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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Novo mergulho ainda é possível na economia dos EUA
GILSON SCHWARTZ
ARTICULISTA DA FOLHA
As notícias sobre a economia dos Estados Unidos
nos últimos dias parecem talhadas para criar uma nova onda
de otimismo nos mercados. A
quantidade de indicadores positivos num mesmo período é
impressionante.
Na indústria, as informações
recentes sugerem aquecimento
da produção. Depois de um período de 19 meses em contração, vários setores industriais
dão mostras de revigoramento.
Ou seja, o sintoma é que finalmente o excesso de estoques,
um dos fatores recessivos mais
importantes, pode estar dando
lugar a empresas mais enxutas,
que respondem a aumentos de
demanda por seus produtos
elevando a produção, isto é,
contratando mais gente.
Além da indústria, há sinais
positivos na construção civil
(que também se beneficia de juros muito baixos) e mesmo no
nível de renda dos norte-americanos (0,4% em janeiro, a alta
mais expressiva dos últimos
seis meses).
É mesmo o final da recessão?
Ou, como já apontam algumas
análises, seria o caso de até mesmo duvidar de que aconteceu,
afinal, uma recessão nos Estados Unidos?
Há pelo menos dois motivos
para continuar cético, um de
natureza mais geral, outro ligado ao perfil setorial dos indicadores de crescimento disponíveis.
O argumento mais geral tem
como ponto de partida a distinção entre tipos de crescimento
econômico. O que parece evidente nos Estados Unidos é que
se trata de um aquecimento
condicionado pelos ciclos de estoques.
Estoques baixos levam a reações mais rápidas das empresas, que aumentam seus níveis
de produção e contratam mais
diante até mesmo de pequenos
aumentos de renda e demanda
por seus produtos.
Esse tipo de crescimento está
mais ligado a ciclos de curto
prazo, que respondem às oscilações dos mercados varejistas.
Tipo diferente de crescimento
é aquele que se ampara menos
no ciclo comercial e mais na recuperação da lucratividade das
empresas. Nesse crescimento o
que puxa a recuperação é o investimento, não o consumo.
Ainda não há sinais de que a
economia norte-americana esteja em condições de passar rapidamente do primeiro para o
segundo tipo de crescimento.
Além da diferença entre queimar estoques e aumentar a capacidade produtiva, há uma dimensão setorial que deve ser
pesada.
Em economia, falar em investimento, em ampliação da capacidade produtiva e renovação industrial significa identificar os elos entre decisões empresariais e perspectivas de inovação e apostas em novas tecnologias.
Ora, é justamente num dos setores que mais tiveram importância no ciclo mais recente de
investimentos nos Estados Unidos, o de telecomunicações, que
os indicadores continuam deprimidos.
Excesso de capacidade produtiva, estoques monumentais
de dívidas e crescimento baixo
formam uma combinação pouco animadora nesse setor que
define tendências em termos de
produtividade, inovação tecnológica e flexibilização produtiva.
Isso explica por que a expressão do momento nos Estados
Unidos é "double dip" (duplo
mergulho). Embora os últimos
dias tenham registrado uma safra impressionante de indicadores positivos, o que diminui a
chance de uma recessão mais
longa, ainda há quem tema um
novo mergulho da economia
norte-americana mais adiante.
É cedo para comemorar.
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