São Paulo, domingo, 02 de outubro de 2005

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NOVO FÔLEGO

Período mais longo de crescimento permite às classes C, D e E incluir produtos supérfluos em sua "cesta básica"

Alta do PIB melhora padrão de consumo

ADRIANA MATTOS
MARCELO BILLI

DA REPORTAGEM LOCAL

Os brasileiros vão mais às compras. Não só o número de consumidores para determinados produtos subiu como quem já comprava passou a adquirir mais. Nos lares em que a renda aumentou, cresceu a procura por mercadorias mais sofisticadas.
A mudança no padrão de consumo das famílias começou em 2004, avançou neste ano e, se tropeços na economia não atrapalharem, continua em 2006.
A redução do desemprego, ainda que lenta, o aumento do poder de compra e o maior acesso ao crédito trouxeram mais famílias para o mercado consumidor. "O cenário positivo desloca toda a pirâmide de renda. Entram mais pessoas na base, e quem já tinha rendimentos tenta sofisticar o consumo", diz Richard Dubois, sócio da PDO Trevisan.
No ano passado, 2,2 milhões de famílias das classes D e E voltaram a incluir produtos mais sofisticados em sua lista de compras nos supermercados. Fazem parte desse estrato de renda 40% dos domicílios brasileiros. A tendência continuou neste ano. De outubro de 2004 a março de 2005, 1,5 milhão de lares, de todas as classes sociais, entrou para o grupo dos que adicionaram novos produtos às suas cestas de consumo.
As estimativas são da LatinPanel, que entrevista, todos os meses, 33 mil famílias para vasculhar as despensas e os orçamentos dos brasileiros. A pesquisa divide o consumidor por estrato de renda. Segundo a metodologia da consultoria, nas classes D e E estão os lares com renda de até R$ 1.200. Na classe C, os domicílios com renda entre R$ 1.200 e R$ 3.000. Fazem parte da A e B as famílias com renda superior a R$ 3.000.

Alimentos e limpeza
Fatima Merlin, gerente de varejo da LatinPanel, diz que, entre o início de 2004 e meados deste ano, o gasto das famílias com produtos que já eram consumidos regularmente aumentou 12%. Ela se refere às compras de alimentos, itens de higiene e limpeza e perfumaria. "Nessa conta, não estão os novos produtos que ganharam espaço com a melhora da economia."
A "sofisticação" do consumo pode ser notada pelo aumento do número de produtos que fazem parte do carrinho de compras. De outubro de 2004 a março de 2005, nas classes D e E, o número de itens da cesta passou de 28 unidades para 49. Na C, foram adicionados 16 produtos, e, nas classes A e B, 9, informa a LatinPanel.
Não foi só no supermercado que o consumo reagiu e se diversificou. "As pessoas querem externalizar o aumento de renda. Isso ocorre de formas distintas, de acordo com a classe social. Em termos gerais, nos últimos meses, podemos listar três linhas de produto: roupa para as classes de renda mais baixa, celulares para os estratos médios e veículos, no caso do topo da pirâmide", comenta Dubois, da Trevisan.

Efeito renda e emprego
A renda cresceu, mas nem tanto. De fato, de agosto de 2004 a agosto último, o aumento real dos rendimentos foi de só 3,7%. Mas, no mesmo período, o acesso ao crédito ajudou a vitaminar o consumo. Como resultado, as vendas de móveis e eletrodomésticos explodem desde o final de 2003. De janeiro de 2004 a julho deste ano, as compras subiram quase 40%, de acordo com a pesquisa de comércio do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Apesar de tímidos, os ganhos de renda, associados à estabilidade de preços, com queda no valor de parte dos itens, criaram um excedente financeiro que acabou sendo destinado a gastos extras que mudaram os hábitos de consumo. "O que vemos agora, no caso do consumo mais popular, é a migração dentro da mesma categoria de produtos, do arroz de menor para o de melhor qualidade, por exemplo", diz Sussumu Honda, presidente da Apas (Associação Paulista de Supermercados). A tendência, diz ele, continua no próximo ano e só recua caso surja uma crise que volte a corroer a renda e o emprego.
Guardadas as proporções, diz Sérgio Oliveira, diretor da AT Kearney, 2006 seria similar aos primeiros anos do Real. "Os consumidores, no entanto, estão mais cautelosos. Eles compram "melhor". Não deve haver aquela explosão que acabou, quando invertida, levando a frustração geral."
"Esperamos um Natal de 2005 relativamente bom, com reflexos positivos em 2006. Há uma ajuda do dólar, com a compra de produtos mais baratos, e ainda haverá os ganhos com os reajustes salariais reais neste ano", disse Hugo Bethlem, diretor-executivo do CompreBem e Sendas, do grupo Pão de Açúcar.


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