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SINDICALISMO DE RESULTADOS
Companhias pagam até 14% da folha de pagamentos para sindicato "adiar" data-base
Força leva taxa, empresa não paga imposto
DA REPORTAGEM LOCAL
O sindicalismo brasileiro é
questionado não só nas categorias
menos organizadas do país, mas
também entre os que têm maior
poder de negociação. Os acordos
que vêm sendo feitos há três anos
pelos metalúrgicos de São Paulo,
ligados à Força Sindical, por
exemplo, viraram polêmica no
meio sindical, empresarial e judicial. O ponto mais controverso é a
negociação de taxas para sustentar os sindicatos em troca de ganhos fiscais para os empresários.
A CUT acusa a Força de vender
direitos trabalhistas, como adiar a
aplicação de reajustes salariais
por dois meses, por dinheiro. Cita, por exemplo, acordos feitos
entre o Sindipeças, sindicato que
reúne as indústrias de autopeças,
e o Sindicato dos Metalúrgicos de
São Paulo, ligado à Força.
Pelo acordo feito neste mês, a
data-base da categoria, que é 1º de
novembro, foi transferida, na prática, para 1º de janeiro. Em troca,
os trabalhadores recebem abono
de 21% neste mês e dezembro em
vez de ter os salários corrigidos
por 8,16% (percentual de reposição do INPC acumulado em um
ano) desde novembro.
Como nos abonos não há encargos trabalhistas, as empresas ganham: não aplicam o reajuste salarial no 13º, nas férias, nos salários, nem no FGTS. E o sindicato
também lucra: recolhe das empresas uma contribuição de 14%
sobre a folha de pagamento para
seus cofres. Nos casos de acordos
com as federações de trabalhadores da Força, esse percentual chega a 15% -sendo 12% para os
sindicatos e 3% para a entidade.
Assembléia aprova
"O trabalhador perde no recolhimento para o FGTS e para o
INSS, dependendo do salário,
com esse tipo de acordo. As empresas ganham porque se apossaram de uma parte do dinheiro do
empregado e do governo, e o sindicato ganha arrecadação da taxa", diz José Lopez Feijóo, secretário-geral do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, ligado à CUT.
O presidente do Sindicato dos
Metalúrgicos de São Paulo, Ramiro de Jesus Pinto, diz que o acordo
foi aprovado em assembléia pelos
trabalhadores e tem o aval dos
sindicatos patronais, portanto,
não pode ser contestado.
No ano passado, foram recolhidos R$ 8 milhões com essa taxa.
Segundo a entidade, esse dinheiro
é usado em programas para requalificação profissional.
"As empresas aceitaram e os
trabalhadores também. Não tem
nada de ilegal nisso. O que legitima um acordo é a assembléia de
trabalhadores. Se eles aprovaram,
é porque estão satisfeitos", diz
Drausio Rangel, negociador trabalhista do Sindipeças.
"Nós procuramos meios para
ajudar os sindicatos a arrecadarem dinheiro. O que repassamos
ao sindicato é a economia que fazemos com os encargos", afirma o
empresário.
Taxas
Hoje, há quatro tipo de taxas
sindicais cobradas dos trabalhadores: contribuição sindical (antigo imposto sindical que as empresas recolhem para os sindicatos e
equivale a um dia de trabalho),
contribuição confederativa (prevista na Constituição), taxa assistencial (cobrada pelos serviços
que os sindicatos oferecem aos
sócios e geralmente é negociada
na data-base) e a mensalidade que
os associados pagam para as entidades sindicais.
Há uma grande discussão jurídica em torno da cobrança dessa
taxa negocial. Advogados trabalhistas ouvidos pela Folha consideram que ela é irregular ou no
mínimo questionável do ponto de
vista ético.
"Entendemos que a cobrança
dessa taxa [negocial] não é adequada. Pode configurar em financiamento do sindicato pela empresa", afirma o professor e advogado trabalhista Amauri Mascaro
Nascimento.
Para alguns especialistas da área
trabalhista , se os trabalhadores
recorrerem à Justiça do Trabalho
podem ter chance de recuperar os
reajustes que não foram aplicados
aos salários a partir da data-base
da categoria.
(FÁTIMA FERNANDES E CLAUDIA ROLLI)
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