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País começa a escapar do capital de curto prazo
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Brasil já começou a escapar
do capital de curto prazo, dinheiro que deixa o país ao menor sinal
de fragilidade da economia. Dos
últimos 16 empréstimos tomados
por bancos, empresas e pelo governo no exterior no mês passado, por meio de emissão de títulos
de dívida, 12 foram pelo prazo de
12 meses ou superior (leia quadro
ao lado).
Tecnicamente, são de curto prazo operações inferiores a um ano.
Uma das principais vantagens do
capital de médio e longo prazo é
que são recursos normalmente
destinados a financiar o setor real
da economia, como indústrias e
prestadoras de serviços.
Portanto é dinheiro que não foge do país a qualquer sobressalto
no mercado financeiro.
"Os bancos tendem a utilizar esses recursos para financiar projetos de mais longo prazo, como a
construção de uma nova planta
industrial", diz Luiz Maurício Jardim, diretor de tesouraria internacional do Unibanco.
Na última terça-feira, o Unibanco concluiu uma captação de recursos no mercado europeu pelo
prazo de 18 meses.
Na quinta-feira passada, o banco Votorantim concluiu a emissão de títulos no mercado internacional com vencimento em 30
meses.
Perfil melhora
Aspecto importante da ampliação do prazo das captações é que
o perfil do endividamento brasileiro melhora. Quanto menor o
prazo de vencimento da dívida,
mais arriscada a economia fica na
avaliação dos investidores.
Como o capital de curto prazo é
volátil, o governo e as empresas
podem ter dificuldade, repentinamente, em obter crédito externo
para honrar seus compromissos
se o capital deixar o país.
Ao longo do ano passado, devido à crise de confiança nos mercados financeiros em relação ao
Brasil, por conta da sucessão presidencial, investidores e bancos
estrangeiros cortaram as linhas de
crédito ao governo e aos bancos e
empresas aqui instalados.
Especulação
Além disso, o capital de curto
prazo costuma entrar no país não
para a concessão de crédito, mas
sim para a especulação, como para aproveitar as altas taxas de juros no mercado doméstico.
Os bancos só voltaram a obter
recursos na praça financeira internacional no começo deste ano,
mas ao prazo médio de seis meses. Até março, a grande maioria
das captações vencia ainda neste
ano.
Da semana passada para cá,
dois bancos lançaram papéis no
mercado com prazo de 18 meses
(Unibanco e Bradesco), e o Votorantim, de dois anos e meio.
No dia 29 de abril, o governo
também foi ao mercado internacional, depois de um ano sem nenhuma captação, numa operação
de três anos e sete meses.
Os títulos lançados pelo Tesouro tiveram demanda cinco vezes
superior à oferta inicial, de US$
750 milhões a US$ 1 bilhão.
As ofertas de compra dos papéis
brasileiros somaram aproximadamente US$ 6 bilhões, apesar de
o Banco Central ter preferido vender apenas US$ 1 bilhão.
O fato de muitos investidores
não terem conseguido adquirir o
papel do governo abre espaço para que empresas e bancos também lancem títulos no exterior,
por prazos mais longos.
"A demanda por papéis brasileiros com prazo maior está aumentando", disse o diretor de tesouraria do Votorantim, Milton
Eggers.
Inicialmente, a idéia do banco
era captar US$ 50 milhões e ter
encerrado a operação na última
quarta-feira. Devido à grande
procura pelos títulos, no entanto,
a instituição deixou para concluir
a emissão um dia depois.
O banco vendeu US$ 80 milhões
dos papéis.
Juros e risco-país
O aumento da procura pelos papéis brasileiros também ajuda
derrubar os juros cobrados sobre
os empréstimos e o risco-país (taxa paga pelos títulos da dívida externa do governo acima do rendimentos dos papéis do Tesouro
americano).
Os investidores aceitam receber
menos para adquirir os títulos.
No começo do ano, o Votorantim
pagou juros de 7,25% ao ano sobre papéis de 11 meses de prazo. A
emissão finalizada na última
quinta-feira, de prazo quase três
vezes maior, ficou com uma taxa
de 7,5%.
A estratégia do BC em não vender a totalidade dos papéis na semana passada também está relacionada à queda do risco-país. A
demanda não atendida pelos novos títulos pode ser transferida
aos papéis do governo negociados
no mercado secundário.
A maior procura reduz a taxa de
juros cobrada sobre os papéis de
segunda mão.
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