São Paulo, quarta-feira, 03 de março de 2004

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LUÍS NASSIF

A reforma universitária

Recém-empossado ministro da Educação, um dos desafios fundamentais de Tarso Genro será o da reforma da universidade pública e do sistema de avaliação.
Ele tem algumas vantagens sobre seu antecessor, Cristovam Buarque: sabe pensar com método e objetividade, não tem o pesado viés ideológico nem a visão corporativista do antecessor.
Sua meta é chegar ao final do ano com uma proposta concreta de reforma universitária. Para tanto, montou uma agenda com três pontos: levantar as pautas e propostas das entidades do setor; montar um conjunto de cinco eventos para discutir as propostas existentes e um processo de oitivas, levantando a opinião de pessoas especializadas.
A vantagem é poder ter um quadro amplo da matéria, para melhor decidir. O risco é se imobilizar tentando montar propostas de consenso. Tarso diz saber desses riscos, mas a idéia é chegar a novembro com uma proposta do MEC, ouvidas as partes.
Em relação ao sistema de avaliação, medida de prudência é não se deixar emprenhar pelo ouvido com o discurso da gestão anterior, segundo o qual o Provão -que avalia os alunos de terceiro grau- era insuficiente para ter um quadro amplo da universidade. Havia que agregar outras formas de avaliação, como as condições físicas da universidade e seu currículo.
Na verdade, esse processo de avaliação já vinha sendo montado na gestão Paulo Renato de Souza. Em 2001, foram treinados 1.300 professores para avaliar o funcionamento das faculdades "in loco". O plano era treinar 1.300 por ano e depois convocar periodicamente de acordo com as necessidades e os cursos a serem avaliados. Os inscritos recebiam treinamento presencial de dois dias e meio. Depois, havia um contato permanente por e-mails, visando uniformizar os critérios de avaliação.
Mas o Provão era fundamental porque media o resultado final, que era o nível de aprendizado do aluno. Foi o Provão que permitiu, em muitos lugares, que pequenas faculdades, sem poder de fogo, conquistassem seu espaço concorrendo com notórios fabricantes de diploma, montados em dinheiro.
Buarque procedeu a um verdadeiro desmonte no sistema de avaliação. Hoje em dia as avaliações presenciais são feitas à galega, por avaliadores pouco preparados, sem o trabalho prévio de treinamento.
Em relação à reforma da universidade, o planejamento de Tarso vai tratar de três pontos centrais: o financiamento da universidade pública, a qualidade e a nova relação público-privada.
A proposta do MEC deverá contemplar liberdade de ciência, para universidade, autonomia de gestão e previsibilidade para financiamento. Mas não se poderá desvincular da sociedade real. E, por tal, ele inclui não apenas a cidadania mas as relações de produção. A idéia é montar formas de controle social sobre a universidade.

Sócio oculto
Segundo rumores insistentes no mercado, uma das principais universidades a se insurgir contra o Provão, ainda no governo Fernando Henrique Cardoso, tem como sócio oculto o empresário de entretenimento Ivo Noal.

E-mail -
Luisnassif@uol.com.br


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