São Paulo, domingo, 03 de março de 2002

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COLAPSO DA ARGENTINA

Até "hipótese militar" é discutida para vaga presidencial

"Sucessores" de Duhalde lutam por espaço na mídia

France Presse - 28.fev.02
Manifestantes protestam contra políticos na frente do Congresso argentino, em Buenos Aires


FABRICIO VIEIRA
DE BUENOS AIRES

Ao completar dois meses no poder, o presidente argentino, Eduardo Duhalde, se vê cercado de possíveis sucessores que, de uma forma ou de outra, alfinetam seu governo em busca de conquistar mais espaço na mídia e nas pesquisas de opinião.
Um dos maiores focos de bombardeio ao presidente Duhalde está em seu próprio partido, o PJ (Partido Justicialista), mais conhecido como peronista. Na oposição, Elisa Carrió, do ARI (Alternativa por uma República de Iguais), brilha como uma liderança isolada. Nos últimos dias, começou a ganhar força também as discussões em torno de uma "hipótese militar" como resposta a um fracasso de Duhalde.
No PJ, três governadores -Néstor Kirchner (Santa Cruz), Carlos Reutemann (Santa Fé) e José Manuel de la Sota (Córdoba)- e o ex-presidente Carlos Menem (1989-1999) formam esse pelotão sedento de poder. O recado que tentam passar à população é muito simples: somos do mesmo partido, mas não somos iguais a Duhalde.
Os principais analistas políticos da Argentina concordam que uma eventual tomada de poder pelos militares traria um civil para a cadeira presidencial. Para ocupar essa vaga em um hipotético golpe cívico-militar, surgem dois nomes: o empresário Mauricio Macri e o ex-ministro da Economia Ricardo López Murphy.
Macri, que é presidente do clube de futebol Boca Juniors, se reuniu na última semana com o chefe do Estado-Maior da Marinha, almirante Joaquín Stella. Segundo o empresário, foi discutido no encontro o atual cenário político-econômico do país. "Não sou candidato a nada", disse Macri.
Murphy já anunciou que vai fundar um partido político para lançar sua candidatura à presidência no próximo ano.
De trás das grades, onde cumpre pena de prisão perpétua, o coronel Mohamed Ali Seineldín viu seu nome reaparecer na boca do povo. O coronel surgiu com 5% das intenções de voto para a presidência em uma pesquisa feita pela Hugo Haime & Associados na Grande Buenos Aires. Seineldín liderou os "carapintadas" em uma tentativa de golpe contra o governo Menem em 90.
"Há um setor do empresariado e do sistema financeiro que vê com bons olhos uma resposta militar a atual situação da Argentina. Se em dois meses o governo não conseguir começar a acertar os problemas mais explícitos, como a miséria e o desemprego que aumentam dia a dia, corremos o risco de uma convulsão social com uma intervenção militar como resposta", afirma o cientista político Hugo Haime.
Há pouco mais de uma semana, o chefe do Estado-Maior do Exército, o tenente-general Ricardo Brinzoni, se reuniu com o banqueiro Adrián Werthein para discutir a situação do país.
"Um agravamento do cenário político-econômico e social poderia abrir as portas para um sistema totalitário. Não vejo como poderia hoje se instalar uma ditadura como nas décadas de 60 e 70 na América Latina. Mas poderíamos chegar a presenciar um acordo cívico-militar para assumir o poder", diz o analista e diretor da Equis, Artemio López.


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