|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
INTEGRAÇÃO
Indústria cogita buscar outros clientes e oferecer ao país vizinho menos mercadorias do que o permitido em acordo
Empresa ameaça até cortar venda à Argentina
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Resta à indústria brasileira
aprender a se defender dentro do
novo acordo de salvaguardas entre Brasil e Argentina, assinado na
quarta-feira, se quiser manter o
mercado lá fora. Passada a saraivada de críticas feitas por líderes
industriais ao pacto defendido
pelo governo, empresas sentam
com o acordo nas mãos para ver
como se preparar, caso o país vizinho comece a se posicionar contra as exportações brasileiras. A
Fiesp (Federação das Indústrias
do Estado de São Paulo) já fala sobre como pode, na prática, "reagir" ao acordo.
"Temos produtos competitivos
e de qualidade e podemos vender
menos para lá e voltar nossas exportações para outros mercados.
Com menos oferta no país vizinho, perde o consumidor argentino, com menos opções de compra. Quem vai pagar é o povo",
disse ontem Paulo Skaf, presidente da Fiesp, à Folha.
"Estamos mais bem preparados
para não cair na armadilha dos
prazos do acordo e, com dados
nas mãos, mostrar que nossas exportações não são danosas para
aquele país. Eles podem ganhar
na primeira disputa, mas é como
andar de bicicleta. Não vão além
disso ", diz Synésio da Costa, presidente da Abrinq (Associação
Brasileira dos Fabricantes de
Brinquedos) e membro da federação paulista.
No novo acordo, há diversos
prazos definidos para que os países acionem mecanismos de proteção a seus mercados. Essa ferramenta, chamada MAC (Mecanismo de Adaptação Competitiva),
pode ser usada caso um setor industrial acredite que há dano a indústria local com as importações.
Se ele perceber isso, o governo do
país terá 15 dias para julgar se cabe a reclamação. Em caso positivo, o caso vai à chamada Comissão Bilateral de Monitoramento.
São mais cinco dias para esse órgão convocar os setores dos dois
países e tentar um acordo. Não
pára aí. São até 120 dias a mais de
prazo para uma solução final.
"Temos acordos fechados para
alguns produtos anteriormente a
esse anunciado ontem [anteontem]. Alguns estão para vencer e
agora precisamos ver o que fazer
com eles", diz Paulo Saab, presidente da Eletros (Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos). Um exemplo disso é o item lavadora de roupa. Ficou definida no início de
2005 uma cota de exportação de
180 mil unidades pelo período de
cerca de um ano, até março de
2006. O prazo está no final, portanto. O produto deve "cair" dentro desse novo acordo assinado
anteontem entre os países, caso a
Argentina volte a se contrapor à
venda brasileira.
A Argentina é responsável por
8,5% da venda total de itens brasileiros ao exterior, segundo dados
do Ministério do Desenvolvimento. Em 2004, a taxa foi maior 8,9%.
O país vizinho tem mais pesa na
cesta brasileira que a China. perde
para EUA e África.
Empresários e líderes industriais voltaram ontem a rechaçar
o acordo assinado pelo governo
brasileiro. Para a Abicalçados
(Associação Brasileira da Indústria de Calçados), entidade representativa do setor calçadista -foco de várias pendengas comerciais entre a indústria local e vizinha- o pacto "é uma contribuição do governo brasileiro à fuga
de empresas nacionais para a terra argentina", diz Elcio Jacometti,
presidente da entidade, que se limitou a dizer que só comentaria o
acordo após posicionamento do
Itamaraty a respeito.
Questionado sobre o risco de
que a discussão tenha sido tomada com um pano de fundo fortemente político -haverá eleições
presidenciais na Argentina em
2007 e no Brasil em 2006-, Paulo
Skaf disse: "Se haverá eleições lá,
haverá aqui também".
Para Fernando Pimentel, presidente da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), o acordo não é um sinal
positivo para o Mercosul. "Se não
há livre comércio na zona que
pressupõe isso, como é possível
vender a proposta para outras zonas?", questionou.
Texto Anterior: Trabalho: Produtividade cai e custos sobem nos EUA Próximo Texto: CNI chama novo sistema de "retrocesso" Índice
|