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ANÁLISE
Exuberância americana, afinal, não era tão exuberante assim
FLOYD NORRIS
DO "THE NEW YORK TIMES"
O final da década de 1990 foi
um período maravilhoso
nos Estados Unidos, em que as estatísticas econômicas anunciavam uma nova era e as Bolsas de
Valores confirmavam a profecia.
As estatísticas das Bolsas estão
aprisionadas no passado. Ninguém poderá contestar que a Nasdaq teve uma alta de 86% em
1999. São números que não passam por revisão.
Mas as estatísticas econômicas
são revisadas, e muitas delas estão
passando pelo processo hoje em
dia. O governo já havia concluído
que os lucros das empresas e os
ganhos de produtividade nem de
longe foram tão bons quanto pareciam em 1999 e 2000. E, agora,
após uma revisão, as estatísticas
da produção industrial foram seriamente reduzidas.
"Os novos números mostram
que a produção industrial foi superestimada de maneira dramática, especialmente na área de alta
tecnologia", diz John Vail, estrategista-chefe da Fuji Futures, empresa especializada em mercados
financeiros futuros sediada em
Chicago. O Fed (banco central
dos EUA), ao anunciar as alterações, declarou que "as novas estimativas mostram ganhos inferiores na produção de semicondutores, computadores e periféricos".
É certo que houve um "boom"
nesses setores, mas não foi tão
grande quanto se imaginava. E a
produção nessas áreas vem caindo mais rápido do que se acreditava originalmente. "Boa parte
das razões para o entusiasmo
quanto ao crescimento da produtividade no admirável mundo novo desapareceu", diz Robert Barbera, economista-chefe da Hoenig Securities.
Isso é importante para compreender a economia dos últimos
anos e para mapear o futuro econômico. Mas, no momento, provavelmente não é um dado importante para os mercados financeiros. As atitudes dos investidores e consumidores foram definidas pelas suas percepções quanto
ao final dos anos 90, e suas lembranças envolvem a mais longa
expansão econômica na história
dos EUA. Não foi tão boa quanto
acreditávamos, mas foi boa mesmo assim.
O resultado parece ser uma dicotomia econômica ao estilo
"quem, eu, me preocupar?". Os
empregos continuam a desaparecer rapidamente, com mais gente
recebendo benefícios por desemprego hoje do que em qualquer
período posterior à recessão de
1982-83. O número de pessoas cobertas por esses benefícios aumentou em mais de 70% ao longo
do ano passado, um ritmo jamais
visto desde a brutal recessão de
1973-75. Os classificados de empregos caíram ao seu volume
mais baixo em 37 anos.
Mas muitos norte-americanos
parecem reagir a essas estatísticas
assim como reagem às notícias
sobre crianças famintas em alguns países do Terceiro Mundo:
isso é péssimo, mas não os atinge,
na verdade. Seus empregos estão
seguros, acreditam, e o mesmo
vale para seu futuro. O índice de
desemprego -5,4%- equivale à
metade do que existia em 1982. O
mais recente relatório do Conference Board quanto à confiança
dos consumidores demonstrou
que o número de pessoas que
acreditam que há empregos em
profusão ainda supera o de pessoas que acham que está difícil
conseguir trabalho.
Para alguns propósitos, a percepção é a realidade. Ainda que o
setor industrial da economia tenha sofrido, os consumidores se
mantiveram relativamente confiantes. Em uma recessão normal,
poucos se deixariam atrair por
descontos, mesmo que grandes,
nos preços dos automóveis. Agora, as vendas batem recordes, embora a preços que redundam em
déficit para as montadoras.
O mesmo otimismo provavelmente resultará em uma temporada de compras de Natal melhor
do que a maioria das pessoas esperava, e já ajudou o índice industrial médio Dow Jones a subir 19%
depois da baixa forçada pelos
atentados de setembro.
Talvez isso baste para pôr fim à
recessão no ano que vem. Mas, caso isso aconteça, a recuperação
talvez seja uma das mais débeis já
registradas, simplesmente porque
não haverá demanda de consumo
reprimida para alimentá-la.
O otimismo nascido do "boom"
do final dos anos 90 era exagerado, mas vai demorar até que investidores e consumidores se
convençam disso.
Tradução de Paulo Migliacci
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