|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Venda do Atacadão está em banho-maria
Rede foi chamada várias vezes pela Fazenda paulista para explicar suposta irregularidade no recolhimento do ICMS
Interessados na aquisição da rede têm dúvidas sobre os benefícios fiscais que a empresa adquiriu, e não querem ser questionados
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O temor de que a compra do
Atacadão se transforme numa
dor de cabeça tributária colocou a negociação da venda da
rede em banho-maria, segundo
apurou a Folha.
Pão de Açúcar, Carrefour,
Wal-Mart e Makro já visitaram
o "data room" (sala de informações) da empresa para levantar
dados da rede, que opera numa
mistura de atacado e varejo.
Informações obtidas pela
Folha com a Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo
mostram que a empresa foi
acionada por diversas vezes para explicar irregularidades envolvendo a cobrança de ICMS,
incompatíveis com o esperado
para a atividade do contribuinte. A rede é a maior atacadista
no país, fatura R$ 4,5 bilhões e
tem 35 lojas. "A empresa em
questão, por várias vezes, foi
acionada para prestar esclarecimentos sobre o assunto em
pauta". A secretaria não informa se houve autuação porque
trata-se de processo sigiloso.
Após uma boa olhada nos números, a dúvida dos interessados está nos benefícios fiscais
que a companhia adquiriu, e
que correm o risco de ser questionados pelo fisco após a compra da cadeia de atacado. As
empresas fazem as contas agora para saber qual a situação jurídica da cadeia de 35 lojas.
Um dos problemas refere-se
aos incentivos concedidos
(chamado de crédito presumido) pelos Estados à cadeia de
lojas sem a aprovação do Confaz (Conselho Nacional de Política Fazendária), órgão que engloba os secretários estaduais
de Fazenda. O Atacadão tem
créditos de ICMS em Estados
como o Distrito Federal e o Rio
de Janeiro e a empresa obteve o
direito de se creditar de um
ICMS que não foi pago. Isso
porque esses Estados, de onde a
cadeia informa que sai a mercadoria (informado pela nota fiscal) concederam um incentivo
fiscal para vários atacadistas,
inclusive o Atacadão.
A cautela na negociação acabou despontando quando as cadeias começaram a analisar o
tamanho desse crédito. Questionada, a empresa não se pronunciou sobre o tamanho do
benefício, assim como informa
que não comenta rumores sobre a sua venda.
A definição do montante a
ser pago pelos ativos do Atacadão nessa negociação depende,
entre outras coisas, do tamanho desse benefício que já está
incorporado ao balancete.
Esse benefício que a rede utiliza pode vir da redução da alíquota do imposto ou da diminuição da base de cálculo do
ICMS em alguns estados.
O que acontece é o seguinte: a
rede informa em nota fiscal que
o produto "x" saiu de São Paulo
e foi para o Distrito Federal e,
de lá, para Minas Gerais. As redes atacadistas têm escritórios
na maioria desses Estados. Pois
bem: ao entrar no DF a empresa paga 7% de ICMS sobre a
venda e, quando chega a Minas,
será pago os 15% daquele Estado menos os 7% do DF (são
não-cumulativos). Isso daria
5% de ICMS, mas MG concede
incentivo de quatro pontos
percentuais, então, paga-se só
1% de ICMS.
O tamanho do crédito fiscal
que a rede tem poderá ser descontado do preço de venda da
operação do Atacadão se o
comprador adotar uma postura
mais conservadora -e acreditar que essa vantagem fiscal será questionada na Justiça.
O Supremo Tribunal Federal
já começou a questionar esse
benefício em ações diretas de
inconstitucionalidade ajuizadas pelo Estado de São Paulo
neste ano. Trinta ações diretas
foram ajuizadas até junho.
A compra do Atacadão poderá fazer a rede Wal-Mart (R$
11,7 bilhões de faturamento
bruto) encostar no grupo Pão
de Açúcar (R$ 16,6 bilhões) e
ultrapassar o Carrefour (R$
12,5 bilhões) no ranking de supermercados. Ao mesmo tempo, pode levar o Pão de Açúcar a
se consolidar como a maior cadeia do setor no Brasil. As análises ainda estão sendo feitas e
não há favoritos, apenas rumores de mercado.
Texto Anterior: Semana deve ser menos volátil para os mercados Próximo Texto: Saiba mais: Rede passa por processo de reestruturação Índice
|