São Paulo, sábado, 03 de julho de 2004

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VÔO DA ÁGUIA

País gera menos postos de trabalho do que o esperado; possível desaquecimento pode afastar nova alta dos juros

Criação de empregos desacelera nos EUA

Charles Dharapak/Associated Press
O presidente George W. Bush fala sobre a economia dos EUA


FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Números divulgados ontem pelo Departamento do Trabalho dos EUA reforçaram algumas previsões pessimistas sobre a sustentabilidade da recuperação econômica do país e diminuíram a expectativa de alta nos juros norte-americanos.
Os EUA anunciaram a criação de 112 mil novos empregos em junho, menos da metade do que o mercado esperava, e uma estagnação no valor dos rendimentos dos trabalhadores.
A notícia pressionou para baixo tanto o dólar quanto a Bolsa de Nova York. Por outro lado, o risco dos emergentes (incluindo o Brasil) caiu, com a expectativa menor de alta nos juros nos EUA.
No setor industrial, houve corte de 11 mil postos de trabalho, contrastando com o aumento de mais de 75 mil vagas em quatro medições posteriores.
Os números anteriormente divulgados em maio também foram revisados, para 235 mil novas vagas -13 mil a menos do que o previamente anunciado.
Em junho, as novas contratações ficaram praticamente limitadas ao setor de serviços. A taxa geral de desemprego ficou igual, em 5,6%, o que representa 8,2 milhões de desempregados.
As estatísticas divulgadas ontem não englobam vagas criadas ou fechadas no setor agrícola.
Junho foi o décimo mês seguido em que os números de emprego nos EUA ficaram positivos. Desde agosto de 2003, cerca de 1,5 milhão de novas vagas foram abertas no país.
Economistas e analistas americanos estão preocupados, no entanto, com o ritmo do emprego e da expansão da renda nos EUA.
Desde o início do ano, tem havido uma queda do salário-hora pago na indústria. Em junho, esse valor ficou praticamente estagnado, em US$ 15,65, e houve uma pequena diminuição no número de horas trabalhadas na semana (de 33,8 horas para 33,6).
Caso o ritmo das contratações permaneça igual ou menor do que o patamar de junho, o presidente George W. Bush poderá sofrer as conseqüências eleitorais de uma recuperação bem mais morna do que a que promete.
Ontem, Bush procurou tirar vantagem da má notícia: "Não queremos um boom ou um esvaziamento. O que queremos é um crescimento firme e consistente", disse o presidente.
Alguns economistas mais pessimistas acreditam, porém, que a atual recuperação corra o risco de não se sustentar. Ela não teria sido traduzida ainda em uma robusta elevação dos investimentos empresariais, da renda e do emprego -pontos fundamentais de uma retomada "clássica".
Outro índice mostrou queda de 0,3% nas encomendas às indústrias em maio. Em abril, o dado já havia sido negativo em 1,1%.
A desaceleração no ritmo das contratações em junho poderá levar agora o Fed (o banco central dos EUA) a retardar um pouco o passo do aumento dos juros.
Na quarta-feira, o Fed aumentou o juro básico pela primeira vez em quatro anos, de 1% ao ano para 1,25%, a fim de barrar expectativas inflacionárias. O Fed anunciou também que novas correções seriam aplicadas de forma "gradual" e "moderada".
O modesto desempenho do emprego já serviu de indicativo para o mercado ontem. As expectativas de alta dos juros nos mercados futuros e as taxas aplicadas em títulos de longo prazo lastreados em papéis do Tesouro dos EUA foram puxadas para baixo.


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