São Paulo, Quarta-feira, 03 de Fevereiro de 1999
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Bancos prevêem retração de 3,5% em 99

Do enviado especial a Davos e de Londres

O IIF (Instituto de Finança Internacional) prevê retração da economia brasileira, este ano, de 3,5%, um ponto percentual acima do que o próprio governo está supondo, nas negociações com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
Não é a previsão mais sombria sobre o desempenho da economia brasileira este ano (a Salomon Smith Barney, dos EUA, acaba de cravar 6%). Mas talvez seja a mais significativa: o IIF é o conglomerado que reúne os grandes bancos internacionais.
Se tais instituições, cujos recursos irrigam as economias, em especial dos mercados ditos emergentes, imaginam uma queda tão forte da economia brasileira, seus integrantes naturalmente ficarão ainda menos inclinados a colocar dinheiro no país.
A previsão do IIF para 99 mostra uma ironia: a crise no Brasil teve como ponto de ignição a implosão, a partir de julho de 97, de um punhado de países asiáticos, caracterizando o contágio de uma economia por outras, ainda que distantes geograficamente.
Mas, agora, não está ocorrendo fenômeno inverso. Ou seja, a recessão brasileira não está repercutindo na Ásia. Ao contrário: o relatório do IIF prevê crescimento de 4,4% para os países asiáticos, contra o magro 0,9% de 1998.
Mesmo países direta e duramente atingidos pela crise (como Coréia e Malásia) deverão registrar crescimento, entre 2% e 3%.
O contágio, ao menos pelas contas do IIF, limita-se à América Latina: o crescimento do conjunto de países da região será de apenas 1,3%, contra os 2,2% em 1998.

Fluxos
Onde há, sim, contágio total dos chamados mercados emergentes é no fluxo de capitais privados, que está secando para todos eles.
O IIF prevê que, este ano, apenas US$ 140 bilhões tomarão o rumo dos países emergentes, contra US$ 151,9 bilhões em 1998, um ano já de significativa contração no fluxo de capitais.
Se a comparação for com 1997, o melhor ano em matéria de fluxos para os mercados emergentes, a queda é considerável: de US$ 259,6 bilhões para US$ 140 bilhões, pouco mais da metade, portanto.
Para a América Latina, em particular, o quadro se reproduz, mas um pouco piorado: dos US$ 101,6 bilhões que irrigaram a economia da região em 1997, este ano a previsão é de apenas US$ 54 bilhões.
A maior parte desse fluxo, tanto para a América Latina como para os demais emergentes, é de investimentos em papéis, mais voláteis.
Os bancos comerciais, que fazem empréstimos em tese mais sólidos, estão operando na rota inversa, ao menos no caso da América Latina.
Estão cobrando o que emprestaram, em vez de emprestar mais.
Tanto é assim que o fluxo, no caso dos bancos comerciais, será negativo em US$ 3,4 bilhões (em 98, fora positivo em US$ 12,2 bilhões).
Mesmo o investimento em papéis será relativamente modesto na América Latina (US$ 43,6 bilhões), contra um pico, em 97, de US$ 63,5 bilhões.

Inflação de 21%
Projeções sobre a inflação brasileira no exterior consideram a hipótese de que, este ano, ela atinja até 21%, num ensaio otimista sobre o desenrolar da atual crise.
Essa é a avaliação do braço de pesquisas do grupo "The Economist", que também antecipa, em números preliminares sobre o país, uma queda de até 5,4% no PIB (Produto Interno Bruto).
Também considerando um cenário otimista, o BBV Securities, do grupo espanhol Bilbao Viscaya, imagina uma inflação em torno de 15%, segundo seu economista-chefe em Londres, Peter West.
Previsões do HSBC anteriores à crise consideravam uma queda de 2,5% no PIB. Agora, é possível que esse número suba para 4%, segundo o estrategista para mercados emergentes Ben Rudd.
Todas as projeções, no entanto, são preliminares. Os números estão sendo revistos e é senso comum entre os analistas que não vale a pena divulgar nenhum relatório para clientes, diante da volatilidade do real e da incerteza sobre o futuro das altas taxas de juros.
"A incerteza é muito grande. É impossível fazer projeções, mas a verdade é que, quanto mais baixa a inflação se mantiver, melhor, devido ao passado do país", diz Richard Fox, diretor para a América Latina da agência de risco Fitch Ibca.
"Se o dólar se estabilizar em R$ 1,90, a inflação poderá até ficar acima de 15%. Os números de hoje serão jogados fora", disse Amália Estenssoro, economista do BilbaoViscaya em Londres.


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