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São Paulo, quinta-feira, 03 de abril de 2003

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Indicador brasileiro recuou mais 3,38% ontem e fechou a 969 pontos

Risco pode cair a 700 pontos, afirmam bancos americanos

ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK

Estrategistas de bancos estrangeiros avaliam que o risco-país do Brasil, ontem em 969 pontos (com queda de 3,38%), o mais baixo em quase um ano, vai continuar a cair até chegar a um piso ao redor dos 700 pontos.
Após atingir a cotação de US$ 0,4875 em setembro de 2002, o C-Bond, título da dívida brasileira com maior peso na composição do risco-país, subiu 68% nos últimos seis meses e ontem foi comercializado a US$ 0,8188.
Quase consensuais em relação à continuidade da queda do risco, os principais motivos que sustentam tal visão são os seguintes:
1) a alteração, dada como certa [definida na noite de ontem", do artigo 192 da Constituição, que trata do grau de autonomia do Banco Central;
2) a manutenção da popularidade do presidente Lula em níveis elevados e o comportamento de seu governo até este momento;
3) um amplo movimento global em andamento de fuga de capitais das Bolsas em busca da rentabilidade de títulos de mercados emergentes;
4) as perspectivas ruins dos títulos do governo americano.
Há divergência, porém, em relação à velocidade da queda.
Para Luís Fernando Lopes, economista-chefe do JP Morgan no Brasil, a queda pode ser de mais 100 a 150 pontos nas próximas três a quatro semanas.
"Certamente há espaço para continuar a melhorar. O Brasil ainda está 300 pontos acima do "spread" médio do risco-país. Vale notar que o "spread" dos C-bonds era de apenas 680 pontos um ano atrás", diz Graham Stock, estrategista-chefe para a América Latina do JP Morgan.
Já Felipe Illanes, estrategista de títulos do Merrill Lynch para a América Latina, opina que a queda chegará à casa dos 700 pontos apenas mais tarde -e dependerá da aprovação de reformas como a da Previdência no Congresso. "O índice vai encontrando cada vez mais resistência para cair", diz.
O JP Morgan diz que não espera uma aprovação tão rápida assim das reformas, mas acha que isso não causaria tanto estrago assim como muitos esperam.
"Desviar-se das reformas-chave atrapalharia a sustentação da dívida no médio prazo e levaria os investidores a uma posição mais defensiva. Por outro lado, uma negociação surpreendente no Congresso poderia provocar compressão do "spread" e justificar mais exposição. Não esperamos nenhum desses cenários", diz Graham Stock.
O assédio ao Brasil não ocorre de maneira isolada, mas de forma relativamente coordenada com outros mercados emergentes.
"Nosso sentimento é que há agora um movimento das ações para os títulos, que não sejam do governo americano, que estão rendendo pouco, por causa do contexto da economia dos Estados Unidos", diz Felipe Illanes, da Merrill Lynch.
Os estrategistas dizem apenas que o movimento nos números brasileiros têm se destacado entre países semelhantes porque o país começou de um patamar mais alto de risco-país.
A queda no risco abre espaço para que o governo Lula obtenha seu primeiro empréstimo no mercado financeiro internacional e, assim, quebre um jejum de um ano sem captações da República no exterior.
Desde que o risco-país intensificou o ritmo de queda, o Banco Central elevou as consultas a bancos de investimento norte-americanos (como Goldman Sachs, JP Morgan e Merrill Lynch), especializados em coordenar emissões de títulos de dívida no mercado.
De acordo com operadores em Nova York , o Banco Central demonstrou interesse por emissão de prazo de dez anos, pois não há nenhum título do país com vencimento em 2013. O desejo do governo é esperar que a taxa caia abaixo de 900 pontos para anunciar a emissão, segundo apurou a Folha.


Colaborou a Sucursal de Brasília


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