UOL


São Paulo, sábado, 03 de maio de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LUÍS NASSIF

Déjà-vu e alienação do poder

Relendo minhas colunas, para um livro sobre a imprensa de opinião nos anos 90, selecionei colunas escritas no início da apreciação do real. Como neste país a única coisa que tem continuidade são os erros de política econômica, repito algumas dessas colunas, que mantêm a atualidade.
Favor trocar apenas a data para maio de 2003.
 1º de dezembro de 1994
"(...) Em todo processo de estabilização, o pico de recursos externos é nos primeiros anos, quando os ativos locais estão depreciados por anos de crise, permitindo ganhos maiores a quem os compra.
Depois que os preços atingem níveis internacionais -devido tanto à valorização interna quanto à valorização da moeda local-, tornam-se menos interessantes para o capital de risco. (...) Cria-se o pior dos mundos. Quanto mais aumenta o déficit em transações correntes, mais aumenta o risco do país. Quanto mais aumenta o risco, mais reduz-se o ingresso de capitais externos.
Se a ancoragem é essencial, não se poderia ter deixado o câmbio cair tanto."
 28 de abril de 1995
"A questão é que a equipe econômica só vai se dar conta do desastre depois que estiver consumado um estrago considerável na economia. E qual o objetivo dessa violência? Varrer por mais alguns meses para debaixo do tapete os erros cometidos na política cambial. (...) O pior da história é que essa recessão não vai resolver, por si, a questão do desajuste cambial. Vai ter que se fazer o ajuste mais à frente e em cima de uma economia desorganizada."
 12 de maio de 1995
"A estabilidade é de curto prazo, porque basta os agentes econômicos analisarem as curvas de progressão da dívida pública para constatarem que essa maluquice não se mantém. Basta o especulador aguardar o governo perder o fôlego para voltar matando.
Mantida essa política, permanecerá a inevitabilidade do ajuste cambial. Só que o ajuste terá que ser feito com uma ampla desorganização do setor real da economia, riscos de crise financeira, inviabilização da rolagem das dívidas estaduais e federais."
 22 de maio de 1995
"A médio prazo, essa política não só não resolve como aprofunda e inviabiliza qualquer ajuste fiscal futuro. Até agora (as exportações de manufaturados) não desabaram completamente porque muitas empresas resolveram bancar o prejuízo por algum tempo, para não perderem mercado lá fora, enquanto aguardavam a inversão dessa loucura.
Com o acréscimo adicional de custos provocado por essas taxas malucas e perdendo a esperança de uma reviravolta a curto prazo no cenário, a queda das exportações de manufaturados passará a ser geométrica, com todo o componente de quebradeira e desemprego."
 16 de julho de 1995
"Nos últimos dias o presidente da República passou a se queixar amargamente das tempestades que começa a colher agora e que poderiam ter sido evitadas se combatidas a tempo -caso da balança comercial e da crise da agricultura.
(...) FHC foi vítima do isolamento do poder e da alienação da realidade. Trata-se de típico fenômeno de grandes organizações burocráticas que não dispõem nem de plano estratégico nem de sistemas eficientes de informação alimentando seu "board"."

E-mail- luisnassif@uol.com.br



Texto Anterior: Dragão manso: Dilma diz que preço do gás de cozinha cai logo
Próximo Texto: Energia: Governo solta R$ 500 mi para estoque de álcool
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.