São Paulo, quarta-feira, 03 de março de 2004

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AGENDA POSITIVA

Para ministro do Planejamento, inflação não preocupa mais

BC já pode baixar juros, diz Mantega

SILVIA MUGNATTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro do Planejamento, Guido Mantega, disse ontem à Folha que a inflação não preocupa e que o Banco Central já poderá começar a baixar a taxa básica de juros (Selic), atualmente em 16,5% ao ano.
"Podemos ficar tranqüilos em relação à inflação, o que significa que o BC já poderá voltar a baixar as taxas de juros", disse. O ministro explicou que a inflação de janeiro, que preocupou mais o Banco Central, foi sazonal (aumentos típicos do mês, como o de produtos agrícolas, que tiveram preços elevados por causas das chuvas).
Segundo o ministro, o BC só não baixou as taxas de juros na última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária, formado pela diretoria e pelo presidente do BC), no mês passado, porque procura ser "prudente". "É o PPP: Prudente por Profissão", brincou, em alusão às Parcerias Público-Privadas, que busca aprovar no Congresso Nacional.
Na ata do Copom, porém, o BC avalia que "há uma probabilidade concreta de que a inflação volte a se desviar da trajetória de metas, o que requer cautela adicional da política monetária".
Para o BC, mesmo que a alta de inflação possa ser sazonal, "o cumprimento da meta requererá maior cautela da política monetária do que anteriormente previsto, tendo em vista o resultado de janeiro e as expectativas para o curto prazo".
A decisão do BC gerou críticas do setor produtivo. Com juros altos, fica mais difícil para as empresas captarem empréstimos. O custo também restringe acesso dos consumidores aos crediários, o que sufoca a economia.
Mantega lembrou que a inflação dos últimos 12 meses medida pelo IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado) já está em 5,5%. Em dezembro, essa taxa anualizada era de 8,71%.
Um dos indicativos de que não é difícil a tarefa de atingir a meta de 5,5% de inflação pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) neste ano é dado, segundo Mantega, pelo IGP-M.
"Esforço maior foi sair de 30% para 9% no ano passado", disse. Analistas estimavam no início do ano passado uma inflação de 30% para 2003. Mas a inflação do IPCA foi de 9,3%.
A meta de inflação perseguida pelo Banco Central é de 5,5% para 2004, mas o sistema admite um desvio de 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo.

Dívida pública
Questionado sobre a sustentabilidade da dívida pública com uma taxa de juros de 16,5% ao ano, Mantega afirmou apenas que "a taxa de juros nominal vai continuar caindo".
O ministro disse que já havia tomado conhecimento de um artigo de um analista do BC sobre o custo da dívida. O artigo, publicado na sexta-feira pelo jornal "Valor", diz que, mesmo com um superávit primário de 4,25% do PIB (Produto Interno Bruto) e crescimento de 3%, a dívida pública subirá se a taxa de juros ficar acima de 10% ao ano.
"Eu não li, mas provavelmente ele [o analista] mantém uma taxa de juros nominal alta, o que não vai acontecer."
Sobre o resultado do PIB de 2003, uma queda de 0,2%, Mantega disse que "infelizmente o primeiro semestre foi muito rigoroso". Uma das últimas previsões do ministério havia sido um crescimento de 0,8% em 2003. "O crescimento não depende só do desejo do governo mas de condições objetivas. O que importa é que terminamos o ano crescendo", disse, referindo-se à expansão do último trimestre.


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