São Paulo, quarta, 2 de dezembro de 1998

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TRABALHO
Assembléia nega autorização para sindicato do ABC negociar concessões em troca de garantia de emprego
Trabalhadores da Volks rejeitam acordo

ARTHUR PEREIRA FILHO
da Reportagem Local

Os trabalhadores da Volkswagen de São Bernardo rejeitaram a proposta de abrir mão do reajuste de salários e da PLR (Participação nos Lucros e Resultados) para evitar novas demissões e decidiram interromper as negociações com a montadora.
A decisão foi tomada ontem à tarde, durante assembléia que reuniu os funcionários dos três turnos -a fábrica do ABC tem cerca de 19 mil empregados - e quase lotou o estacionamento em frente a um dos portões de entrada.
A proposta foi apresentada por Luiz Marinho, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, filiado à CUT (Central Única dos Trabalhadores).
Marinho queria a autorização da assembléia para negociar o reajuste e a PLR com a empresa em troca da manutenção do emprego e da promessa de novos investimentos na fábrica. "Sem acordo, a Volkswagen vai demitir entre 6.000 e 7.000 pessoas", disse Marinho aos trabalhadores.
Em uma decisão bastante apertada, o pedido do sindicato foi rejeitado. Marinho chegou a ser vaiado por parte dos trabalhadores, que criticaram a maneira como foi encaminhada a votação.
A mesma proposta apresentada no ABC havia sido aprovada no período da manhã pelos trabalhadores da fábrica de Taubaté. "O resultado da votação aqui em São Bernardo foi uma surpresa", disse Marinho após a assembléia. O sindicalista afirmou que muitos trabalhadores estavam descontentes com a perspectiva de ficar sem reajuste este ano.
"Agora vamos comunicar à empresa que não há mais possibilidade de fazer um acordo e ver o que acontece. O risco é grande de a empresa começar a fazer demissões."
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté (CUT), Antonio Eduardo de Oliveira, disse que fazer acordo em separado "é possível, mas não interessante".
A Volkswagen propôs aos trabalhadores reduzir a semana de trabalho de cinco para quatro dias em 99. Em troca, suspenderia o pagamento do 13º, do abono de férias e da participação nos lucros, mas não faria novas demissões. A meta da empresa é fazer um corte de cerca de R$ 400 milhões nas despesas para enfrentar a queda de vendas.
O sindicato não aceita perder o 13º e o abono de férias, mas estava disposto a discutir o reajuste salarial a partir de 1º de novembro e a PLR. A assembléia de ontem negou autorização ao sindicato para negociar esses pontos.
A direção da Volkswagen não quis falar sobre a decisão tomada ontem pelos trabalhadores da fábrica do ABC.
A montadora tem cerca de 30 mil funcionários em todo o país. Sem acordo, o corte pode atingir 20% do efetivo.



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