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VIZINHO EM CRISE
Para evitar saques, pesos depositados em bancos devem ter conversão compulsória em moeda dos EUA
Argentina quer dolarização de depósitos
FABRICIO VIEIRA
DE BUENOS AIRES
Encurralado pela corrida dos
investidores para sacar dinheiro
dos bancos nos últimos dias, o governo argentino se viu obrigado a
tomar medidas drásticas para
frear o movimento, antes que o
sistema financeiro do país entrasse em colapso.
Na manhã de ontem, o governo
estava reunido para decidir os detalhes finais de um decreto, parcialmente divulgado pelos jornais
locais. Entre seus principais pontos estariam a dolarização dos depósitos bancários a prazo fixo, a
limitação a US$ 1.000 nos saques
mensais de todas as contas bancária e medidas adicionais para dificultar a saída de dinheiro do país.
Desde 1990, o sistema argentino
é baseado na conversibilidade
(um peso vale um dólar). Cerca de
72% dos depósitos argentinos estão dolarizados atualmente.
A intenção do governo é evitar
que os argentinos saquem pesos e
os convertam em dólar, para evitar os efeitos de uma eventual desvalorização. Por isso, mexe nos
depósitos fixos, dinheiro colocado nos bancos com resgate programado após um certo período
de tempo.
A princípio, as medidas durariam até que a operação de troca
da dívida externa (papéis existentes por outros, de prazo maior e
juros menores) estivesse concluída, o que deve demorar três meses, nas contas do ministro da
Economia, Domingo Cavallo.
A medida que limita os saques
não deve deixar congelados os recursos que as pessoas mantêm
nos bancos. Poderão ser utilizados cartões de débito -como os
usados em caixa eletrônico- ou
de crédito para ter acesso ao dinheiro atingido pelo limite dos saques. Isso obriga as pessoas a utilizarem mais o sistema bancário e
dá um controle maior para os
bancos sobre a movimentação
nas contas.
"A população deve estar tranquila. Tudo que fazemos é para
proteger os depósitos dos argentinos, preservar a conversibilidade
e para que a economia funcione
bem até que se conclua a reestruturação da dívida pública", disse
Cavallo.
Durante toda a tarde de sexta-feira, enquanto as taxas de juros
cobradas nos negócios entre os
bancos superavam os 700%
anuais e a retirada dos depósitos
bancários crescia a cada minuto,
os banqueiros ligavam desesperados para Cavallo para pedir uma
atitude mais dura do governo.
Estima-se que a perda de recursos dos depósitos bancários superou US$ 1 bilhão nos últimos dois
dias da semana. Pelos dados oficiais, que traz números do último
dia 28, os depósitos caíram para
US$ 72,44 bilhões. No ano, a desconfiança dos investidores no governo fez os depósitos perderem
mais de US$ 15 bilhões.
Na difícil decisão que o governo
De la Rúa se avizinhava em tomar,
a preocupação era encontrar uma
forma de manter os depósitos no
sistema financeiro, mas sem afetar o direito de propriedade, para
não piorar a imagem do governo.
No início da noite de sexta-feira,
o presidente Fernando de la Rúa
disse que estavam descartadas as
hipóteses de desvalorização do
peso, dolarização ou a renúncia
de qualquer ministro.
As decisões estavam sendo estudadas em longas reuniões durante toda a noite de sexta e a manhã
de ontem. Cavallo, o vice-ministro da Economia, Daniel Marx, o
presidente do Banco Central, Roque Maccarone, e o assessor jurídico do Ministério da Economia,
Horácio Liendo, discutiram a melhor forma de solucionar o problema imediato.
As medidas ainda não haviam
sido anunciadas até o fechamento
desta edição. A expectativa era
que Cavallo fizesse o anúncio até
o final da tarde de ontem ou hoje.
Marx teria sido o principal mentor das decisões. Já o presidente
do BC foi o que ficou mais insatisfeito com as medidas. Para ele, a
solução ideal seria a dolarização
da economia.
A dolarização dos depósitos a
prazo fixo será automática na
abertura dos negócios amanhã.
Segundo o governo, não haverá
feriado bancário.
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