São Paulo, quarta-feira, 03 de agosto de 2005

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Para Luiz Marinho, "turbulência política" não atingiu a economia

CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Luiz Marinho, que deixou o comando da CUT para assumir o Ministério do Trabalho, afirma que a "turbulência política" não contaminou o país.
Avesso a usar o termo "crise política", ele diz que prefere conversar com o presidente Lula sobre temas positivos, como "emprego, crescimento e investimento".
Em seu primeiro cargo político, Marinho afirma que se sentirá "satisfeito" se conseguir ajudar a criar uma política de recuperação do salário mínimo. A seguir trechos de sua entrevista à Folha.
 

Folha - O sr. tem conversado com o presidente sobre a crise política?
Luiz Marinho -
Tenho conversado sobre o Brasil, emprego, economia, crescimento e investimento. Essa é a conversa no governo.

Folha - Vários sindicalistas e petistas afirmam que essa crise faz parte de um "complô das elites". Na semana passada, o presidente Lula disse que "o acerto do comportamento do governo tem incomodado muita gente".
Marinho -
Vejo com naturalidade o presidente falar isso. O que temos é uma turbulência política, não chamaria de crise. Muita gente tenta fazer dessa crise política uma crise no Brasil. Quando se diz que um país está em crise, você vê fábricas fechando, empresas quebrando, demissões em massa. O Brasil continua andando. A economia real continua funcionando. [A situação] É grave, merece atenção, mas temos maturidade democrática. As autoridades constituídas e o Congresso é que devem apurar e investigar e chegar às conclusões de quem deve ou não ser punido. E o Brasil deve continuar funcionando.

Folha - Os trabalhadores, o movimento sindical e a CUT devem ir às ruas defender o presidente?
Marinho -
As entidades devem ter autonomia. Se acharem que devem, têm o direito de fazê-lo. Não acho que o presidente está tomando iniciativa de buscar apoio dos movimentos sociais e sindicatos. É só olhar as pesquisas. Tem apoio não só dessas instituições mas do povo brasileiro.

Folha - O presidente não intensificou sua participação em alguns eventos populares?
Marinho -
De jeito algum, é uma questão de agenda. Esteve na posse [do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC] assim como esteve em todas as posses desde 1975.

Folha - O sr. conhecia o publicitário Marcos Valério? Ele trabalhou para a CUT ou para os sindicatos?
Marinho -
O Marcos Valério é um cidadão que circulou comprovadamente pelo PT. Acabei trombando com ele, no aeroporto, no partido. Ele nunca fez absolutamente nada [para a CUT].

Folha - A DNA tem um contrato com o Ministério do Trabalho e recebeu R$ 506 mil. O sr. pretende reavaliar esse ou outros contratos?
Marinho -
A DNA tem contrato com o ministério, assim como a agência Artplan. O orçamento do MTE é tão grande, tão grande [ironiza] que, se eu encerrar o contrato e chamar licitação, não vai haver agência que se interesse. Tenho R$ 1,2 milhão de orçamento [para publicidade] e já foram gastos R$ 900 mil. Como se faz publicidade com R$ 300 mil? A licitação [feita em 2001, na gestão de Francisco Dornelles] termina em 20 de setembro. Não há previsão para propagandas até lá.

Folha - É possível conciliar crescimento econômico, criação de empregos e melhoria na renda com a atual taxa de juros?
Marinho -
Em 2004, tivemos um crescimento bastante razoável. No primeiro semestre deste ano, houve desaceleração, mas não houve paralisação: foram criados 966 mil empregos. Nos 30 meses de governo Lula, são 3,135 milhões, uma média mensal de 104 mil novos empregos. Estamos discutindo agora se o crescimento pode ser maior ainda ou não. É evidente que é preciso iniciar a redução dos juros. As condições para isso já estão criadas.

Folha - Há críticas de que esses empregos são precários, com baixos salários...
Marinho -
Em um processo de crescimento do país, os empregos criados são na base e derrubam, portanto, o salário médio. No Brasil, existe condição de crescimento dos salários e da renda. Mas é preciso que o empresariado contribua, diminuindo o nível de rotatividade, que é crucial. Só se consegue frear a rotatividade por meio de ações sindicais. Não pode haver uma ação do Estado, por decreto, que proíba isso.

Folha - Qual política será adotada em relação ao salário mínimo?
Marinho -
Precisamos de uma política permanente de crescimento do salário mínimo, independentemente de quem esteja no governo e de seu valor em 2006 e 2007. Tem de haver uma política de Estado. Se chegar ao final [do mandato] com essa política estabelecida, estou satisfeito. No próximo dia 11, será instalada a comissão permanente quadripartite para discutir essa política.

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