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FOLHAINVEST
RANKING DE FUNDOS
Conheça os melhores dos 15 meses iniciais de Lula; quem apostou na manutenção da política monetária lucrou
Investidor ganhou com a ortodoxia do PT
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
O cenário para as aplicações financeiras está nublado. Mesmo
os mais experientes gestores de
recursos têm dificuldades em
apontar -com segurança- os
desdobramentos que a alta dos
juros americanos, prevista para
ocorrer nos próximos meses, poderá causar na economia.
No início do ano passado era
bem mais fácil tomar uma posição. Quem olhasse 12 meses à
frente tinha duas apostas claras a
fazer: na primeira, o governo petista daria o calote na dívida, jogando o risco Brasil para as nuvens, catapultando o dólar, a inflação e os juros. O investidor que
acreditou nesse cenário aplicou
em dólar ou fundo cambial e se
deu mal.
A outra aposta, feita pela maioria do mercado, foi que Luiz Inácio Lula da Silva faria, inevitavelmente, uma política conservadora, que incluiria a derrubada gradual da taxa de juros. Quem apostou no conservadorismo do PT
ganhou dinheiro.
O balanço da rentabilidade dos
fundos de investimento em 15
meses de governo Lula (1º de janeiro de 2003 a 31 de março deste
ano) mostra que o recuo lento dos
juros beneficiou todas as categorias de fundos -menos a dos
cambiais.
O ranking foi preparado pelo
Labfin (Laboratório de Finanças
da Fundação Instituto de Administração da Faculdade de Economia e Administração da USP),
com exclusividade para a Folha.
Mas foram os fundos de ações
os que mais capitalizaram a lua-de-mel do governo com o mercado. Nos 15 meses analisados, os
fundos de ações renderam
82,53%, em média, impulsionados pela alta da Bolsa.
"A situação se inverteu em relação a 2002, quando os fundos
cambiais foram os mais rentáveis,
e os de ações se deram mal", diz
André Oda, supervisor do Guia de
Fundos do Labfin.
Houve prêmios também para a
diversificação: os fundos livres,
que aplicam em vários tipos de
ativo (ações, câmbio, renda fixa)
foram os vice-campeões do ranking do Labfin.
Daqui para frente, entretanto,
os analistas dizem que há pouco
espaço para a Bolsa subir e o juro
cair. "Se os juros americanos subirem sem grandes traumas, só
para recuperar sua média histórica, a Bovespa [Bolsa de Valores de
São Paulo] poderá subir um pouco. Mas isso não é certeza", diz
Marcelo Giufrida, vice-presidente
da Anbid (Associação Nacional
dos Bancos de Investimento).
Na renda fixa, a margem de ganho também é pequena. "A Selic
poderá cair de 16% para 14% ao
ano até dezembro. O impacto será
pequeno nos fundos de renda fixa", diz Jorge Simino, sócio-diretor da MS Consult.
Transição
O que todos temem é que a recuperação dos juros americanos
enxugue o fluxo de capital financeiro para o país e puxe o dólar
para cima -o que teria impacto
sobre a inflação. Nesse quadro, o
Banco Central poderá dar mais
uma parada no corte dos juros,
postergando, mais uma vez, o
crescimento econômico.
"Estamos vivendo uma situação
parecida com a de 2001, quando a
Argentina balançava, mas não
caía e o mercado financeiro local
ficou sofrendo, como um nervo
exposto", diz Giufrida.
As oscilações recentes do câmbio e do risco-país e as quedas da
Bolsa prenunciam essa mudança
de cenário que deverá ocorrer
num horizonte de médio prazo.
"Havia uma liqüidez internacional favorável aos mercados
emergentes, como o Brasil. Agora, as pessoas sabem que em algum momento os juros americanos vão subir e estão se preparando para a mudança", acrescenta.
O momento é de transição e exige que os investidores fiquem
atentos na hora de aplicar suas
economias. Nas últimas semanas
o mercado financeiro oscilou a
cada má notícia do exterior.
Se as maiores ameaças vêm do
cenário externo, suas conseqüências internamente poderão acirrar as pressões políticas sobre o
governo para que ele mude os rumos da política econômica, segundo analistas.
"Poderemos estar vivendo um
cenário totalmente diferente nos
próximos meses, fruto de um
acirramento da questão social e
de uma possível crise que essa situação poderá abrir dentro do governo", diz Emanuel Pereira, sócio da GAP Asset Management.
Na sua opinião, a corrente mais
forte hoje no governo, a do ministro Antonio Palocci, da Fazenda,
"talvez não agüente muito tempo
as pressões externas e as sociais".
Ele lembra que o próprio presidente da República tem manifestado dúvidas sobre os rumos da
economia. O resultado dessa fissura é a saída de investidores estrangeiros nos últimos meses.
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