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SALTO NO ESCURO
Desaquecimento da economia e metas de consumo de energia mais brandas levam a encalhe do equipamento
Crise "apaga" necessidade de gerador extra
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Quem correu para comprar geradores meses atrás, quando o
plano de racionamento foi anunciado, já se arrepende da compra.
Há fabricantes que tentam revender o produto, outros só usam o
equipamento em horário de pico.
Há quem ainda "torça" discretamente para que falte energia em
2002 -e com isso possa "justificar" o gasto com o maquinário.
"Comprei um gerador de 1.000
kVa e já tinha um de 750 kVa. Tive
que revender o novo porque vi
que não precisava mais. Está sobrando energia por aí", diz Pio
Gavazzi, diretor da Fiesp e presidente da Micromultec, fabricante
de itens para o setor eletrônico.
A montadora Mercedes Benz
tem utilizado seu gerador a diesel
novo, de 1.200 kVa, apenas em
horários de pico, ou seja, quando
o custo pago pela energia durante
o dia é muito alto -geralmente
entre as 17h30 e as 20h30.
"Até que não precisaria usar,
mas já que compramos, decidimos não deixá-lo parado", diz Jaime Marcandalli, responsável pela
área na companhia.
Um conjunto de fatores acabou
tornando o equipamento, disputado a tapas meses atrás, um investimento não tão fundamental.
Algumas companhias registraram forte queda nas vendas de junho até outubro -devido à retração no consumo- e, com isso,
gastou-se uma quantidade de eletricidade menor do que a prevista.
Setores como o eletroeletrônico,
automobilístico e metalurgia
-que sofreram forte desaquecimento- perceberam então que
não seria preciso preocupar-se
com a necessidade de atingir as
metas de consumo estipuladas
pelo governo.
Até porque a CGCEL (Câmara
de Gestão da Crise de Energia Elétrica) acabou afrouxando as regras de consumo definidas para
as indústrias. Se, em junho, as indústrias precisavam economizar
até 25% do que consumiam, em
novembro, a meta de corte tinha
sido revista para menos de 10%. O
que tornou ainda mais fácil o controle do consumo de eletricidade
por parte das empresas.
Cancelamentos
Vários cancelamentos para a
compra do equipamento foram
feitos em cima da hora, na tentativa de as empresas evitarem que o
negócio fosse finalizado. Razões
não faltaram para que as companhias desistissem da encomenda.
O preço do produto é alto -o
ágio disparou na época do anúncio do racionamento de energia
elétrica devido à grande procura.
O ágio chegou a alcançar 50% em
junho.
"Chegamos até a pedir um equipamento em junho e pagaríamos
R$ 70 mil por ele. Cancelamos
porque não achamos necessário",
disse Cláudio Delbianco, presidente do Sindicouro (Sindicato
das Indústrias de Curtimento,
Couros e Peles). "Não havia perspectiva de entrega e até foi melhor
cancelarmos mesmo. Agora sobra energia", diz.
Abrandamento
Desde ontem, consumidores residenciais e comerciais têm nova
meta no programa de redução de
energia elétrica do governo.
A meta de redução no consumo
de luz caiu para 5% no Norte, para
12% no Sudeste e para 17% no
Nordeste.
Nas regiões Sudeste e Nordeste,
as metas das cidades turísticas serão de 7% e 12%, respectivamente. Mas o governo ainda vai rever
as metas de municípios onde o
consumo no verão é muito superior ao do inverno. Há a possibilidade de não haver meta nesses lugares, como o Rio de Janeiro.
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