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DISTENSÃO
Moeda dos EUA caiu ontem a R$ 3,265; mercado já começa a falar em corte da taxa de juros
Para exportadores, dólar abaixo de R$ 3,20 deve causar inquietações
ADRIANA MATTOS
GEORGIA CARAPETKOV
DA REPORTAGEM LOCAL
O dólar "barato", que pode ajudar a reduzir as taxas de inflação e
já faz o mercado falar em corte
das taxas básicas de juros, começa
a causar certa apreensão nos exportadores. Com a continuidade
do bom humor dos investidores,
a cotação da moeda norte-americana caiu ontem mais 1,45% e fechou em R$ 3,265. A queda -esse
é o menor valor desde 14 de janeiro- tem seus efeitos sobre o poder de fogo das exportações brasileiras. E já é alvo de debates entre
lideranças do setor.
Para alguns, o "limite" está em
R$ 3,20 e uma cotação abaixo desse patamar já pode ser vista com
certa apreensão. "Uma cotação
inferior a R$ 3,20 começa a ser
preocupante", diz Roberto Giannetti da Fonseca, ex-secretário-executivo da Camex (Câmara de
Comércio Exterior) e sócio da Silex Trading.
O Iedi, entidade que representa
o setor industrial, já fez as contas.
Uma valorização do real, a ponto
de a média anual ficar perto de R$
3,20, pode levar o país a perder
US$ 4 bilhões em sua balança comercial. "Uma taxa inferior a isso
afeta sim as contas externas", diz
Júlio Sérgio de Almeida, economista do Iedi.
Na simulação, as importações
aumentariam (de US$ 47,5 bilhões para US$ 49 bilhões) pois fica mais barato comprar lá fora,
mas as exportações no ano cairiam de US$ 64,5 bilhões para
US$ 62 bilhões.
Na AEB, entidade que representa o comércio exterior no país, há
posições que se opõem, segundo a
Folha apurou ontem. Há uma
parcela de dirigentes que, após os
consecutivos tropeços do dólar,
vê com certa "inquietação" uma
cotação inferior a R$ 3,20.
Em parte, essa queda da moeda
norte-americana tem certo efeito
sobre a continuidade dos saldos
positivos da balança comercial.
Quanto maior o tombo do dólar
diante do real, menos interessante
torna-se enviar mercadorias para
o exterior. Na prática, o produto
nacional vendido lá fora fica mais
caro para o estrangeiro.
O raciocínio seguido por aqueles mais apreensivos com a desvalorização do dólar centra-se na
necessidade de o país manter saldos comerciais positivos. Ou seja,
exportar sempre mais.
"O que existe é um efeito dominó. Estamos com excelente saldo,
o que reflete nas nossas reservas,
que, por sua vez, tornam o país
menos dependente de capital especulativo. E faz com que caia o
custo financeiro dos recursos
dentro do país. É preciso manter
esse círculo vicioso positivo caminhando", afirmou Giannetti.
Ainda é cedo para qualquer discussão sobre taxas de juros. Mas
analistas do mercado já falam
que, com as sucessivas quedas do
dólar, um corte nas taxas de juros
pode ocorrer em breve. A próxima reunião do Copom (órgão do
BC que define as taxas) ocorre nos
dias 22 e 23 deste mês.
"A queda da Selic [taxa básica
de juros da economia" deve vir
antes do que o mercado imagina.
Talvez seja cedo para uma queda
na próxima reunião, mas é possível que o mercado seja surpreendido por uma queda ainda neste
semestre", diz Alexandre Maia,
economista da Gap Asset Management.
Segundo analistas, o país passa
atualmente por um movimento
de melhora dos indicadores de
mercado que deve se estagnar no
mesmo nível anterior à crise pré-eleitoral do ano passado.
"Ainda temos a "devolução do
pessimismo" do ano passado e
não um otimismo propriamente
dito. O câmbio real atual do dólar
está próximo ao do início do segundo semestre do ano passado",
disse Eduardo Berger, economista do Lloyds TSB.
Além do otimismo dos investidores com o resultado do saldo do
comércio exterior e com a política
adotada pelo governo, os analistas ressaltam que o clima de instabilidade externa, aliado aos baixos juros das economias desenvolvidas, favorece o fluxo de capitais para países emergentes, caso
do Brasil.
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