São Paulo, terça-feira, 03 de março de 2009

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Moody's aponta possível calote argentino em 2010

Crise derruba arrecadação, e a Venezuela corta ajuda com queda no petróleo

Imposto sobre exportações agrícolas cai 26,7%; moratória de 2001 dificulta acesso a crédito externo, mas governo acena ao mercado


THIAGO GUIMARÃES
DE BUENOS AIRES

Com arrecadação de impostos e exportações afetadas pela crise mundial, a Argentina enfrentará dificuldades para pagar suas dívidas em 2010, apontou ontem a agência de classificação de risco Moody's.
"A Argentina deverá ter mais que o suficiente para financiar as obrigações de 2009, mas, se a crise continuar a afetar as receitas, 2010 será muito mais desafiador", diz nota da agência, para quem o governo Cristina Kirchner terá que escolher entre "gastos fiscais populares e pagamento de dívidas".
Ontem, a Bolsa de Valores de Buenos Aires sofreu queda de 7,41%, afetada pela tensão no mercado internacional.
O governo argentino terá cerca de US$ 18 bilhões em dívidas a vencer em 2009 e US$ 20 bilhões (o equivalente a 6% do PIB) em 2010. Mas a crise mundial afetou as fontes de receita do governo, como os impostos sobre as exportações agrícolas, cerca de 15% da arrecadação em 2008.
Em janeiro de 2009, por exemplo, a arrecadação desses impostos caiu 26,7% na comparação com 2008, por queda nos preços internacionais de grãos (41% desde o pico de junho), menores saldos comerciais decorrentes de baixas na produção e retenção da safra de soja 2007/08 pelos produtores.
E os sinais de retração econômica se acumulam. O superávit fiscal argentino, que ajudou a sustentar o "crescimento chinês" no período 2003-2008, caiu 41% em janeiro.
"Uma forte queda no superávit primário [poupança oficial para pagar juros] forçaria a Argentina a usar outras fontes de financiamento, como o Banco Central e depósitos no sistema financeiro doméstico, o que reduz as opções de financiamento para 2010", diz a Moody's.
Os canais de financiamento externo estão praticamente fechados para o país desde 2001, ano da moratória de US$ 144 bilhões em dívidas, na maior crise socioeconômica de sua história. A alternativa Venezuela, fonte de crédito ao país nos últimos anos, inviabilizou-se com a baixa do petróleo.
Ciente das dificuldades de caixa, o governo busca acenar aos investidores. No ano passado, chegou a anunciar reabertura de conversas com donos de cerca de US$ 20 bilhões em títulos do país que em 2005 não aceitaram renegociar a dívida. Também abriu negociações com o Clube de Paris (formado por 19 nações credoras) para pagar US$ 6,7 bilhões.
As iniciativas foram engavetadas após o agravamento da crise mundial, mas Cristina continua enviando sinais ao mercado. Nas últimas semanas, conseguiu trocar US$ 6,6 bilhões em títulos emitidos na crise de 2001 por papéis a vencer em 2014.
Para o analista Alejandro Vinisky, o governo não deve ter problemas para pagar sua dívida em 2010 se mantiver a atual política de negociar com credores e reduzir subsídios a setores como o energético. Ademais, afirmou, em última instância poderia recorrer às reservas do Banco Central, hoje em US$ 47 bilhões.


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