São Paulo, domingo, 3 de janeiro de 1999

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ALIMENTOS
População reduz consumo de frutas e verduras e compra mais batatas e cebolas; venda de massas cresce 15%
Recessão muda hábitos alimentares no país

JOÃO BATISTA NATALI
da Reportagem Local

O desemprego e a recessão já chegaram à mesa do brasileiro. Mas sob a forma de mudança de hábitos alimentares, e não -ao menos por enquanto- como queda radical na nutrição.
Um dos sintomas de que isso já está ocorrendo pode ser encontrado no Ceagesp, o grande entreposto atacadista de São Paulo. Entre janeiro e novembro, caíram 8% as vendas de frutas e 6% as vendas de verduras.
Somados, os dois itens representam 28 mil toneladas a menos de alimentos em relação ao mesmo período do ano anterior.
Mas, para compensar e indiretamente também para impedir qualquer diagnóstico catastrofista, aumentou 10% a venda de batatas e cebolas. O que dá 19 mil toneladas a mais de comida.
Tudo indica, assim, que se come quase a mesma quantidade, mas de alimentos mais baratos. E com um detalhe importante: nada indica que a atual crise neutralizará os ganhos obtidos após o fim da inflação. Entre julho de 1994 e abril último, o Ceagesp "cresceu", em tonelagem, 340%.
² Padrão nacional
Algo muito parecido ocorre no plano nacional, em que as estatísticas mais atualizadas e confiáveis são feitas pela Abia (Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação).
A entidade estava fechando os números do ano passado registrando uma produção superior em só 0,5% à de 97.
Até meados de 97, quando da primeira crise financeira na Ásia, o crescimento era bem maior, ou de 3,5% sobre o ano anterior, segundo a Abia.
Entre janeiro e outubro de 1998, caiu a produção de laticínios, conservas e biscoitos.
Mas, no mesmo período, aumentou a produção de desidratados e congelados, massas e sorvetes.
Na visão da Abia, é possível distinguir duas etapas. Na primeira, entre 1996 e 1997, consolidou-se a mudança no perfil do consumo, por meio da incorporação ao mercado de faixas da população de menor renda. Foi quando cresceu 40% o consumo de iogurtes e biscoitos.
Na fase atual, entretanto, o consumidor mais pobre passa a recorrer aos chamados produtos de menor valor agregado, como massas e conservas vegetais.
² Massas
Exemplo disso é dado pela Abima -sindicato do macarrão-, que fechou o ano passado com 1 milhão de toneladas (15% a mais do que em 1997) e a previsão de crescer mais 10% em 1999.
Diante desse quadro, seria interessante indagar a razão de o mercado de alimentos registrar quedas relativamente modestas -apenas 0,71% em volume, segundo uma outra estatística, a da Federação do Comércio do Estado de São Paulo-, se comparadas à de emprego e à consequente diminuição da massa salarial.
Heron do Carmo, economista da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo), tem uma explicação: pode-se supor que, com a queda da demanda, a resposta do setor de alimentos é a queda nos preços praticados. Com isso, o consumo se mantém.
Segundo ele, uma família deixa de comprar um novo aparelho de TV ou atrasa o pagamento de um carnê do crediário antes de reduzir a despesa com alimentos.
² Impacto menor
É uma maneira de dizer que o PIB (Produto Interno Bruto, tudo o que é produzido no país) estagnado ou em recuo influencia bem menos o consumo de alimentos do que outros setores da economia.



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