São Paulo, quarta-feira, 03 de agosto de 2005

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ENERGIA

Apesar de oferta superior à da Chevron, americanos atacavam venda à CNOOC; caso foi tratado como questão de segurança nacional

Sob pressão, chineses desistem da Unocal

IURI DANTAS
DE WASHINGTON

Depois de oito meses, dois aumentos de bilhões de dólares e pressões políticas, a estatal chinesa de petróleo CNOOC (China National Offshore Oil Corporation) desistiu ontem de comprar a petrolífera norte-americana Unocal e deixou o caminho livre para a também norte-americana Chevron adquirir a concorrente. Em vez de uma mera disputa comercial, o caso vinha sendo discutido nos EUA como mais uma questão de segurança nacional.
A oferta final da Unocal chegou a US$ 18,5 bilhões, contra US$ 17,4 bilhões da Chevron. Ainda assim, os chineses admitiam publicamente elevar a proposta, se assim fosse o interesse da mesa diretora da Unocal. Ontem, porém, a gigante chinesa retraiu-se.
O Congresso norte-americano e a própria mesa diretora da Unocal atacavam fortemente o negócio, alegando um temor sobre o aumento do poder econômico da China. Algo que não foi visto, por exemplo, na aquisição da IBM pela chinesa Lenovo.
A direção da CNOOC afirmou, em comunicado, que enfrentava "oposição política sem precedentes", que seria "lamentável e injustificada", pois a empresa possui "objetivos puramente comerciais". Para concluir a nota, a estatal informou que os EUA possuem um "nível de incerteza que apresenta um risco inaceitável para nossa capacidade de garantir essa transação".
Risco político, para melhor esclarecer: republicanos no Congresso norte-americano chegaram a cogitar proibir em lei a venda de empresas do setor de energia para estrangeiros. O fato de 70% da CNOOC pertencer ao governo chinês também era criticado pela Chevron, que dizia competir com um país, e não com uma outra empresa concorrente.
Curiosamente, o fato de parte da operação com a Chevron ser feita em troca de ações, em vez de dinheiro, sempre foi citado como fator de preferência pelos membros da mesa diretora da Unocal.
Teme-se, agora, que o revés vivido pela CNOOC vá tornar empresas chinesas mais resistentes a negócios nos EUA.
Na avaliação de John Tkacic, da conservadora Fundação Heritage em Washington, a desistência chinesa "provavelmente não fará muita diferença para a economia norte-americana", e sim para a segurança nacional, devido à localização estratégica da Unocal.
"Muitos dos pontos de extração da Unocal estão próximos a locais estratégicos de defesa dos EUA. Especificamente no Alasca, onde há proximidade com pontos de teste do sistema de mísseis."
Além disso, avalia o pesquisador, "certamente os chineses têm demonstrado nos últimos anos que são plenamente capazes de traduzir presença econômica em influência política".

Ameaça chinesa
O crescimento da economia chinesa vem despertando atenção e preocupação em diversos círculos de Washington nos últimos meses. Há duas semanas, por exemplo, o Departamento de Defesa divulgou com cinco meses de atraso seu relatório anual para o Congresso sobre o poder militar chinês. Diz ali que os chineses possuem planos para atacar Taiwan sem dar tempo aos EUA para intervenção no caso.
Mas a questão vai além. Com boa parte de sua economia caminhando por conta da compra de títulos do Tesouro norte-americano pelos chineses, Washington pressiona Pequim a abrir sua economia. Depois de décadas de ditadura socialista, a China optou por fazer uma abertura gradual. Apenas na semana retrasada, por exemplo, decidiu valorizar sua moeda, o yuan, ainda assim em apenas 2,1% contra os cerca de 40% de desvalorização calculados por especialistas.

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