Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Apagão" ameaça o setor, diz Barros
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Indicado por Fernando Henrique Cardoso para o cargo de diretor-geral da ANP (Agência Nacional do Petróleo), o embaixador
Sebastião do Rêgo Barros adota o
mesmo discurso da equipe do novo governo para o setor.
Defende, assim como o Ministério de Minas e Energia, liberdade
de preço e a criação de um mecanismo para amortecer reajustes.
Diz que as políticas devem ser definidas pelo ministério -e não
pelas agências.
Rêgo Barros afirma que o país
tem de investir em refino para evitar "um apagão de combustíveis"
em 2010. A Petrobras, diz, tem de
participar de projetos de refinarias, mesmo que isso represente
menos competição.
Folha - O sr. já teve contato com a
nova equipe do ministério?
Sebastião do Rêgo Barros - Estive
com a ministra [Dilma Rousseff]
e com o secretário-executivo
[Maurício Tolmasquim]. Tivemos um contato muito frutífero.
Folha - Quais os temas tratados?
Barros - Principalmente a quinta
rodada de licitações [de áreas de
exploração de petróleo], pois não
queremos realizá-la sem que haja
um claro aval do governo.
Folha - E sobre preço?
Barros - Não. A ANP tratou de
preço num momento específico.
É um tema muito mais do ministério e da própria Petrobras.
Folha - O sr. defende a continuidade da liberdade de preço, que no
ano passado foi "arranhada" pela
intervenção do governo nos preços
durante o período eleitoral?
Barros - Seria uma pena abandonar a política de liberdade de preço por causa da experiência difícil
do ano passado. Mas é preciso ter
um sistema de amortecimento. É
um setor que tem essencialidade
para o público, tem um produto
de alta volatilidade de preços internacionais e influência do câmbio. Sou a favor de uma parte dos
recursos da Cide [tributo sobre
combustíveis] ser usada para isso.
Folha - No governo FHC, o ministério deixou de planejar políticas, e
as agências assumiram esse papel,
que não é delas, segundo a visão do
PT. Isso representa uma enfraquecimento das agências?
Barros - Sou a favor de que questões de política sejam decididas
em nível ministerial. Isso reforça
as agências. Não enfraquece. Com
uma política clara, a agência, no
seu papel de fiscalização e regulamentação, terá mais segurança.
Folha - Como o sr. vê o fato, divulgado pela Folha, de que a ANP não
usava os dados de seu levantamento de preços para melhorar e orientar sua fiscalização?
Barros - Fazemos cruzamentos e
vamos fiscalizar postos com preços baixos [o que indicaria irregularidade]. Entre os dez postos do
Rio com os preços mais baixos,
oito foram alvos de 32 ações. Elas
resultaram em seis autuações, seis
notificações e uma interdição. Na
capital paulista, os [também oito,
de dez] que apresentaram preços
mais baixo tiveram 71 ações de
fiscalização em 2002, com 21 autuações, oito notificações e nove
interdições.
Folha - O sr. quer dizer, então,
que os postos cujos preços são menores são mais fiscalizados?
Barros - São, sim. Mas reconhecemos que temos limitações. Temos menos de 50 fiscais. Em 2002,
porém, aumentamos em 74% as
interdições de bombas e em 81%
as autuações de postos. Houve
um crescimento de 39% das ações
de fiscalização.
Folha - O sr. já tratou sobre a
questão do refino com a ministra?
Barros - Ainda não, mas mencionamos o fato, ela sabe da importância. É preciso mais 600 mil
[barris de capacidade de processamento] para manter, em 2010, o
mesmo nível de dependência [de
importação de derivados] que temos hoje em dia [17%]. Se não tivermos investimentos adicionais
aos previstos pela Petrobras, vamos chegar a uma dependência
superior a 30%, o que é muito.
Folha - Quais as consequências?
Barros - Vamos exportar o petróleo brasileiro bruto para importar combustível. O valor agregado vai ficar no exterior. Além
disso, aumenta a vulnerabilidade
de abastecimento. Pode haver carência em casos de crises. É o caso
do GLP. Podemos ter um apagão
de combustíveis no futuro.
Texto Anterior: Posto alagoano é campeão de irregularidades Próximo Texto: Frase Índice
|