São Paulo, quinta-feira, 03 de julho de 2008

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ANÁLISE

Há dúvida sobre efeito no preço

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

O governo está dando um volume maior de crédito e a juros menores para os produtores na safra 2008/9. Só isso já seria um ponto positivo para a avaliação do novo plano de safra.
Outro ponto altamente favorável é a busca do aproveitamento de terras degradadas, que se tornaram improdutivas com o uso constante ou por deficiência do solo. Isso torna o produto brasileiro bem mais sustentável e o retira da discussão sobre a degradação do ambiente e o avanço da produção no bioma amazônico.
Mas alguns fatores extras do momento, e que não dependem do governo, podem anular os efeitos dessa melhora na política agrícola. Os produtores têm um dos maiores patamares de custos de produção dos últimos anos e vêem as tradings, que sempre forneceram um terço do crédito agrícola, pisar no freio e reduzir a participação nesses financiamentos.
Alguns estudos indicam que as tradings não devem participar com os 33% tradicionais que fornecem aos produtores. Na média, os empréstimos dessas empresas podem ficar abaixo de 20% do total que os produtores utilizam por safra. Ou seja, pode faltar dinheiro para o produtor. Tradicionalmente, o capital utilizado na produção vem do governo, das tradings e do capital próprio dos produtores -cada um participando com um terço.
O aumento de produção, portanto, vai depender de clima e de como os produtores vão resolver os problemas de custo.
A meta do governo, no entanto, de elevar a safra para 150 milhões de toneladas de grãos, é acanhada. Bastaria apenas 1 mihão de hectares a mais de milho para o país atingir o diferencial da safra atual para a de 2008/9.
Mesmo com o avanço da produção, os preços das matérias-primas exportáveis não devem ceder no mercado interno.
O volume a ser produzido, superior às necessidades brasileiras, ainda é muito pouco para a recomposição dos estoques mundiais, o que mantém os preços externos em alta. E a formação de preços desses produtos vem do exterior.

Incentivo para estoques
Para garantir o abastecimento interno, o governo está incentivando a produção de quatro produtos considerados sensíveis -milho, arroz, trigo e feijão. Desses, apenas o último tem formação total de preço no mercado interno.
A intenção do governo é voltar à formação de estoques de pelo menos 6 milhões de toneladas de produtos essenciais. Esse volume é pequeno em relação aos 20 milhões que o país chegou a ter na década de 1980. O problema é que esse acúmulo de estoques, mesmo feito em período de safra, pode elevar ainda mais os preços, que já estão pressionados.
As medidas do plano atual de safra do governo, no entanto, respondem ao anseio dos produtores: retira taxas que oneravam o financiamento de máquinas, amplia os limites de crédito, reajusta os preços mínimos e eleva o volume de subvenção de seguro rural.
Essas medidas, no entanto, ainda são incipientes em vista dos anos perdidos de política agrícola nesta década, apesar dos esforços dos ex-ministros da Agricultura.
O país deve começar um programa de política agrícola visando o médio e o longo prazos, uma vez que a política atual resolve problemas pontuais, mas deixa em aberto gargalos de dimensões maiores.
Além dos tradicionais problemas de infra-estrutura, que geram custo extra aos produtores brasileiros em relação aos concorrentes estrangeiros, chegaram novos ônus neste ano, como o peso de adubos e fertilizantes. Pouco se pode fazer nesse setor antes de, pelo menos, meia década.
O seguro rural, por exemplo, é um dos fatores mal-resolvidos no passado.
Mesmo com o aumento de 61% nesta safra -desde que seja todo utilizado-, esse seguro vai cobrir apenas 10% da área de plantio do país.
Uma das metas importantes do governo a médio prazo, desde que realmente seja efetivada, é a aposta nas pesquisas. A agricultura poderia elevar a produtividade e conseguir tecnologia apropriada para o aproveitamento de novas áreas.
Só o Paraná, tradicional produtor nacional, perdeu próximo de 250 mil toneladas de soja pelo uso inadequado de sementes. O avanço da pesquisa deve eliminar esses gargalos.
A aposta do governo no aumento da produção de alimentos via agricultura familiar também é acertada. O programa de apoio deve elevar o fornecimento de máquinas, principalmente tratores de pequeno porte, para 60 mil unidades nas próximas três safras.
A produção para o mercado interno será ampliada, mas é preciso melhorar a comercialização desses produtos, que vêm de agricultores com escala bem menor.


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