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CONSUMIDOR
Segundo a ANS, 30% das administradoras enfrentam dificuldades
Debilidade financeira aflige e enfraquece planos de saúde
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
A análise das informações econômico-financeiras fornecidas
por 1.514 administradoras de planos de saúde à ANS (Agência Nacional de Saúde), no ano passado,
mostra que, até setembro, 314
operavam no vermelho. Outras
145 estavam com patrimônio líquido negativo.
Ou seja, 30% das administradoras de planos de saúde atravessavam dificuldades financeiras. Esses focos de infecção, em um setor
que fatura R$ 26,4 bilhões anuais,
recomendam cuidado aos usuários, que somam cerca de 34,5 milhões de pessoas no Brasil.
Segundo especialistas ouvidos
pela Folha, o quadro pode ficar
ainda pior com o fechamento dos
dados do último trimestre do ano
passado, que serão divulgados até
abril, devido ao impacto do câmbio que explodiu naquele período
elevando os custos do setor.
De setembro a dezembro, a cotação do dólar passou de R$ 3,286
para R$ 3,5333, uma valorização
de 16,7% no período.
Os balanços trimestrais das empresas já mostram que, quatro
anos depois das mudanças introduzidas pela lei 9.656/98 para sanear o setor e garantir o atendimento aos usuários, as administradoras continuam com dificuldades. Na semana retrasada, por
exemplo, a Unimed da cidade de
São Paulo teve decretada sua liquidação pela ANS.
"A qualidade dos serviços melhorou, mas a situação econômico-financeira das empresas piorou", admite Solange Beatriz Palheiro Mendes, diretora de normas e habilitação de operadoras
da ANS.
Segundo ela, a lei onerou as empresas, porque elas tiveram de
ampliar as coberturas dos planos
de saúde e investir na parte administrativa do negócio.
Lucro anêmico
As empresas, segundo a diretora da ANS, estão com lucro operacional (lucro obtido com a operação de venda) declinante e muitas
operam no zero a zero. O lucro,
quando aparece no final do balanço, é financeiro. Até setembro, a
rentabilidade média (lucro sobre
o patrimônio líquido) das operadoras, de acordo com a ANS, ficou em 3%.
Já as seguradoras -que representam apenas 13% do sistema
privado de saúde- tiveram rentabilidade melhor, de 9,6%.
Mas, segundo Walter Hime, diretor-executivo da Aon Risk Services Consulting, esse nível de lucratividade é insuficiente para remunerar o capital investido pelas
seguradoras.
Além disso, a melhor rentabilidade das seguradoras se deve, basicamente, a seus ganhos financeiros. Por lei, as seguradoras
sempre tiveram de fazer reservas
para garantir a prestação de serviços aos clientes.
Esses recursos são aplicados no
mercado financeiro e garantem às
seguradoras um retorno que o
resto do setor não tem.
Só no ano passado as demais
operadoras de planos de saúde
começaram a constituir reservas,
por exigência legal.
Diagnóstico complicado
Uma boa parte dos problemas
financeiros do setor, entretanto, é
anterior às mudanças exigidas pela nova legislação. As operadoras
de planos de saúde carregam dívidas pesadas, decorrentes de investimentos feitos em equipamentos, a maioria importados (e
que sobem de valor na medida em
que o dólar se valoriza).
Essa situação afeta principalmente as empresas de medicina
de grupo, que respondem pelo
atendimento de mais de 44% dos
usuários de planos de saúde.
Segundo Wagner Barbosa de
Castro, coordenador do departamento econômico da Abramge
(Associação Brasileira de Medicina de Grupo), em 2001, para cada
R$ 1 que tinham em caixa, as empresas deviam R$ 5. "No ano passado, com a disparada do câmbio,
essa situação piorou", diz.
Também debilitam a saúde das
operadoras as dívidas fiscais que
acumularam ao longo dos últimos anos.
Segundo Mendes, da ANS, na
maioria dos casos as empresas
que estão com patrimônio líquido
negativo encontram-se nessa situação devido aos débitos fiscais.
"As cooperativas, por exemplo,
não pagam o ISS [Imposto sobre
Serviços], alegando que são isentas. Muitas operadoras não recolhem impostos e outras estão no
Refis [programa de refinanciamento de dívidas com a Receita
Federal e o INSS]", diz ela.
Receita insuficiente
Mesmo com as receitas bilionárias que têm, as operadoras não
conseguem dar conta dos aumentos de custos. "A inflação do setor
é sempre mais elevada do que os
índices oficiais de inflação", diz
Mendes.
Um indicador da pressão de
custos, segundo ela, é o chamado
"índice de sinistralidade" do setor. Esse índice é calculado com
base nas receitas das empresas,
nos custos dos serviços e na frequência de uso desses serviços pelos usuários dos planos de saúde.
Esse índice saltou de 79%, em
1999, para 82% no ano passado.
Segundo Hime, para que as empresas possam remunerar o capital investido, o índice de sinistralidade teria de ser de no máximo
75%, que é o padrão internacional. "O sistema está todo errado.
Não satisfaz o consumidor nem o
médico e não remunera o acionista das empresas", diz ele.
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