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São Paulo, quinta-feira, 03 de abril de 2003

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DISTENSÃO

Moeda dos EUA caiu ontem a R$ 3,265; mercado já começa a falar em corte da taxa de juros

Para exportadores, dólar abaixo de R$ 3,20 deve causar inquietações

ADRIANA MATTOS
GEORGIA CARAPETKOV

DA REPORTAGEM LOCAL

O dólar "barato", que pode ajudar a reduzir as taxas de inflação e já faz o mercado falar em corte das taxas básicas de juros, começa a causar certa apreensão nos exportadores. Com a continuidade do bom humor dos investidores, a cotação da moeda norte-americana caiu ontem mais 1,45% e fechou em R$ 3,265. A queda -esse é o menor valor desde 14 de janeiro- tem seus efeitos sobre o poder de fogo das exportações brasileiras. E já é alvo de debates entre lideranças do setor.
Para alguns, o "limite" está em R$ 3,20 e uma cotação abaixo desse patamar já pode ser vista com certa apreensão. "Uma cotação inferior a R$ 3,20 começa a ser preocupante", diz Roberto Giannetti da Fonseca, ex-secretário-executivo da Camex (Câmara de Comércio Exterior) e sócio da Silex Trading.
O Iedi, entidade que representa o setor industrial, já fez as contas. Uma valorização do real, a ponto de a média anual ficar perto de R$ 3,20, pode levar o país a perder US$ 4 bilhões em sua balança comercial. "Uma taxa inferior a isso afeta sim as contas externas", diz Júlio Sérgio de Almeida, economista do Iedi.
Na simulação, as importações aumentariam (de US$ 47,5 bilhões para US$ 49 bilhões) pois fica mais barato comprar lá fora, mas as exportações no ano cairiam de US$ 64,5 bilhões para US$ 62 bilhões.
Na AEB, entidade que representa o comércio exterior no país, há posições que se opõem, segundo a Folha apurou ontem. Há uma parcela de dirigentes que, após os consecutivos tropeços do dólar, vê com certa "inquietação" uma cotação inferior a R$ 3,20.
Em parte, essa queda da moeda norte-americana tem certo efeito sobre a continuidade dos saldos positivos da balança comercial. Quanto maior o tombo do dólar diante do real, menos interessante torna-se enviar mercadorias para o exterior. Na prática, o produto nacional vendido lá fora fica mais caro para o estrangeiro.
O raciocínio seguido por aqueles mais apreensivos com a desvalorização do dólar centra-se na necessidade de o país manter saldos comerciais positivos. Ou seja, exportar sempre mais.
"O que existe é um efeito dominó. Estamos com excelente saldo, o que reflete nas nossas reservas, que, por sua vez, tornam o país menos dependente de capital especulativo. E faz com que caia o custo financeiro dos recursos dentro do país. É preciso manter esse círculo vicioso positivo caminhando", afirmou Giannetti.
Ainda é cedo para qualquer discussão sobre taxas de juros. Mas analistas do mercado já falam que, com as sucessivas quedas do dólar, um corte nas taxas de juros pode ocorrer em breve. A próxima reunião do Copom (órgão do BC que define as taxas) ocorre nos dias 22 e 23 deste mês.
"A queda da Selic [taxa básica de juros da economia" deve vir antes do que o mercado imagina. Talvez seja cedo para uma queda na próxima reunião, mas é possível que o mercado seja surpreendido por uma queda ainda neste semestre", diz Alexandre Maia, economista da Gap Asset Management.
Segundo analistas, o país passa atualmente por um movimento de melhora dos indicadores de mercado que deve se estagnar no mesmo nível anterior à crise pré-eleitoral do ano passado.
"Ainda temos a "devolução do pessimismo" do ano passado e não um otimismo propriamente dito. O câmbio real atual do dólar está próximo ao do início do segundo semestre do ano passado", disse Eduardo Berger, economista do Lloyds TSB.
Além do otimismo dos investidores com o resultado do saldo do comércio exterior e com a política adotada pelo governo, os analistas ressaltam que o clima de instabilidade externa, aliado aos baixos juros das economias desenvolvidas, favorece o fluxo de capitais para países emergentes, caso do Brasil.


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