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MERCADO FINANCEIRO
Oscilação continua com cenário externo incerto e indefinição sobre nova meta de superávit fiscal
"Diferença" entre dólar e Bolsa deve cair
MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
O dólar e a Bolsa paulista, que
chegaram a tomar rumos opostos
na semana passada, tendem a diminuir o descompasso nos próximos dias, na avaliação de analistas. Mas devem seguir instáveis,
sem tendência, em razão das incertezas externas.
O dólar fechou em queda em
quatro dias da semana passada e,
em dois deles, descolou da Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo), que não acompanhou a melhora do câmbio e seguiu o mau
humor das Bolsas internacionais.
Na sexta-feira, o dólar encerrou o
dia cotado a R$ 3,52.
Para executivos do mercado,
uma das causas desse descolamento seria a posição assumida
por bancos em contratos futuros
de câmbio que vencem hoje.
Vendidos em dólar futuro
(apostando na queda da cotação),
bancos teriam pressionado o
câmbio para baixo para fazer Ptax
(taxa média diária do dólar, medida pelo BC, e que corrige aqueles
contratos) menor. A informação,
não confirmada, foi muito comentada entre operadores.
A tendência para a semana, diz
um dos executivos, que não quis
se identificar, é diminuir esse descompasso. Passado o vencimento, aquelas instituições devem reduzir muito a venda de dólares e o
câmbio pode subir de novo. Se
melhorar o cenário externo, o dólar melhora também.
Em razão da expectativa doméstica positiva, muitos estavam
na ponta de venda, confirma outro executivo de banco.
Houve pressão vendedora por
dólar pela exportação e pelas captações externas de curto prazo de
bancos e empresas, que é a arbitragem no mercado local, afirma
outro diretor de banco.
Nessa operação, as tesourarias
pegam dinheiro no exterior, vendem no Brasil, ficam com reais e
compram título indexado ao dólar. A diferença de taxa é grande:
aqui, para um ano, é de 17%, enquanto no exterior é de 1,45%.
Circularam pelas mesas de operações rumores de que, além das
captações divulgadas na semana
passada, um banco, ou um cliente
desse banco, trouxe cerca de US$
200 milhões do exterior e vendeu
no mercado à vista.
Quando essas entradas de recursos "brotaram do chão", investidores procuraram reduzir
posição, conclui um deles.
"A Bolsa depende do mercado
externo. Não está tendo entrada
porque a incerteza é muito grande. Câmbio tem risco, mas é menor, se o investidor não acredita
em ruptura para o curto prazo. O
dinheiro está indo para renda fixa
e mais lá fora do que aqui", diz Pedro Thomazoni, diretor de tesouraria do Lloyds TSB.
"O mercado está muito ligado
às Bolsas de fora. Mas risco-país a
1.312 pontos é uma distorção tão
grande, e os preços estão tão fora
do preço justo, que o mercado
aqui teria que melhorar", diz Júlio
Ziegelman, do BankBoston.
"O dólar pode até cair e a Bolsa
subir, mas não muito. O sobe-e-desce do dólar mostra quão instável é a situação", diz Thomazoni.
No próximo dia 13, vencem US$
2,6 bilhões de dívida atrelada ao
câmbio, a maior do ano até agora.
"Nesta semana já se saberá o
que o BC pretende fazer, o que pode acarretar um nervosismo extra", diz Jorge Simino, da Unibanco Asset Management.
A possibilidade de os EUA esperarem uma nova resolução do
Conselho de Segurança da ONU
(e de a guerra anunciada contra o
Iraque demorar algumas semanas) também beneficiou o dólar.
Na sexta-feira, instituições também venderam moeda estrangeira para embolsar lucros.
O risco de guerra, a reunião daquele Conselho, na quarta-feira, e
a divulgação da meta de superávit
primário para o ano devem centralizar as atenções na semana.
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