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São Paulo, sábado, 03 de maio de 2003

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O VAIVÉM PRESIDENCIAL

Presidente tenta corrigir sugestão de intervenção; moeda dos EUA fecha em R$ 2,965, alta de 1,86%

Lula diz que não vai "meter o dedo no dólar"

PLÍNIO FRAGA
ENVIADO ESPECIAL A RIBEIRÃO PRETO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentou corrigir ontem o impacto de suas declarações sobre a possibilidade de o governo vir a intervir no mercado de câmbio e afirmou que o importante é a estabilidade do dólar.
"O papel do governo é afirmar a todo e qualquer momento que a nossa lógica é que o dólar continuará flutuante e quem determinará seu preço será o mercado. O governo não vai meter o dedo na questão do dólar", declarou Lula, em Sertãozinho (SP).
A repercussão das declarações de Lula fez o dólar fechar ontem cotado a R$ 2,965, alta de 1,86% em relação ao fechamento de quarta-feira. Apesar da alta de ontem, a moeda norte-americana terminou a semana em baixa de 1,46%.
Segundo analistas, a moeda oscilou principalmente em razão de movimentos especulativos. Devido ao feriado do Dia do Trabalho na quinta-feira, o movimento no mercado de câmbio ontem foi reduzido, o que favoreceu as oscilações nas cotações.
Para eles, a dissonância entre os diversos integrantes do governo em relação ao câmbio ainda não foi devidamente absorvida pelo mercado. Ou seja, o rumo que o BC deverá tomar ainda não é certo, mas, pelo menos por enquanto, a maioria acredita que não haverá uma intervenção direta na cotação do dólar.
Dessa forma, os investidores esperam que a repercussão das últimas declarações deva tomar mais força na segunda-feira, quando o movimento nas negociações também voltará ao normal.

Só mercado
Em 4 de abril, o presidente havia dito que o dólar seria regulado somente pelo mercado. Mas, anteontem, havia afirmado que o governo não deseja que a moeda americana caia tanto. Ontem tentou se explicar.
"Não há um valor do dólar simpático ao presidente da República. Ouço gente dizer: seria bonito que ele fosse R$ 2,60, R$ 3,20. Mas não há um dólar bonito para nós. O dólar será bonito quando atingir um patamar de estabilidade. E a gente puder trabalhar o ano inteiro sabendo que o dólar estará estável. Assim, poderemos fazer os nossos negócios sem medo da oscilação da moeda. Essa é a lógica", disse o presidente.
Lula participou pela manhã em Sertãozinho da inauguração de uma unidade de geração de energia termelétrica a partir do bagaço da cana-de-açúcar e à tarde visitou a Agrishow 2003 (Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação), em Ribeirão Preto.
Durante a visita à usina, o presidente discursou para cerca de 500 trabalhadores. Lembrou que, quando tomou posse, o dólar estava quase em R$ 4, o risco Brasil acima de 2.000 pontos e as empresas brasileiras não conseguiam financiamento externo para suas exportações.

Noite na fazenda
"Ao contrário do que os pessimistas falavam na minha posse, o dólar está caindo. E graças a Deus ele está caindo. Agora, ironicamente, a gente vê o quê? Um grupo de companheiros que exportam querendo que o dólar não caia muito; do outro lado, companheiros que importam querendo que o dólar caia", declarou.
Sem citar nominalmente Fernando Henrique Cardoso, criticou a política cambial de seu antecessor. "Passamos quatro anos alertando o ex-presidente da República de que era preciso mudar a política cambial porque não era verdade que R$ 1 valia US$ 1."
Lula passaria a noite de ontem na fazenda Santa Izabel, de propriedade dos filhos do ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues.


Colaboraram EVANDRO SPINELLI, da Folha Ribeirão, e a Reportagem Local


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