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NO VERMELHO
Saída de principais tomadores de empréstimos põe em xeque papel do fundo
Quitação de dívida eleva déficit do FMI
WILLIAM MCQUILLEN
DA BLOOMBERG
A perda, por parte do FMI (Fundo Monetário Internacional), de
seus maiores tomadores de empréstimos no mês passado deixou
a instituição com um crescente
déficit orçamentário e novas dúvidas em relação a seu papel na
economia mundial.
Nas últimas seis semanas, o Brasil antecipou o pagamento de US$
15,5 bilhões de sua dívida e a Argentina quitou, dois anos antes do
previsto, sua dívida de US$ 9,5 bilhões, o que encerra as contas, respectivamente, do primeiro e do
terceiro maior tomador de empréstimos do Fundo.
O estímulo para quitar as dívidas -representado pelas reservas em moeda estrangeira, que incharam após as economias latino-americanas terem saído da recessão, e pelo crescimento do apetite
dos investidores por bônus governamentais- também pode ser
observado em outros grandes tomadores de empréstimos, como o
Paquistão, a Sérvia e a Ucrânia,
que sinalizaram igualmente ter a
intenção de encerrar seu relacionamento com o FMI.
"Em tempos de vacas gordas,
ninguém pede socorro ao Fundo", disse Liliana Rojas-Suárez,
ex-economista do FMI, que atualmente trabalha no Center for Global Development (Centro para o
Desenvolvimento Mundial) em
Washington.
O resultado disso foi a perda da
receita gerada pelos juros, que levou o FMI a reduzir sua estimativa de lucros em cerca de 40% para
o ano fiscal que se encerra em
abril próximo. Agora o Fundo
prevê registrar um déficit orçamentário de mais de US$ 116 milhões neste ano. Esse fato serviu
de incentivo a seus críticos, que
pediram ao órgão que reduzisse a
concessão de empréstimos e se
concentrasse mais em oferecer
orientação econômica.
"Isso deve obrigar o Fundo Monetário a se perguntar o que está
fazendo e o que deveria estar fazendo", disse Allan Meltzer, professor da Universidade Carnegie
Mellon University em Pittsburgh,
que em 2000 liderou uma comissão parlamentar norte-americana
que investigou o FMI. "Se o interesse for puramente comercial, o
fundo se tornará menos relevante", afirmou.
"É provável que o FMI invista
parte de suas reservas, num momento em que tenta buscar formas de compensar a queda de seu
lucro líquido", disse Thomas
Dawson, porta-voz do diretor-gerente do FMI, Rodrigo Rato.
Fundado após o final da Segunda Guerra Mundial para promover a estabilidade da economia
mundial, o FMI geralmente concede empréstimos aos países sob
a condição de que eles efetuem algumas alterações em suas políticas econômicas, como a redução
da taxa de inflação.
Com a proximidade das eleições
no Brasil e na Argentina, essas
condições se tornaram impopulares nesses dois países, onde a população tem atribuído as crises
econômicas às mudanças determinadas pelo FMI. E Brasil e Argentina não estão sozinhos.
O Paquistão, o quarto maior tomador de empréstimos do FMI,
agora que a Argentina se afastou,
possui uma dívida de US$ 1,51 bilhão junto ao fundo e diz que está
tentando reduzir sua dependência da instituição.
A Ucrânia, o quinto maior tomador de empréstimos do FMI,
disse em 2004 que provavelmente
recusará qualquer oferta adicional de auxílio financeiro por parte
do órgão. E a Sérvia, que deve ao
FMI cerca de US$ 874 milhões,
disse no mês passado que não pedirá mais nenhum empréstimo.
Mais quitações
Há um ano, a Rússia adiantou o
pagamento de sua dívida de US$
3,3 bilhões com o FMI após sete
anos consecutivos de expansão
econômica. Em 2003, a Tailândia
honrou suas obrigações, dois
anos antes do prazo final.
As condições impostas pelo
FMI ao conceder empréstimo a
um país raramente contam com o
apoio da população local, disse
Desmond Lachman, que trabalhou 24 anos como economista do
FMI e atualmente atua como pesquisador sênior do American Enterprise Institute, instituto de pesquisa de Washington. "A antecipação dos pagamentos é politicamente muito bem-vista nesses
países", afirmou Lachman. "Pagar o FMI antecipadamente significa declarar independência."
Em 2005, a Argentina tentou
obter um novo empréstimo com
o FMI. As conversações fracassaram após o presidente argentino
Néstor Kirchner ter rejeitado as
exigências do fundo para que o
país eliminasse o limite máximo
adotado para as tarifas públicas,
reduzisse a intervenção em mercados cambiais e estimulasse a
poupança interna.
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