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ACORDO BILATERAL
Livre comércio entre os dois países esbarra nos mesmos problemas que dificultam a formação da Alca
Negociações entre EUA e Chile empacam
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
As negociações para um acordo
de livre comércio entre os EUA e o
Chile empacaram. Depois de dez
rodadas de conversas, os dois governos não conseguem chegar a
um consenso sobre os mesmos temas que assombram a Alca e dos
quais pretendiam desviar-se ao
optarem pela conversa bilateral.
Entre esses temas estão a insistência dos EUA e a resistência do
Chile em incluir cláusulas trabalhistas e ambientais no texto final
do acordo, o pedido chileno para
os norte-americanos mudarem
suas regras antidumping e o acesso ao mercado nos dois países.
Além disso, uma nova exigência
norte-americana traz enorme dificuldades adicionais às conversas. Segundo apurou a Folha junto a negociadores dos dois países,
os EUA passaram a interessar-se
pelas contas individuais de aposentadoria dos seis milhões de
trabalhadores chilenos.
Trata-se de uma quantia equivalente a US$ 30 bilhões - 45%
do PIB do Chile. Essas contas são
alardeadas como um exemplo
bem-sucedido de privatização da
previdência.
Embora tenham sempre elogiado o Chile por seu sistema privado de aposentadoria, os EUA agora querem mais: exigem que o
país derrube todas as restrições
que impedem o investimento de
70% desses recursos no exterior.
"Num determinado momento
das negociações, os norte-americanos pleitearam que nós suprimíssemos o limite desses recursos
que podem ser investidos no exterior", disse o embaixador do Chile
em Washington, Andrés Bianchi.
"A delegação chilena não considera isso conveniente. É justamente por meio desse controle
que podemos manejar um pouco
os fluxos financeiros. Além disso,
o mercado de capitais do Chile,
que não existia no passado recente, desenvolveu-se por causa deles", declarou.
Com esse pedido, os EUA desejam que a maior parte desses recursos passem a ser investidos em
ações de empresas norte-americanas e em outros investimentos
nos EUA.
As negociações entre os dois
países foram anunciadas em dezembro 2000 pelo ex-presidente
dos EUA, Bill Clinton, para acelerar a integração comercial hemisférica e convencer os países reticentes à Alca (Área de Livre Comércio das Américas) a se sentarem à mesa de negociações.
Ao assumir a Casa Branca em
janeiro de 2001, a equipe do presidente George W. Bush viu nessas
negociações um instrumento para acelerar a integração hemisférica. O negociador comercial dos
EUA, Robert Zoellick, chegou a
declarar que acordos bilaterais de
comércio como o negociado entre
os EUA e o Chile mostravam aos
países contrários à integração comercial o "risco de serem deixados para trás".
Bush anunciara o mês de dezembro de 2001 como o prazo final das negociações entre os dois
países. Em dezembro, a Folha
perguntou ao vice-representante
comercial dos EUA, Peter Allgeier, se esse prazo seria mantido.
"O acordo deve estar sendo concluído em janeiro", disse ele. Naquela ocasião, Allgeier confirmou
à Folha o interesse norte-americano nas contas individuais de
aposentadoria dos chilenos, mas
afirmou que isso não inviabilizaria o desfecho das negociações.
Sem diretrizes
A última rodada de negociações
entre os dois países foi em janeiro.
Outras duas estão marcadas para
março e abril. "Tentaremos resolver todos os temas, inclusive a inclusão de cláusulas trabalhistas e
ambientais. São temas que não
podemos discutir em profundidade porque os EUA não quiseram", disse Bianchi. "A delegação
norte-americana não tem diretrizes sobre esses assuntos. Supunha-se que essas diretrizes estariam no projeto de TPA (Trade
Promotion Authority)."
O TPA a que se referiu Bianchi é
um mecanismo que permite à Casa Branca acelerar negociações
comerciais externas. Por meio dele, o Congresso renuncia ao seu
direito de emendar os acordos fechados pela Casa Branca, limitando-se a aprová-los ou a rejeitá-los.
No ano passado, o plenário da
Câmara e uma comissão do Senado norte-americanos aprovaram
duas versões de projetos de TPA
que, entre outros assuntos, obrigam o presidente norte-americano a monitorar o cumprimento
de todos os direitos do trabalho
nos países que pretendam ser parceiros comerciais dos EUA. Chile
e Brasil criticaram duramente esse ponto do projeto, mas aguardam a aprovação final do texto.
Quando os EUA anunciaram o
início de suas negociações com o
Chile, acreditava-se que, diferentemente de acordos na OMC (Organização Mundial de Comércio)
e na Alca, elas não dependeriam
da TPA. Os fatos mostram uma
realidade distinta.
Apesar dessas dificuldades,
Bianchi e Allgeier acreditam que
as negociações possam ser concluídas em algum momento durante o primeiro semestre. "Supondo-se que os temas pendentes
avancem", disse o embaixador do
Chile.
No momento, o governo Bush
está negociando acordos bilaterais de comércio com Chile e com
Cingapura. Além disso, quer começar conversas com vários países da África e da América Central. Os EUA já têm acordos bilaterais México, Canadá, Israel e
Jordânia.
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