciativa oficial sobre reestruturação de dívida soberana", disse Malan. "Neste momento, marcado por um profundo processo de aversão a risco, de retração, isso pode contribuir para uma retração ainda maior e elevação de custos."
Para ele, no entanto, o ponto central na cabeça do mercado deve ser sempre o de que o Brasil não tem necessidade de reestruturar sua dívida. "Nem dívida externa pública, nem externa privada, nem doméstica, isso é o que importa no momento", afirmou.
Malan concluiu na cidade o périplo, para acalmar os mercados internacionais, que realiza desde o começo da semana nos Estados Unidos ao lado do presidente do Banco Central, Armínio Fraga, que ficou em Washington.
Seu discurso foi feito a convite do Conselho das Américas e reuniu na platéia em Manhattan acadêmicos e representantes de investidores estrangeiros e de instituições como Citibank, Goldman Sachs e JP Morgan.

Charles Dickens
Durante sua fala, o ministro atacou indiretamente o Partido dos Trabalhadores, o candidato petista à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e as administrações petistas em geral, evitando citar nomes ou situações específicas.
Evitou também, mais uma vez, citar nominalmente o candidato governista, José Serra (PSDB), em segundo lugar atualmente nas pesquisas de opinião. "Todos sabem que eu tenho o meu candidato, mas não estou aqui para fazer campanha", disse.
Malan abriu sua participação citando "Um Conto de Duas Cidades", do romancista inglês Charles Dickens (1812-1870), dizendo que este é o melhor dos tempos e o pior dos tempos. Terminou reforçando o tom de despedida ao dizer à platéia, sorrindo: "Mantenham contato".


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