UOL


São Paulo, sábado, 03 de maio de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

País começa a escapar do capital de curto prazo

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Brasil já começou a escapar do capital de curto prazo, dinheiro que deixa o país ao menor sinal de fragilidade da economia. Dos últimos 16 empréstimos tomados por bancos, empresas e pelo governo no exterior no mês passado, por meio de emissão de títulos de dívida, 12 foram pelo prazo de 12 meses ou superior (leia quadro ao lado).
Tecnicamente, são de curto prazo operações inferiores a um ano. Uma das principais vantagens do capital de médio e longo prazo é que são recursos normalmente destinados a financiar o setor real da economia, como indústrias e prestadoras de serviços.
Portanto é dinheiro que não foge do país a qualquer sobressalto no mercado financeiro.
"Os bancos tendem a utilizar esses recursos para financiar projetos de mais longo prazo, como a construção de uma nova planta industrial", diz Luiz Maurício Jardim, diretor de tesouraria internacional do Unibanco.
Na última terça-feira, o Unibanco concluiu uma captação de recursos no mercado europeu pelo prazo de 18 meses.
Na quinta-feira passada, o banco Votorantim concluiu a emissão de títulos no mercado internacional com vencimento em 30 meses.

Perfil melhora
Aspecto importante da ampliação do prazo das captações é que o perfil do endividamento brasileiro melhora. Quanto menor o prazo de vencimento da dívida, mais arriscada a economia fica na avaliação dos investidores.
Como o capital de curto prazo é volátil, o governo e as empresas podem ter dificuldade, repentinamente, em obter crédito externo para honrar seus compromissos se o capital deixar o país.
Ao longo do ano passado, devido à crise de confiança nos mercados financeiros em relação ao Brasil, por conta da sucessão presidencial, investidores e bancos estrangeiros cortaram as linhas de crédito ao governo e aos bancos e empresas aqui instalados.

Especulação
Além disso, o capital de curto prazo costuma entrar no país não para a concessão de crédito, mas sim para a especulação, como para aproveitar as altas taxas de juros no mercado doméstico.
Os bancos só voltaram a obter recursos na praça financeira internacional no começo deste ano, mas ao prazo médio de seis meses. Até março, a grande maioria das captações vencia ainda neste ano.
Da semana passada para cá, dois bancos lançaram papéis no mercado com prazo de 18 meses (Unibanco e Bradesco), e o Votorantim, de dois anos e meio.
No dia 29 de abril, o governo também foi ao mercado internacional, depois de um ano sem nenhuma captação, numa operação de três anos e sete meses.
Os títulos lançados pelo Tesouro tiveram demanda cinco vezes superior à oferta inicial, de US$ 750 milhões a US$ 1 bilhão.
As ofertas de compra dos papéis brasileiros somaram aproximadamente US$ 6 bilhões, apesar de o Banco Central ter preferido vender apenas US$ 1 bilhão.
O fato de muitos investidores não terem conseguido adquirir o papel do governo abre espaço para que empresas e bancos também lancem títulos no exterior, por prazos mais longos.
"A demanda por papéis brasileiros com prazo maior está aumentando", disse o diretor de tesouraria do Votorantim, Milton Eggers.
Inicialmente, a idéia do banco era captar US$ 50 milhões e ter encerrado a operação na última quarta-feira. Devido à grande procura pelos títulos, no entanto, a instituição deixou para concluir a emissão um dia depois.
O banco vendeu US$ 80 milhões dos papéis.

Juros e risco-país
O aumento da procura pelos papéis brasileiros também ajuda derrubar os juros cobrados sobre os empréstimos e o risco-país (taxa paga pelos títulos da dívida externa do governo acima do rendimentos dos papéis do Tesouro americano).
Os investidores aceitam receber menos para adquirir os títulos. No começo do ano, o Votorantim pagou juros de 7,25% ao ano sobre papéis de 11 meses de prazo. A emissão finalizada na última quinta-feira, de prazo quase três vezes maior, ficou com uma taxa de 7,5%.
A estratégia do BC em não vender a totalidade dos papéis na semana passada também está relacionada à queda do risco-país. A demanda não atendida pelos novos títulos pode ser transferida aos papéis do governo negociados no mercado secundário.
A maior procura reduz a taxa de juros cobrada sobre os papéis de segunda mão.



Texto Anterior: Saldo da balança comercial é o maior desde 88
Próximo Texto: Panorâmica - Impostos: Queda da arrecadação de IPI no setor de bebidas faz Receita "apertar" fiscalização
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.