|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
OPINIÃO ECONÔMICA
O enrosco dos investimentos
BENJAMIN STEINBRUCH
Peço licença ao professor
Yoshiaki Nakano, da Escola
de Economia da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, para citar um artigo brilhante escrito
por ele no "Valor", no início de julho. O texto mostrou que, nos países em desenvolvimento, diferentemente do que se imagina, são o
crescimento econômico e a conseqüente acumulação de lucros do
setor privado que estimulam os
investimentos, e não o contrário.
Os dados citados por Nakano
indicam que, nos países ricos, só
metade da poupança privada
tem origem nos lucros retidos pelas empresas. Nos emergentes, porém, essa parcela é muito maior.
No Brasil, 76,1% dos investimentos produtivos de empresas são financiados com recursos provenientes de resultados retidos. Os
créditos bancários respondem por
10,1%, as emissões de ações e de
outros papéis domésticos, por
8,1%, e o financiamento externo,
por 5,7%.
Os números do artigo do professor Nakano levam a algumas
conclusões importantes. Se quisermos estimular de verdade os
investimentos produtivos, precisamos cuidar de duas mudanças
na economia brasileira:
1) devemos reduzir a tributação
e criar mecanismos de estímulo às
empresas que destinam lucros para investimentos; e/ou 2) aumentar a oferta de empréstimos e outras fontes domésticas e externas
para que a participação desse fator no financiamento de investimentos se aproxime dos 50% verificados nos países ricos.
O ideal seria que essas duas coisas se dessem simultaneamente.
O problema é que aparentemente
nem uma nem outra está ocorrendo. Pelo menos no setor industrial, as margens de lucro têm sido reduzidas progressivamente
nos últimos anos. Estima-se que
tenham caído cerca de 8% de
1999 a 2003, embora o nível de
2003 tenha sido melhor do que o
do ano anterior. As empresas,
atingidas pela desvalorização
cambial, não conseguiram corrigir seus preços na mesma proporção do aumento dos custos.
Dados do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento
Industrial) indicam ter havido redução das margens também neste
ano. Balanços de 105 empresas industriais do primeiro trimestre
revelam que a margem média reduziu-se para 18,51% da receita
líquida, em comparação com
22,13% no mesmo período de
2003.
Os créditos bancários para investimento também não cresceram. Eles vêm basicamente do
BNDES, que no ano passado fez
liberações totais de R$ 33 bilhões
(excluídos recursos extraordinários). Neste ano, o banco espera
alcançar seu objetivo de liberar
R$ 47 bilhões. Apesar disso, no
primeiro semestre a média mensal de desembolsos foi de apenas
R$ 2,7 bilhões -que projetam
um valor total de R$ 32,4 bilhões
para o ano.
As emissões de ações e outros
papéis no mercado doméstico para amparar investimentos continuam contidas. No primeiro semestre, a oferta pública total desses títulos atingiu apenas R$ 5,8
bilhões. Nesse ritmo, não haverá
nenhum progresso em relação aos
R$ 11,1 bilhões de 2003, quando as
emissões já haviam caído 62% em
relação a 2002.
O mesmo se pode dizer dos investimentos diretos de capital estrangeiro. No primeiro semestre,
entraram no país pífios US$ 4 bilhões (líquidos), nível apenas ligeiramente inferior ao de igual
período do ano passado. Ainda
que o fluxo tenha aumentado em
julho, o Banco Central reduziu
sua previsão para o ano de US$ 13
bilhões para US$ 12 bilhões.
Nessas condições -sem a perspectiva de retenção de maiores lucros no setor industrial e sem oferta significativa de financiamento
bancário ou do mercado de capitais-, dificilmente poderá haver
investimentos produtivos suficientes para sustentar uma nova
fase de crescimento econômico
duradouro. Como sair dessa? Os
textos e as aulas do professor Nakano mostram alguns caminhos.
Começam pela redução da tributação sobre lucros retidos para investimento e pela desvalorização
cambial.
Benjamin Steinbruch, 50, empresário,
é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional e presidente do conselho de administração da empresa.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
Texto Anterior: Mercosul deve criar fórum regional de soja Próximo Texto: Luís Nassif: O jogo bate no Citi Índice
|