São Paulo, sexta-feira, 03 de abril de 2009

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Lula se gaba de empréstimo para turbinar o FMI

DE LONDRES

O primeiro empréstimo do Brasil ao FMI (Fundo Monetário Internacional) ainda depende de uma decisão fundamental: como fazê-lo de modo que o valor não seja contabilmente descontado das reservas do país.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem que técnicos da sua pasta estudam a possibilidade de o Brasil investir em títulos do próprio FMI e se esse valor poderia ser contado como "investimento" -o que permitiria, ao menos pelo lado técnico, que o dinheiro continuasse sendo contado normalmente nas reservas.
O valor do aporte ainda não foi revelado, e Mantega disse que só vai definir o montante depois de conversa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O ministro se recusou a dizer até em torno de que patamar seria a contribuição, mas aproveitou para cutucar a China, que teria prometido aporte de US$ 40 bilhões. "Se eu tivesse US$ 2 trilhões de reservas, com certeza daria mais."
O anúncio deve sair nos próximos dias. Como condição, o dinheiro deverá servir para ajudar países emergentes, especialmente os latinos.
"Gostaria de passar para a história como o presidente que emprestou dinheiro ao FMI", disse Lula, que já usou amplamente na campanha de 2006 o fato de ter quitado o empréstimo contraído por Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) com o Fundo. "Você não acha chique o Brasil emprestar dinheiro para o FMI? Não é uma coisa soberana?", brincou o presidente.
Apesar do tom geral de otimismo, o brasileiro deixou uma porta aberta para tempos mais difíceis: "Agora não precisamos. Mas não tem soberba. Porque, se algum dia precisar e o Fundo por a única fonte, nós vamos atrás".
A reforma do FMI, prevista para ser concluída até janeiro de 2011, está no horizonte do país. A cota do Brasil no FMI atualmente é de apenas 1,7% do total, apesar de o país estar atualmente entre as dez maiores economias do planeta.
Em seu discurso no encerramento da cúpula, o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, disse que as reformas vão ocorrer e que a nomeação da direção do Fundo vai passar a ser "por mérito". Atualmente, a escolha é feita basicamente por um acordo entre europeus e norte-americanos.
Em noite inspirada após o aparente sucesso da reunião, Lula disse em entrevista que ninguém deve ter medo de "cara feia". "Se o [boxeador] Cassius Clay tivesse medo de cara feia, tinha perdido para o Foreman naquela luta no Zaire [em 1974]. Eu me considero o Cassius Clay dessa crise, quero dar uma muqueta nessa crise", disse. (PDL)

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