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ENERGIA
Apesar de oferta superior à da Chevron, americanos atacavam venda à CNOOC; caso foi tratado como questão de segurança nacional
Sob pressão, chineses desistem da Unocal
IURI DANTAS
DE WASHINGTON
Depois de oito meses, dois aumentos de bilhões de dólares e
pressões políticas, a estatal chinesa de petróleo CNOOC (China
National Offshore Oil Corporation) desistiu ontem de comprar a
petrolífera norte-americana Unocal e deixou o caminho livre para
a também norte-americana Chevron adquirir a concorrente. Em
vez de uma mera disputa comercial, o caso vinha sendo discutido
nos EUA como mais uma questão
de segurança nacional.
A oferta final da Unocal chegou
a US$ 18,5 bilhões, contra US$
17,4 bilhões da Chevron. Ainda
assim, os chineses admitiam publicamente elevar a proposta, se
assim fosse o interesse da mesa diretora da Unocal. Ontem, porém,
a gigante chinesa retraiu-se.
O Congresso norte-americano e
a própria mesa diretora da Unocal atacavam fortemente o negócio, alegando um temor sobre o
aumento do poder econômico da
China. Algo que não foi visto, por
exemplo, na aquisição da IBM pela chinesa Lenovo.
A direção da CNOOC afirmou,
em comunicado, que enfrentava
"oposição política sem precedentes", que seria "lamentável e injustificada", pois a empresa possui "objetivos puramente comerciais". Para concluir a nota, a estatal informou que os EUA possuem um "nível de incerteza que
apresenta um risco inaceitável para nossa capacidade de garantir
essa transação".
Risco político, para melhor esclarecer: republicanos no Congresso norte-americano chegaram a cogitar proibir em lei a venda de empresas do setor de energia para estrangeiros. O fato de
70% da CNOOC pertencer ao governo chinês também era criticado pela Chevron, que dizia competir com um país, e não com
uma outra empresa concorrente.
Curiosamente, o fato de parte
da operação com a Chevron ser
feita em troca de ações, em vez de
dinheiro, sempre foi citado como
fator de preferência pelos membros da mesa diretora da Unocal.
Teme-se, agora, que o revés vivido pela CNOOC vá tornar empresas chinesas mais resistentes a
negócios nos EUA.
Na avaliação de John Tkacic, da
conservadora Fundação Heritage
em Washington, a desistência
chinesa "provavelmente não fará
muita diferença para a economia
norte-americana", e sim para a segurança nacional, devido à localização estratégica da Unocal.
"Muitos dos pontos de extração
da Unocal estão próximos a locais
estratégicos de defesa dos EUA.
Especificamente no Alasca, onde
há proximidade com pontos de
teste do sistema de mísseis."
Além disso, avalia o pesquisador, "certamente os chineses têm
demonstrado nos últimos anos
que são plenamente capazes de
traduzir presença econômica em
influência política".
Ameaça chinesa
O crescimento da economia chinesa vem despertando atenção e
preocupação em diversos círculos
de Washington nos últimos meses. Há duas semanas, por exemplo, o Departamento de Defesa
divulgou com cinco meses de
atraso seu relatório anual para o
Congresso sobre o poder militar
chinês. Diz ali que os chineses
possuem planos para atacar Taiwan sem dar tempo aos EUA para
intervenção no caso.
Mas a questão vai além. Com
boa parte de sua economia caminhando por conta da compra de
títulos do Tesouro norte-americano pelos chineses, Washington
pressiona Pequim a abrir sua economia. Depois de décadas de ditadura socialista, a China optou
por fazer uma abertura gradual.
Apenas na semana retrasada, por
exemplo, decidiu valorizar sua
moeda, o yuan, ainda assim em
apenas 2,1% contra os cerca de
40% de desvalorização calculados
por especialistas.
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