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ALIMENTOS
População reduz consumo de frutas e verduras e compra mais batatas e cebolas; venda de massas cresce 15%
Recessão muda hábitos alimentares no país
JOÃO BATISTA NATALI
da Reportagem Local
O desemprego e a recessão já
chegaram à mesa do brasileiro.
Mas sob a forma de mudança de
hábitos alimentares, e não -ao
menos por enquanto- como queda radical na nutrição.
Um dos sintomas de que isso já
está ocorrendo pode ser encontrado no Ceagesp, o grande entreposto atacadista de São Paulo. Entre
janeiro e novembro, caíram 8% as
vendas de frutas e 6% as vendas de
verduras.
Somados, os dois itens representam 28 mil toneladas a menos de
alimentos em relação ao mesmo
período do ano anterior.
Mas, para compensar e indiretamente também para impedir qualquer diagnóstico catastrofista, aumentou 10% a venda de batatas e
cebolas. O que dá 19 mil toneladas
a mais de comida.
Tudo indica, assim, que se come
quase a mesma quantidade, mas
de alimentos mais baratos. E com
um detalhe importante: nada indica que a atual crise neutralizará os
ganhos obtidos após o fim da inflação. Entre julho de 1994 e abril último, o Ceagesp "cresceu", em tonelagem, 340%.
²
Padrão nacional
Algo muito parecido ocorre no
plano nacional, em que as estatísticas mais atualizadas e confiáveis
são feitas pela Abia (Associação
Brasileira das Indústrias da Alimentação).
A entidade estava fechando os
números do ano passado registrando uma produção superior em
só 0,5% à de 97.
Até meados de 97, quando da
primeira crise financeira na Ásia, o
crescimento era bem maior, ou de
3,5% sobre o ano anterior, segundo a Abia.
Entre janeiro e outubro de 1998,
caiu a produção de laticínios, conservas e biscoitos.
Mas, no mesmo período, aumentou a produção de desidratados e
congelados, massas e sorvetes.
Na visão da Abia, é possível distinguir duas etapas. Na primeira,
entre 1996 e 1997, consolidou-se a
mudança no perfil do consumo,
por meio da incorporação ao mercado de faixas da população de
menor renda. Foi quando cresceu
40% o consumo de iogurtes e biscoitos.
Na fase atual, entretanto, o consumidor mais pobre passa a recorrer aos chamados produtos de menor valor agregado, como massas e
conservas vegetais.
²
Massas
Exemplo disso é dado pela Abima -sindicato do macarrão-,
que fechou o ano passado com 1
milhão de toneladas (15% a mais
do que em 1997) e a previsão de
crescer mais 10% em 1999.
Diante desse quadro, seria interessante indagar a razão de o mercado de alimentos registrar quedas
relativamente modestas -apenas
0,71% em volume, segundo uma
outra estatística, a da Federação do
Comércio do Estado de São Paulo-, se comparadas à de emprego
e à consequente diminuição da
massa salarial.
Heron do Carmo, economista da
Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo), tem uma explicação: pode-se supor que, com a queda da demanda, a resposta do setor
de alimentos é a queda nos preços
praticados. Com isso, o consumo
se mantém.
Segundo ele, uma família deixa
de comprar um novo aparelho de
TV ou atrasa o pagamento de um
carnê do crediário antes de reduzir
a despesa com alimentos.
²
Impacto menor
É uma maneira de dizer que o
PIB (Produto Interno Bruto, tudo
o que é produzido no país) estagnado ou em recuo influencia bem
menos o consumo de alimentos do
que outros setores da economia.
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