|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
INTERNET
Empresário, um dos pioneiros da rede no Brasil, cobrará R$ 350 anuais por serviço sofisticado de correio eletrônico
Mandic deixa iG para enviar e-mail caro
LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL
O sujeito é irrequieto, quase não
pára de falar ao celular e evita até
sentar quando trabalha. Mas
quem conhece o empresário e técnico em eletrônica Aleksandar
Mandic, 47, sabe que toda essa ansiedade contribuiu muito para o
avanço das telecomunicações no
Brasil. O empresário foi um dos
responsáveis pela popularização
da internet por aqui. Neste mês,
pretende novamente mexer com
o mercado, ao criar um serviço
inédito de e-mails pagos.
A empreitada surpreende justamente pelo momento de apatia
que se abateu sobre o setor, após a
quebradeira de meses atrás. Mas o
empresário parece não se assustar. Foi um dos responsáveis pela
introdução do sistema de BBS no
país, em 1990, com sua empresa
Mandic, que criava redes privadas
de computadores, e um dos primeiros a montar uma companhia
particular de acesso à internet.
Decidiu agora deixar uma das vice-presidências do provedor iG
para fornecer e-mails caros, caríssimos. O preço da assinatura
anual, somente para enviar mensagens, será superior a R$ 350.
Mas Mandic garante que sua
nova cartada dará certo. Segundo
ele, o mercado já se acomodou e
há espaço para quem quiser descobrir nichos de negócios. Na entrevista abaixo concedida à Folha,
o empresário explica como surgiu
a idéia de criar esse novo serviço
de e-mails, destinado à classe A.
Folha - Por que o sr. deixou o iG?
Aleksandar Mandic - É uma longa história. A idéia do iG foi do Nizan Guanaes, que chamou pessoas famosas para formar a empresa. Ele queria criar uma empresa de grifes. No início, a idéia
dele era usar a marca Mandic para
alguns serviços. Mas eu só tinha
direito de reavê-la em outubro de
2001, pois a havia licenciado por
dois anos para O Site. Acontece
que de janeiro para cá o iG passou
a ter outras prioridades, e a marca
Mandic deixou de ser interessante
para o portal. Só que ela tem credibilidade, e eu não podia deixar
escapar a oportunidade de recolocá-la no mercado. Sentei na mesa
com o Nizan e disse que tinha de
tocar o novo negócio. E não tinha
condições de trabalhar no iG e ao
mesmo tempo na nova Mandic.
São interesses antagônicos.
Folha - Como será a nova Mandic?
Mandic - Será uma empresa de
correio eletrônico. Vou cobrar
uma anuidade, acima de R$ 350,
para garantir o fornecimento de
um e-mail de alta qualidade. Muitos provedores de internet e e-mail, como o Hotmail, vendem os
dados dos seus clientes para empresas, que os utilizam para fazer
propaganda. Isso lota a caixa postal e é uma chateação para os
usuários. Na Mandic, vou garantir sigilo total dos dados dos nossos clientes. Isso será registrado
em cartório. O nosso usuário poderá ter acesso ao e-mails de qualquer lugar do Brasil. E, a partir de
março de 2002, de qualquer ponto
do mundo. Não precisará de provedor de internet nem nada do tipo. Bastará clicar no nosso discador e a ligação será destinada diretamente à caixa postal, que liberará os e-mails. É um serviço inédito no mundo, para pessoas que
precisam de segurança e agilidade
no recebimento de e-mails.
Folha - Por que não montar um
provedor e um portal que incluam
também esse serviço?
Mandic - Porque não tenho a
menor vocação para isso. Um
portal precisa ter notícia, e eu não
entendo de jornalismo. As empresas que têm vocação para isso
já estão aí: UOL, AOL, Agência
Estado, iG etc. Elas sabem administrar um portal, e eu não pretendo concorrer com eles. Não tenho vocação para isso.
Também não pretendo explorar
o mercado de provedor. Até vou
oferecer esse serviço para quem
quiser, mas vou cobrar muito caro. Caríssimo. Servirá apenas para
emergências. O provimento não
me interessa, pois as operadoras
de telecomunicações começam a
dominar o mercado. Muitos dos
provedores de hoje apenas autenticam o usuário, fornecendo a origem do acesso. Não vou ficar autenticando pessoas. Quero oferecer um serviço de e-mail de qualidade. Para isso, vou usar uma espécie de cadeia de revendas.
Folha - Como assim?
Mandic - Usarei os mesmos recursos de qualquer cadeia produtiva. Vou usar um esquema parecido com a relação que há entre
um fabricante e lojas. Vou vender
o meu serviço de e-mail a sites, como Livraria Cultura, Submarino e
Americanas. Eles terão autorização para vender o meu serviço pelo preço que quiserem. Quer dizer, vão concorrer entre si e comigo mesmo. E eu me comprometo
a cobrar o preço mais alto. A vantagem para eles será oferecer um
serviço diferenciado. Para mim,
ter uma rede de revendedores espalhada pelo país. Afinal, a marca
Mandic não é conhecida por várias pessoas. É bom lembrar que
80% do tráfego na internet é de e-mails. Ou seja, estou investindo
no principal negócio da rede.
Folha - O sr. está criando um serviço novo justamente em um momento em que as empresas de internet tentam só se manter vivas...
Mandic - Justamente após o
"timbum" da internet, não é mesmo? Da quebradeira geral. De fato, houve uma explosão de empresas do ramo em 2000 e em
poucos meses uma falência generalizada. O que ocorreu foi que as
empresas de internet queriam
crescer de qualquer maneira.
Criaram uma guerra de preços,
com a esperança de que a publicidade e as taxas de comissão sobre
as vendas das lojas virtuais sustentassem o negócio. O que não
tem ocorrido. Agora, vou virar o
jogo. Vou cobrar mais caro que
qualquer provedor para oferecer
o melhor serviço de e-mail. Nosso
usuário terá direito a poder guardar em sua caixa postal todos os e-mails que recebeu ao longo de um
ano, por exemplo. Aqueles que
forem deletados serão arquivados
durante 12 meses. Com isso, vamos atrair muita gente que já perdeu mensagens sem querer.
Folha - A net é um bom negócio?
Mandic - Sem dúvida é um bom
negócio para quem tiver boas
idéias. A internet vai continuar
crescendo, no Brasil e no mundo.
Mas será uma expansão lenta,
sem mais grandes sobressaltos,
como no passado. O Mandic Mail
é um nicho de mercado que descobri. Não existe nada parecido
no mundo. Mas é voltado para
usuários da classe A, dispostos a
pagar caro por um serviço de qualidade. Será quase uma butique
refinada. Um clube com sócios.
Vamos oferecer atrações especiais
para os usuários.
Folha - Quais?
Mandic - Queremos ser um clube
especial. Aliás, vamos aceitar apenas 50 mil usuários, a fim de não
perdermos qualidade no atendimento. Vamos oferecer aos nossos usuários a oportunidade de
andar de graça em um Porsche,
por exemplo, ou visitar uma fábrica de aviões no exterior. Teremos patrocinadores, como a Credicard Platinum, mas eles não farão nenhuma propaganda nos e-mails nem no site. Só nos eventos
especiais, inclusive torneios de
golfe. Evidentemente teremos de
sortear os usuários premiados,
pois é quase certo que vai ter muita gente disposta a andar de Porsche ou viajar para Seattle, nos
EUA, ou para a França.
Folha - O sr. procurou investidores para essa nova empreitada?
Mandic - Estou entrando sozinho nisso. Vou investir US$ 2 milhões no negócio e já gastei US$
300 mil com a contratação de
equipamentos terceirizados. Boa
parte do nosso serviço será realizada por terceiros. Terei só 15 funcionários. Coincidentemente, o
escritório da nova Mandic será na
mesma casa onde comecei com o
negócio de BBS, em 1990, em Pinheiros [zona oeste de SP". Descobri que o imóvel estava vago e já
o aluguei. Gastei muita grana na
reforma. Paciência.
Folha - A nova empresa deve entrar no azul em quanto tempo?
Mandic - O retorno será rápido.
Mesmo porque terei mais agilidade no trabalho. Não precisarei da
aprovação de investidores. Já em
2002 quero faturar R$ 12 milhões.
Em dois anos quero ter o retorno
total dos US$ 2 milhões.
Texto Anterior: Análise: Migração em massa seria excelente para a economia, mas é politicamente impossível Próximo Texto: Salto no escuro: Crise "apaga" necessidade de gerador extra Índice
|