São Paulo, quarta-feira, 03 de julho de 2002 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
COLAPSO DA ARGENTINA BID afirma que não vai rolar dívida de US$ 700 mi EUA e FMI negam pressão por eleições antecipadas
MARCIO AITH DE WASHINGTON Os EUA e o FMI (Fundo Monetário Internacional) negaram ontem ter pressionado o presidente da Argentina, Eduardo Duhalde, a antecipar as eleições no país. E creditaram o fato a motivos domésticos sobre os quais não caberia a seus dirigentes comentar. No entanto há sinais claros de que a imagem e a credibilidade de Duhalde em Washington se deterioraram muito nos últimos meses e que o presidente começava a ser visto como um obstáculo, e não um instrumento para o que, segundo o Fundo e a Casa Branca, deve ser feito a fim de reformar a economia do país. Em conversas reservadas, autoridades americanas sugeriram recentemente a antecipação das eleições como forma de renovar e legitimar a liderança política no país -Duhalde não foi eleito, chegou ao poder após a renúncia de Fernando De La Rúa, para quem perdera as eleições de 2001. O diário argentino "Clarín" expôs uma dessas conversas há dois meses, o que causou uma crise diplomática e gerou um desmentido dos EUA, que procuram cada vez mais afastar-se de acusações de intervencionismo na América Latina devido a crises anteriores. Quando o governo da Venezuela sofreu um golpe de Estado, em abril, o subsecretário de Estado dos EUA para a América Latina, Otto Reich, chegou a insinuar, numa reunião de emergência com embaixadores da região, que a legitimidade de Duhalde era igual à do governo golpista em Caracas. Outros sinais públicos também foram transmitidos nesse sentido pelo FMI, embora de forma muito mais discreta e menos direta. Na segunda-feira, o diretor-gerente do FMI, Horst Köhler, afirmou que "a falta de confiança dos argentinos em seu governo e em seu sistema político é o problema mais difícil do país". Apesar disso, o porta-voz do FMI para a América Latina, Francisco Baker, disse ontem que não houve pressão do Fundo para que Duhalde cortasse seu próprio mandato, afirmação com a qual concordam analistas em Washington. Segundo eles, o assunto é mais complexo do que parece e o Fundo está num dilema difícil de ser resolvido. "Não acho que o Fundo vá abrir um precedente histórico e começar a exigir a troca de governos", disse à Folha Miguel Diaz, do CSIS (Center for Strategic and International Studies). "No entanto, mesmo se o FMI chegue à conclusão de que o presidente deve antecipar sua saída, qual é a garantia de que o substituto de Duhalde, eleito por uma população altamente desiludida, não será ainda mais anti-Fundo e antiamericano?" O anúncio de Duhalde ocorre num momento delicado para o país. O BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) anunciou ontem que não poderá rolar a dívida de US$ 700 milhões que a Argentina deve fazer à instituição ainda em julho, apesar dos apelos feitos pela equipe de Duhalde. Com isso, a Argentina depende da liberação de empréstimos do FMI para pagar o BID ainda neste mês -situação insólita para um país que não consegue nem financiar suas exportações. O principal porta-voz do Fundo, Thomas Dawson, disse ontem não haver certeza de que a Argentina receberá esses recursos. Texto Anterior: Menem anuncia candidatura, mas há dúvida legal Próximo Texto: Duhalde chegou ao poder em janeiro Índice |
|