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OPINIÃO ECONÔMICA
Uma encruzilhada para o Brasil
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
Tenho repetidamente
chamado a atenção de meu
leitor para a incrível mudança na
situação externa da economia
brasileira que estamos vivendo.
Hoje ocupo boa parte de meu
tempo procurando entender como isto aconteceu e, mais importante, o que representa para a sociedade brasileira em termos de
opções futuras.
Confesso que estou assustado
com o que tenho visto e ouvido.
São manifestações ainda restritas
a ambientes distantes da opinião
pública, como universidades e
grupos informais de discussão sobre economia. Mas acompanho
com interesse o que se discute nesses fóruns e, quando convidado,
tenho participado.
Nesse novo Brasil que acredito
existir, uma questão central se coloca: como devemos reagir ao fato
de que, por condições externas altamente favoráveis às nossas exportações de commodities, passamos a ter um saldo estrutural de
dólares em nossas contas externas. Já escrevi sobre isso várias vezes e hoje, baseado em trabalho
realizado pelo economista Paulo
P. Miguel, que trabalha comigo
na Quest Investimentos, minhas
convicções são ainda mais fortes.
Quem tiver interesse em lê-lo sugiro que o consulte no endereço
www.questinvest.com.br.
O que aparece nesse olhar prospectivo sobre nosso futuro é claramente uma versão moderna do
que os economistas chamam de
"Dutch disease". Ou seja, a situação em que uma economia entra
em fase de desindustrialização
por conta de um câmbio valorizado devido a um boom nas exportações de produtos primários. A
primeira vez que o fenômeno chamou a atenção dos economistas
foi na Holanda, no início da segunda metade do século passado.
Mas hoje essa doença econômica é potencialmente muito mais
grave, devido às tectônicas e estruturais mudanças na dinâmica
do comércio internacional provocadas pela incorporação de centenas de milhões de chineses (e indianos) na economia mundial.Uma taxa de câmbio valorizada
por conta de movimentações financeiras ou por exportações vigorosas de produtos primários
pode ser mortal para a indústria
de um país nesse contexto. Esse
problema vai atingir em cheio o
Brasil nos próximos anos. Não tenha dúvida disso.
O que me preocupa é que as discussões estão se polarizando de
forma equivocada. De um lado,
no corte mais liberal de nossos
economistas, a reação pode ser resumida em uma expressão em inglês: "Who cares?". Em português,
a melhor tradução que encontro é
"e daí?". Segundo eles, não tem
importância nenhuma o Brasil
não ter indústria ou muitos setores de prestação de serviços, na
medida em que a exportação de
commodities seria a vocação racional do país, a nossa vantagem
comparativa, como se essa fosse
uma decisão imutável da Divina
Providência, esquecendo os milagres que o desenvolvimento tecnológico pode criar.
Nos setores mais à esquerda, a
resposta a essa ameaça é o tradicional voluntarismo da intervenção pura e simples do governo via
compra maciça dos dólares que
sobram no mercado. Sem apresentar referência a uma estratégia integrada de política econômica, usam superficialmente como exemplo a China e os outros
tigres asiáticos, que vêm fazendo
isso há anos para evitar a valorização de suas moedas e a conseqüente perda de competitividade
de seu setor produtivo.
Estou convencido de que esse
problema é grave, complexo e vai
mexer com o futuro de milhões de
brasileiros. E creio que as duas alternativas óbvias, à direita e à esquerda, não têm as respostas corretas a essa armadilha. Não me
parece claro, ainda, o caminho
que teremos que trilhar para fazer desse limão uma limonada.
Por isso gostaria de provocar
uma discussão mais aberta sobre
essa questão. Em relação à turma
do "Who cares?", é bom que expliquem e defendam publicamente
a perda de milhões de empregos
em nome das chamadas vantagens comparativas da teoria econômica clássica. E, quanto aos
que pregam apenas o ativismo
cambial, que respondam sobre
como lidar com os problemas internos criados pela compra de algumas dezenas de bilhões de dólares todos os anos em um sistema
financeiro como o nosso.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 63,
engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo FHC).
E-mail - lcmb2@terra.com.br
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