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Brasil depende do transporte rodoviário
Frota com idade média de duas décadas movimenta cerca de 60% da carga no país; investimento não atende demanda
"Distorção" causada por motoristas autônomos inibe novos investimentos de empresas formais; ferrovias
têm problemas estruturais
DA REPORTAGEM LOCAL
Nos últimos dois anos, o Brasil investiu cerca de US$ 1,8 bilhão/ano para ampliar e recuperar as suas rodovias. A China,
com padrão de transporte semelhante, está investindo US$
70 bilhões entre 2006 e 2008.
O censo de 2006 da CNT
(Confederação Nacional do
Transporte) constatou que 41%
da malha rodoviária federal se
encontrava em estado ruim ou
péssimo (contra apenas 4% das
estradas com pedágios).
Além de ter estradas ruins e
uma frota de caminhões com
idade média de quase duas décadas, o Brasil é exageradamente dependente do modal
rodoviário: 60% da carga do
país se move em 1,7 milhão de
veículos de carga e distribuição.
Segundo Paulo Fernando
Fleury, professor do Coppead
(instituto de pós-graduação e
pesquisa em administração) da
UFRJ e diretor do Centro de
Estudos em Logística, mais da
metade dos caminhões no Brasil é de motoristas autônomos,
que trabalham sem regras formais para garantir a qualidade
do transporte ou um número
máximo de horas ao volante.
Somados à forte sonegação
entre os autônomos e ao sobrepeso de carga nos caminhões
(90% das balanças rodoviárias
estão desativadas), esses motoristas acabam, de acordo com
Fleury, "desvirtuando" o mercado de transporte no país.
"Em muitos casos, o preço
mínimo que uma concessionária de ferrovia poderia cobrar é
muito maior do que o custo do
transporte usando esses caminhoneiros. Isso inibe uma série
de investimentos ferroviários e
rodoviários de empresas legalmente constituídas", afirma.
Geraldo Vianna, presidente
da Associação Nacional do
Transporte de Cargas e Logística, afirma que nesse momento
de aumento da demanda por
transporte são justamente os
autônomos quem têm mais poder para aumentar o valor dos
fretes -já que as transportadoras maiores geralmente trabalham com contratos de médio e
longo prazo com a indústria e o
comércio.
Ferrovias
As deficiências e gargalos não
se restringem ao setor rodoviário. Segundo levantamento da
CNI, existem hoje 434 invasões
(favelas, por exemplo) nas chamadas "faixas de domínio" das
ferrovias e mais de 2.500 passagens de nível em estado considerado crítico. Isso acaba resultando em baixa velocidade média do tráfego de trens e em
custos mais altos.
Entre 1996 e 2005, as empresas privadas concessionárias de
ferrovias realizaram investimentos de cerca de R$ 10 bilhões, modernizando ramais e
comprando 18,9 mil novos vagões.
Em muitos casos, no entanto,
o investimento é muito pequeno tendo em conta a demanda
futura esperada.
Uma das exceções é a maior
empresa ferroviária do Brasil, a
MRS Logística, que está programando forte aumento nos
investimentos para os próximos anos.
Segundo o presidente da
MRS, Julio Fontana Neto, a
empresa tem a peculiaridade
de ser controlada por companhias que se utilizam de seus
serviços, como a Vale do Rio
Doce e algumas das maiores siderúrgicas do país.
Até 2011, a MRS pretende investir cerca de US$ 1 bilhão para aumentar a atual capacidade
de transporte de 130 milhões
de toneladas para até 230 milhões de toneladas.
(FCZ)
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