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RESENHA
Autores apontam caminhos para a política industrial
MARCELO DIEGO
EDITOR-ADJUNTO DE DINHEIRO
"A melhor política industrial é não ter política industrial." A frase do ex-ministro
da Fazenda Pedro Malan torna
explícita uma discussão nada fácil: até que ponto o país precisa de
medidas para impulsionar sua
produção industrial e quais seriam as mais corretas?
Maria Tereza Leme Fleury e
Afonso Fleury, professores da
USP (Universidade de São Paulo),
compilam, em dois volumes, o
pensamento de outros acadêmicos e economistas para tentar responder a esses questionamentos.
Os principais méritos de "Política Industrial 1" e "Política Industrial 2" residem em explorar as
definições desse conceito e qual
seria sua aplicação prática e o seu
possível retorno para a economia
brasileira. São três capítulos-artigos no primeiro livro e outros
quatro na segunda obra.
A definição de política industrial varia de acordo com os autores dos capítulos, mas, em linha
geral, ela é descrita como "a criação, a implementação, a coordenação e o controle estratégico de
instrumentos destinados a ampliar a capacidade produtiva e comercial da indústria, a fim de garantir condições concorrenciais
sustentáveis nos mercados interno e externo".
Diferentemente da política de
câmbio (controlado, de bandas,
flutuante) ou da de juros, não há
uma explicação teórica pronta para o que é política industrial.
Tanto que, ao longo dos tempos
-e dos governos-, esse termo
foi emprestado a uma série de
ações públicas que ora estimulavam a substituição de importações, ora visavam a ampliação do
parque fabril, ora injetavam uma
maciça quantia de recursos públicos em empreendimentos privados.
A falta de um pensamento coerente por parte da administração
pública e o "comodismo" empresarial, ocasionado pela ajuda generosa do governo, acabaram enfraquecendo, ao invés de fortalecer, o conjunto de indústrias nacionais.
A abertura comercial do começo dos anos 90 e a política de câmbio do início do Real ajudaram a
diminuir a participação da indústria no PIB (Produto Interno Bruto, o total de riquezas produzidas
pelo país).
A orientação liberal da administração Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), chefe de Malan,
deu mais ênfase ao controle da inflação e, para isso, usou de um
forte aperto monetário e fiscal, reduzindo o crescimento econômico e o desempenho industrial.
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva disse que seu governo terá
uma política industrial forte, embora ainda não sejam claros os rumos que ela tomará.
Ao mesmo tempo, o compromisso do atual governo com a
manutenção da chamada "agenda ortodoxa" parece contradizer
uma orientação de um novo desenho de programa desenvolvimentista.
As soluções apresentadas pelos
autores para contornar esse possível impasse e para recuperar o
"tempo perdido" passam pelas
tradicionais -fomento à indústria exportadora e valorização de
recursos brasileiros, por exemplo-, mas muitas vezes saem do
lugar-comum.
James Wright e Renata Giovinazzo sugerem desenvolver uma
escala de produção de bens populares, para atender ao mercado interno de menor renda e também
outros países em desenvolvimento, como Nigéria, Índia e Malásia.
Assim os produtos brasileiros teriam um nicho de mercado com
competitividade de preço.
Os autores não escapam das
contextualizações necessárias.
Afinal, a economia globalizada dinamizou as relações de trabalho,
permitiu a internacionalização
das grandes companhias e pressiona pelo uso das vantagens
comparativas, ou seja, que cada
país tire proveito do que sabe fazer de melhor.
Porém, seja qual for o caminho
adotado, o leitor acabará os livros
com a impressão de que, se o ministro Malan tivesse tido um outro pensamento, talvez o país estivesse mais bem preparado para
crescer acima dos 3,5% previstos
para este ano.
Política Industrial 1
Autores: Maria Tereza Leme Fleury e
Afonso Fleury (org.)
Editora: Publifolha (107 págs.)
Quanto: R$ 22,90
Política Industrial 2
Autores: Maria Tereza Leme Fleury e
Afonso Fleury (org.)
Editora: Publifolha (125 págs.)
Quanto: R$ 22,90
Informações: 0800-140090
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