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Bancos prevêem retração de 3,5% em 99
Do enviado especial a Davos e de Londres
O IIF (Instituto de Finança Internacional) prevê retração da economia brasileira, este ano, de 3,5%,
um ponto percentual acima do que
o próprio governo está supondo,
nas negociações com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
Não é a previsão mais sombria
sobre o desempenho da economia
brasileira este ano (a Salomon
Smith Barney, dos EUA, acaba de
cravar 6%). Mas talvez seja a mais
significativa: o IIF é o conglomerado que reúne os grandes bancos
internacionais.
Se tais instituições, cujos recursos irrigam as economias, em especial dos mercados ditos emergentes, imaginam uma queda tão
forte da economia brasileira, seus
integrantes naturalmente ficarão
ainda menos inclinados a colocar
dinheiro no país.
A previsão do IIF para 99 mostra
uma ironia: a crise no Brasil teve
como ponto de ignição a implosão,
a partir de julho de 97, de um punhado de países asiáticos, caracterizando o contágio de uma economia por outras, ainda que distantes geograficamente.
Mas, agora, não está ocorrendo
fenômeno inverso. Ou seja, a recessão brasileira não está repercutindo na Ásia. Ao contrário: o relatório do IIF prevê crescimento de
4,4% para os países asiáticos, contra o magro 0,9% de 1998.
Mesmo países direta e duramente atingidos pela crise (como Coréia e Malásia) deverão registrar
crescimento, entre 2% e 3%.
O contágio, ao menos pelas contas do IIF, limita-se à América Latina: o crescimento do conjunto de
países da região será de apenas
1,3%, contra os 2,2% em 1998.
Fluxos
Onde há, sim, contágio total dos
chamados mercados emergentes é
no fluxo de capitais privados, que
está secando para todos eles.
O IIF prevê que, este ano, apenas
US$ 140 bilhões tomarão o rumo
dos países emergentes, contra US$
151,9 bilhões em 1998, um ano já de
significativa contração no fluxo de
capitais.
Se a comparação for com 1997, o
melhor ano em matéria de fluxos
para os mercados emergentes, a
queda é considerável: de US$ 259,6
bilhões para US$ 140 bilhões, pouco mais da metade, portanto.
Para a América Latina, em particular, o quadro se reproduz, mas
um pouco piorado: dos US$ 101,6
bilhões que irrigaram a economia
da região em 1997, este ano a previsão é de apenas US$ 54 bilhões.
A maior parte desse fluxo, tanto
para a América Latina como para
os demais emergentes, é de investimentos em papéis, mais voláteis.
Os bancos comerciais, que fazem
empréstimos em tese mais sólidos,
estão operando na rota inversa, ao
menos no caso da América Latina.
Estão cobrando o que emprestaram, em vez de emprestar mais.
Tanto é assim que o fluxo, no caso dos bancos comerciais, será negativo em US$ 3,4 bilhões (em 98,
fora positivo em US$ 12,2 bilhões).
Mesmo o investimento em papéis será relativamente modesto
na América Latina (US$ 43,6 bilhões), contra um pico, em 97, de
US$ 63,5 bilhões.
Inflação de 21%
Projeções sobre a inflação brasileira no exterior consideram a hipótese de que, este ano, ela atinja
até 21%, num ensaio otimista sobre o desenrolar da atual crise.
Essa é a avaliação do braço de
pesquisas do grupo "The Economist", que também antecipa, em
números preliminares sobre o
país, uma queda de até 5,4% no
PIB (Produto Interno Bruto).
Também considerando um cenário otimista, o BBV Securities,
do grupo espanhol Bilbao Viscaya,
imagina uma inflação em torno de
15%, segundo seu economista-chefe em Londres, Peter West.
Previsões do HSBC anteriores à
crise consideravam uma queda de
2,5% no PIB. Agora, é possível que
esse número suba para 4%, segundo o estrategista para mercados
emergentes Ben Rudd.
Todas as projeções, no entanto,
são preliminares. Os números estão sendo revistos e é senso comum entre os analistas que não vale a pena divulgar nenhum relatório para clientes, diante da volatilidade do real e da incerteza sobre o
futuro das altas taxas de juros.
"A incerteza é muito grande. É
impossível fazer projeções, mas a
verdade é que, quanto mais baixa a
inflação se mantiver, melhor, devido ao passado do país", diz Richard Fox, diretor para a América
Latina da agência de risco Fitch Ibca.
"Se o dólar se estabilizar em R$
1,90, a inflação poderá até ficar acima de 15%. Os números de hoje serão jogados fora", disse Amália Estenssoro, economista do BilbaoViscaya em Londres.
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