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São Paulo, segunda-feira, 03 de fevereiro de 2003

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MERCADO FINANCEIRO

Oscilação continua com cenário externo incerto e indefinição sobre nova meta de superávit fiscal

"Diferença" entre dólar e Bolsa deve cair

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O dólar e a Bolsa paulista, que chegaram a tomar rumos opostos na semana passada, tendem a diminuir o descompasso nos próximos dias, na avaliação de analistas. Mas devem seguir instáveis, sem tendência, em razão das incertezas externas.
O dólar fechou em queda em quatro dias da semana passada e, em dois deles, descolou da Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo), que não acompanhou a melhora do câmbio e seguiu o mau humor das Bolsas internacionais. Na sexta-feira, o dólar encerrou o dia cotado a R$ 3,52.
Para executivos do mercado, uma das causas desse descolamento seria a posição assumida por bancos em contratos futuros de câmbio que vencem hoje.
Vendidos em dólar futuro (apostando na queda da cotação), bancos teriam pressionado o câmbio para baixo para fazer Ptax (taxa média diária do dólar, medida pelo BC, e que corrige aqueles contratos) menor. A informação, não confirmada, foi muito comentada entre operadores.
A tendência para a semana, diz um dos executivos, que não quis se identificar, é diminuir esse descompasso. Passado o vencimento, aquelas instituições devem reduzir muito a venda de dólares e o câmbio pode subir de novo. Se melhorar o cenário externo, o dólar melhora também.
Em razão da expectativa doméstica positiva, muitos estavam na ponta de venda, confirma outro executivo de banco.
Houve pressão vendedora por dólar pela exportação e pelas captações externas de curto prazo de bancos e empresas, que é a arbitragem no mercado local, afirma outro diretor de banco.
Nessa operação, as tesourarias pegam dinheiro no exterior, vendem no Brasil, ficam com reais e compram título indexado ao dólar. A diferença de taxa é grande: aqui, para um ano, é de 17%, enquanto no exterior é de 1,45%.
Circularam pelas mesas de operações rumores de que, além das captações divulgadas na semana passada, um banco, ou um cliente desse banco, trouxe cerca de US$ 200 milhões do exterior e vendeu no mercado à vista.
Quando essas entradas de recursos "brotaram do chão", investidores procuraram reduzir posição, conclui um deles.
"A Bolsa depende do mercado externo. Não está tendo entrada porque a incerteza é muito grande. Câmbio tem risco, mas é menor, se o investidor não acredita em ruptura para o curto prazo. O dinheiro está indo para renda fixa e mais lá fora do que aqui", diz Pedro Thomazoni, diretor de tesouraria do Lloyds TSB.
"O mercado está muito ligado às Bolsas de fora. Mas risco-país a 1.312 pontos é uma distorção tão grande, e os preços estão tão fora do preço justo, que o mercado aqui teria que melhorar", diz Júlio Ziegelman, do BankBoston.
"O dólar pode até cair e a Bolsa subir, mas não muito. O sobe-e-desce do dólar mostra quão instável é a situação", diz Thomazoni.
No próximo dia 13, vencem US$ 2,6 bilhões de dívida atrelada ao câmbio, a maior do ano até agora.
"Nesta semana já se saberá o que o BC pretende fazer, o que pode acarretar um nervosismo extra", diz Jorge Simino, da Unibanco Asset Management.
A possibilidade de os EUA esperarem uma nova resolução do Conselho de Segurança da ONU (e de a guerra anunciada contra o Iraque demorar algumas semanas) também beneficiou o dólar. Na sexta-feira, instituições também venderam moeda estrangeira para embolsar lucros.
O risco de guerra, a reunião daquele Conselho, na quarta-feira, e a divulgação da meta de superávit primário para o ano devem centralizar as atenções na semana.


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