São Paulo, terça-feira, 03 de março de 2009

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Mercado volta a afundar com novas perdas

Em novo dia de quedas globais, Bolsa de NY tem baixa de 4,24%, Bovespa recua 5,1% e dólar sobe 3%, para R$ 2,44

Prejuízo recorde da AIG e necessidade do HSBC de levantar US$ 17,7 bi geram desconfiança e frustração com pacotes de socorro


Diego Padgurschi/Folha Imagem
Operadores da BM&F durante pregão de ontem

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os mercados globais iniciaram março com forte pessimismo, mais uma vez alimentado pela debilidade do sistema financeiro e seus imensos prejuízos, o debate sobre a estatização dos bancos e a falta de reação das economias e das empresas aos já trilionários pacotes de socorro. As principais Bolsas testaram novos pisos e voltaram a patamares pré-crise asiática de 1997, sinal de que a maior crise econômica global desde os anos 1930 ainda pode se agravar antes de arrefecer.
Na Bolsa de Nova York, o índice Dow Jones derreteu 4,24% e encerrou um dos piores pregões desde a quebra do Lehman Brothers, marcando 6.763,29 pontos -primeira vez abaixo de 7.000 desde 1º de maio de 1997. O índice S&P 500 caiu 4,66% e fechou aos 700,82 pontos, o menor patamar desde 1996. Em Londres, a queda foi de 5,33%. Já a Bovespa teve baixa de 5,1%, e o dólar comercial disparou 3,03%, atingindo R$ 2,44. O petróleo recuou 10,3% em Nova York, a US$ 40,15.
Ontem, a já estatizada AIG -maior seguradora do mundo- reportou perdas de US$ 61,7 bilhões no quarto trimestre, as maiores já registradas nos EUA. No ano, o prejuízo foi de US$ 99,289 bilhões.
Já o britânico HSBC, até então uns dos bancos globais menos afetados pela crise, confirmou que quer levantar US$ 17,7 bilhões vendendo novas ações. A medida foi vista como tentativa desesperada de capitalização sem recorrer a governos, e as ações caíram 19%. Na sexta, os EUA elevaram a 36% sua participação no Citigroup, sinalizando que uma estatização total pode ser inevitável.
Para o ex-diretor Banco Central Carlos Thadeu de Freitas, os mercados vivem uma "frustração" por conta da impotência no curto prazo dos socorros anunciados até agora nos EUA -US$ 787 bilhões de estímulo fiscal, aporte de mais de US$ 250 bilhões nos bancos e redução para zero dos juros.
"Não há uma solução final para a crise. Há um pacote fiscal aprovado, há um orçamento realista, mas esse pacote fiscal, até ser implementado, demora. É um sentimento de frustração porque tem defasagem nos efeitos dessas políticas", disse.
Para Luiz Fernando Figueiredo, também ex-BC, as ações até agora foram na direção certa, mas não o suficiente para reverter o pessimismo, "retroalimentado" pelo aumento no desemprego, pela queda no consumo e por indicadores econômicos débeis. "Há uma série de impulsos -fiscais e monetários-, mas há um ponto relevante -que tem sido endereçado, mas ainda está em aberto- que é a questão bancária."
Para Alexandre Schwartsman, do Santander, a solução para a crise bancária passa pela estatização temporária das instituições menos capitalizadas. Ele vê as ações do governo Obama indo nessa direção, mas "a contragosto" e de forma reativa. "Você não consegue virar as expectativas só com o gogó. Precisa ter alguma coisa por trás mostrando que o negócio está encaminhado. Estou convencido de que o caminho passa pela nacionalização mesmo, com privatização posterior."
"Enquanto não resolver isso, não tem intermediação financeira. A falta de confiança nos bancos desarma tudo, inclusive uma recuperação", diz Freitas.


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