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NOVO FÔLEGO
Período mais longo de crescimento permite às classes C, D e E incluir produtos supérfluos em sua "cesta básica"
Alta do PIB melhora padrão de consumo
ADRIANA MATTOS
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Os brasileiros vão mais às compras. Não só o número de consumidores para determinados produtos subiu como quem já comprava passou a adquirir mais. Nos
lares em que a renda aumentou,
cresceu a procura por mercadorias mais sofisticadas.
A mudança no padrão de consumo das famílias começou em
2004, avançou neste ano e, se tropeços na economia não atrapalharem, continua em 2006.
A redução do desemprego, ainda que lenta, o aumento do poder
de compra e o maior acesso ao
crédito trouxeram mais famílias
para o mercado consumidor. "O
cenário positivo desloca toda a pirâmide de renda. Entram mais
pessoas na base, e quem já tinha
rendimentos tenta sofisticar o
consumo", diz Richard Dubois,
sócio da PDO Trevisan.
No ano passado, 2,2 milhões de
famílias das classes D e E voltaram
a incluir produtos mais sofisticados em sua lista de compras nos
supermercados. Fazem parte desse estrato de renda 40% dos domicílios brasileiros. A tendência
continuou neste ano. De outubro
de 2004 a março de 2005, 1,5 milhão de lares, de todas as classes
sociais, entrou para o grupo dos
que adicionaram novos produtos
às suas cestas de consumo.
As estimativas são da LatinPanel, que entrevista, todos os meses, 33 mil famílias para vasculhar
as despensas e os orçamentos dos
brasileiros. A pesquisa divide o
consumidor por estrato de renda.
Segundo a metodologia da consultoria, nas classes D e E estão os
lares com renda de até R$ 1.200.
Na classe C, os domicílios com
renda entre R$ 1.200 e R$ 3.000.
Fazem parte da A e B as famílias
com renda superior a R$ 3.000.
Alimentos e limpeza
Fatima Merlin, gerente de varejo da LatinPanel, diz que, entre o
início de 2004 e meados deste ano,
o gasto das famílias com produtos
que já eram consumidos regularmente aumentou 12%. Ela se refere às compras de alimentos, itens
de higiene e limpeza e perfumaria.
"Nessa conta, não estão os novos
produtos que ganharam espaço
com a melhora da economia."
A "sofisticação" do consumo
pode ser notada pelo aumento do
número de produtos que fazem
parte do carrinho de compras. De
outubro de 2004 a março de 2005,
nas classes D e E, o número de
itens da cesta passou de 28 unidades para 49. Na C, foram adicionados 16 produtos, e, nas classes
A e B, 9, informa a LatinPanel.
Não foi só no supermercado
que o consumo reagiu e se diversificou. "As pessoas querem externalizar o aumento de renda. Isso ocorre de formas distintas, de
acordo com a classe social. Em
termos gerais, nos últimos meses,
podemos listar três linhas de produto: roupa para as classes de renda mais baixa, celulares para os
estratos médios e veículos, no caso do topo da pirâmide", comenta
Dubois, da Trevisan.
Efeito renda e emprego
A renda cresceu, mas nem tanto. De fato, de agosto de 2004 a
agosto último, o aumento real dos
rendimentos foi de só 3,7%. Mas,
no mesmo período, o acesso ao
crédito ajudou a vitaminar o consumo. Como resultado, as vendas
de móveis e eletrodomésticos explodem desde o final de 2003. De
janeiro de 2004 a julho deste ano,
as compras subiram quase 40%,
de acordo com a pesquisa de comércio do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Apesar de tímidos, os ganhos de
renda, associados à estabilidade
de preços, com queda no valor de
parte dos itens, criaram um excedente financeiro que acabou sendo destinado a gastos extras que
mudaram os hábitos de consumo.
"O que vemos agora, no caso do
consumo mais popular, é a migração dentro da mesma categoria de produtos, do arroz de menor para o de melhor qualidade,
por exemplo", diz Sussumu Honda, presidente da Apas (Associação Paulista de Supermercados).
A tendência, diz ele, continua no
próximo ano e só recua caso surja
uma crise que volte a corroer a
renda e o emprego.
Guardadas as proporções, diz
Sérgio Oliveira, diretor da AT
Kearney, 2006 seria similar aos
primeiros anos do Real. "Os consumidores, no entanto, estão mais
cautelosos. Eles compram "melhor". Não deve haver aquela explosão que acabou, quando invertida, levando a frustração geral."
"Esperamos um Natal de 2005
relativamente bom, com reflexos
positivos em 2006. Há uma ajuda
do dólar, com a compra de produtos mais baratos, e ainda haverá os ganhos com os reajustes salariais reais neste ano", disse Hugo Bethlem, diretor-executivo do
CompreBem e Sendas, do grupo
Pão de Açúcar.
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