São Paulo, domingo, 03 de junho de 2007

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Brasil depende do transporte rodoviário

Frota com idade média de duas décadas movimenta cerca de 60% da carga no país; investimento não atende demanda

"Distorção" causada por motoristas autônomos inibe novos investimentos de empresas formais; ferrovias têm problemas estruturais

DA REPORTAGEM LOCAL

Nos últimos dois anos, o Brasil investiu cerca de US$ 1,8 bilhão/ano para ampliar e recuperar as suas rodovias. A China, com padrão de transporte semelhante, está investindo US$ 70 bilhões entre 2006 e 2008.
O censo de 2006 da CNT (Confederação Nacional do Transporte) constatou que 41% da malha rodoviária federal se encontrava em estado ruim ou péssimo (contra apenas 4% das estradas com pedágios).
Além de ter estradas ruins e uma frota de caminhões com idade média de quase duas décadas, o Brasil é exageradamente dependente do modal rodoviário: 60% da carga do país se move em 1,7 milhão de veículos de carga e distribuição.
Segundo Paulo Fernando Fleury, professor do Coppead (instituto de pós-graduação e pesquisa em administração) da UFRJ e diretor do Centro de Estudos em Logística, mais da metade dos caminhões no Brasil é de motoristas autônomos, que trabalham sem regras formais para garantir a qualidade do transporte ou um número máximo de horas ao volante.
Somados à forte sonegação entre os autônomos e ao sobrepeso de carga nos caminhões (90% das balanças rodoviárias estão desativadas), esses motoristas acabam, de acordo com Fleury, "desvirtuando" o mercado de transporte no país.
"Em muitos casos, o preço mínimo que uma concessionária de ferrovia poderia cobrar é muito maior do que o custo do transporte usando esses caminhoneiros. Isso inibe uma série de investimentos ferroviários e rodoviários de empresas legalmente constituídas", afirma.
Geraldo Vianna, presidente da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística, afirma que nesse momento de aumento da demanda por transporte são justamente os autônomos quem têm mais poder para aumentar o valor dos fretes -já que as transportadoras maiores geralmente trabalham com contratos de médio e longo prazo com a indústria e o comércio.

Ferrovias
As deficiências e gargalos não se restringem ao setor rodoviário. Segundo levantamento da CNI, existem hoje 434 invasões (favelas, por exemplo) nas chamadas "faixas de domínio" das ferrovias e mais de 2.500 passagens de nível em estado considerado crítico. Isso acaba resultando em baixa velocidade média do tráfego de trens e em custos mais altos.
Entre 1996 e 2005, as empresas privadas concessionárias de ferrovias realizaram investimentos de cerca de R$ 10 bilhões, modernizando ramais e comprando 18,9 mil novos vagões.
Em muitos casos, no entanto, o investimento é muito pequeno tendo em conta a demanda futura esperada.
Uma das exceções é a maior empresa ferroviária do Brasil, a MRS Logística, que está programando forte aumento nos investimentos para os próximos anos.
Segundo o presidente da MRS, Julio Fontana Neto, a empresa tem a peculiaridade de ser controlada por companhias que se utilizam de seus serviços, como a Vale do Rio Doce e algumas das maiores siderúrgicas do país.
Até 2011, a MRS pretende investir cerca de US$ 1 bilhão para aumentar a atual capacidade de transporte de 130 milhões de toneladas para até 230 milhões de toneladas. (FCZ)


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