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NOVOS TEMPOS
Com despesas crescentes, instituições como Louvre e Georges Pompidou se abrem a eventos privados e acertam parcerias
França faz museu buscar receita própria
CLARISSE FABRE
DO ""MONDE"
O perfil dos grandes museus se
modificou radicalmente nos últimos 20 anos. Os mais importantes entre eles se tornaram pólos
multiculturais. Suas despesas
também aumentaram. O Estado
os incentiva a adotar uma gestão
que se aproxima da gestão de empresas. Se não o fizerem, correrão
o risco de um déficit cultural.
Estaria a empresa roubando
pouco a pouco o espaço do museu? No último 5 de janeiro, o Museu de Orsay, em Paris, fechou as
portas ao público às 17h30, em lugar das 18h, o horário de costume.
A Electricité de France tinha alugado a antiga estação de Orsay para ali organizar sua cerimônia de
saudação, e seu presidente, Pierre
Gadonneix, queria pronunciar
seu discurso às 19h.
"Foi absolutamente excepcional", explicou o presidente do
museu, Serge Lemoine. "Anunciamos a mudança de horário e
prevenimos os visitantes na entrada." Já Franck Guillaumet, secretário nacional de Cultura da
CGT (Confederação Geral do Trabalho), lamentou: "O museu se
adaptou aos horários da empresa,
em detrimento de sua missão de
servir ao público. Foi o inverso do
que deveria ter acontecido".
No Museu do Louvre, o aluguel
do espaço situado sob a pirâmide
ao Eurosatory -o Salão Europeu
de Comerciantes de Armas-, em
15 de junho de 2004 (ao que consta, por 148 mil), suscitou discussões acaloradas.
Os dois exemplos são reveladores no que diz respeito às tensões
presentes nos museus no momento em que eles são obrigados,
cada vez mais, a contar com seus
próprios recursos (bilheteria, patrocínios, concessões, locações de
espaços etc.). A tendência se observa especialmente no Louvre,
em Versalhes -que reúne o castelo, o museu e o parque-, no
Museu de Orsay e no Centro
Georges Pompidou, onde a pesquisa foi feita.
Nos últimos 20 anos, mais ou
menos, o perfil dos museus na
França mudou radicalmente. Os
maiores se tornaram verdadeiros
pólos multiculturais -como o
Centro Pompidou, do qual o
MNAM (Museu Nacional de Arte
Moderna) é apenas um dos componentes.
Mesmo que a parte das despesas
que é custeada pelo Estado tenha
aumentado, esses estabelecimentos maiores, renovados e dotados
de um quadro de funcionários
maior apresentam despesas cada
vez maiores.
O crescimento dos gastos acontece também porque as obras de
reforma nunca terminam e porque alguns deles projetam a abertura de "antenas" na França ou no
exterior: em Lens (Pas-de-Calais)
no caso do Louvre, em Metz (Moselle) no caso do Centro Pompidou, que, por sinal, é candidato à
criação de um centro de arte moderna em Hong Kong.
Nesse contexto, os diretores dos
grandes museus vêm sendo incentivados pelo Estado a aumentar seus recursos próprios. A progressão desses recursos é muito
perceptível no caso do Louvre,
onde eles passaram de 39,4 milhões em 2000 para 56,7 milhões em 2004 (dados provisórios). Desse total, a bilheteria ocupa o primeiro lugar em razão do
aumento do número de visitantes
(de 5,44 milhões em 1999 para 6,5
milhões em 2004) e do reajuste
dos ingressos, o que, aliás, vem
suscitando polêmica.
"Financiar outros projetos"
A tendência é a mesma em outros museus. No Centro Pompidou, a receita da bilheteria passou
de 6,7 milhões em 2000 para
9,5 milhões em 2004 (um aumento de cerca de 41%). No ano passado, as mostras temporárias atraíram para o Beaubourg (Centro
Pompidou) 1,31 milhão de visitantes, dos quais 475 mil para ver
a mostra de Miró. "É desejável
termos pelo menos uma exposição por ano capaz de atrair o
grande público. Isso nos permitirá financiar outros projetos menos rentáveis", diz o presidente
do centro, Bruno Racine.
Outras práticas mais discretas
também levam dinheiro aos museus ou, pelo menos, lhes permitem fazer economias. A convenção de troca de produtos é uma
delas: uma revista oferece a um
museu uma página de publicidade gratuita, e o museu, em contrapartida, aluga seu espaço à revista
(para um evento fechado de uma
noite, por exemplo) por um preço
preferencial. Esse tipo de parceria
permitiu ao Centro Pompidou recolher 2,99 milhões em 2004.
Os restaurantes e as lojas presentes nos museus não são apenas
prestadores de serviços: eles também alimentam a tesouraria das
instituições. Esses estabelecimentos revertem aos museus um valor
que varia segundo seu faturamento. O sistema não é novo, mas é lucrativo. Com isso o Louvre recebeu 3,43 milhões em 2004, Versalhes, 2,49 milhões, e Orsay,
504 mil.
O Centro Pompidou recebeu
2,54 milhões, graças especialmente a seu restaurante Georges,
que tem a vantagem de permanecer aberto à noite, depois do horário de fechamento do museu e das
exposições.
O patrocínio é algo mais aleatório, mas que vem ganhando força
desde a aprovação da lei de 1º de
agosto de 2003, votada sob a égide
do ex-ministro da Cultura e da
Comunicação Jean-Jacques Aillagon, que permite às empresas deduzir de seus impostos devidos
60% das doações efetuadas.
No caso do Louvre, as receitas
obtidas com patrocínios passaram de 3,29 milhões em 2002
para 10,6 milhões em 2004.
"Procuramos as empresas que
podem encontrar em nosso projeto uma ressonância com sua
imagem. O patrocínio também
serve para financiar operações
pontuais e necessariamente deficitárias, tais como a exposição
Primatice, patrocinada pelo [do
banco] Morgan Stanley", explica
o presidente-diretor do Museu do
Louvre, Henri Loyrette.
Sem criticar o patrocínio, que
sempre existiu, alguns observadores temem suas possíveis conseqüências: "Por exemplo, quando a empresa começa a achar que
o museu é dela e acaba tomando
decisões no lugar dos conservadores ou ameaça retirar seu financiamento se esses não cederem a
seus desejos", indica Didier
Rykner, fundador do site "La Tribune de l'Art".
Contrato de desempenho
O Louvre assinou com o Estado,
para os exercícios de 2003 a 2005,
um contrato de objetivos e meios
pelo qual o museu se compromete, entre outros objetivos, a "manter o alto nível de freqüência" e
"otimizar seus recursos financeiros". Com relação a esse ponto, o
estabelecimento público deve "seguir uma política de desenvolvimento de patrocínios, diversificar
suas fontes de receita e desenvolver as já existentes. Com isso, a valorização do patrimônio e a rentabilidade das concessões do museu
serão analisadas conjuntamente",
diz o documento.
O contrato, até agora restrito ao
Louvre, será generalizado: "A
partir de 2006, esse tipo de contrato será adotado em todos os museus e estabelecimentos públicos
e terá o nome de contrato de desempenho", declarou a diretora
da entidade Museus da França,
Francine Mariani-Ducray.
Tradução de Clara Allain
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