|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Moody's aponta possível calote argentino em 2010
Crise derruba arrecadação, e a Venezuela corta ajuda com queda no petróleo
Imposto sobre exportações agrícolas cai 26,7%; moratória de 2001 dificulta acesso a crédito externo, mas governo acena ao mercado
THIAGO GUIMARÃES
DE BUENOS AIRES
Com arrecadação de impostos e exportações afetadas pela
crise mundial, a Argentina enfrentará dificuldades para pagar suas dívidas em 2010, apontou ontem a agência de classificação de risco Moody's.
"A Argentina deverá ter mais
que o suficiente para financiar
as obrigações de 2009, mas, se a
crise continuar a afetar as receitas, 2010 será muito mais
desafiador", diz nota da agência, para quem o governo Cristina Kirchner terá que escolher
entre "gastos fiscais populares
e pagamento de dívidas".
Ontem, a Bolsa de Valores de
Buenos Aires sofreu queda de
7,41%, afetada pela tensão no
mercado internacional.
O governo argentino terá
cerca de US$ 18 bilhões em dívidas a vencer em 2009 e US$
20 bilhões (o equivalente a 6%
do PIB) em 2010. Mas a crise
mundial afetou as fontes de receita do governo, como os impostos sobre as exportações
agrícolas, cerca de 15% da arrecadação em 2008.
Em janeiro de 2009, por
exemplo, a arrecadação desses
impostos caiu 26,7% na comparação com 2008, por queda nos
preços internacionais de grãos
(41% desde o pico de junho),
menores saldos comerciais decorrentes de baixas na produção e retenção da safra de soja
2007/08 pelos produtores.
E os sinais de retração econômica se acumulam. O superávit
fiscal argentino, que ajudou a
sustentar o "crescimento chinês" no período 2003-2008,
caiu 41% em janeiro.
"Uma forte queda no superávit primário [poupança oficial
para pagar juros] forçaria a Argentina a usar outras fontes de
financiamento, como o Banco
Central e depósitos no sistema
financeiro doméstico, o que reduz as opções de financiamento para 2010", diz a Moody's.
Os canais de financiamento
externo estão praticamente fechados para o país desde 2001,
ano da moratória de US$ 144
bilhões em dívidas, na maior
crise socioeconômica de sua
história. A alternativa Venezuela, fonte de crédito ao país
nos últimos anos, inviabilizou-se com a baixa do petróleo.
Ciente das dificuldades de
caixa, o governo busca acenar
aos investidores. No ano passado, chegou a anunciar reabertura de conversas com donos
de cerca de US$ 20 bilhões em
títulos do país que em 2005 não
aceitaram renegociar a dívida.
Também abriu negociações
com o Clube de Paris (formado
por 19 nações credoras) para
pagar US$ 6,7 bilhões.
As iniciativas foram engavetadas após o agravamento da
crise mundial, mas Cristina
continua enviando sinais ao
mercado. Nas últimas semanas,
conseguiu trocar US$ 6,6 bilhões em títulos emitidos na
crise de 2001 por papéis a vencer em 2014.
Para o analista Alejandro Vinisky, o governo não deve ter
problemas para pagar sua dívida em 2010 se mantiver a atual
política de negociar com credores e reduzir subsídios a setores
como o energético. Ademais,
afirmou, em última instância
poderia recorrer às reservas do
Banco Central, hoje em US$ 47
bilhões.
Texto Anterior: Vinicius Torres Freire: A febre terçã da finança e o Brasil Próximo Texto: Santander compra participação em seguradora Índice
|