São Paulo, quarta-feira, 03 de agosto de 2005

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ANÁLISE

Interferência política impede negociação

DO "FINANCIAL TIMES"

Os EUA talvez venham a lamentar por terem permitido que a política bloqueasse uma tomada de controle acionário chinesa.
A investigação quanto à oferta do grupo petroleiro chinês CNOOC pelo grupo norte-americano de petróleo Unocal rejeitaria o veredicto de que a transação morreu de causas naturais. Foi um notório caso de interferência indevida. A proposta foi derrubada em razão da oposição política, que culminou com a repreensível decisão do Congresso nos Estados Unidos, uma semana atrás, de aprovar um projeto de lei que tornaria muito mais longo o processo de aprovação pelas autoridades regulatórias.
A lamentável história deveria incomodar qualquer pessoa que acredite na importância dos mercados livres e abertos. E também expôs o perturbador clima de histeria contra a China que aflige Washington.
A CNOOC acabou navegando sem perceber em direção a uma perfeita tempestade. O Congresso está furioso quanto ao déficit no comércio entre os Estados Unidos e a China, quanto ao valor elevado do yuan, a suposta transferência de empregos norte-americanos para o exterior, os preços da gasolina, o reforço do poderio militar chinês, a insistência de Pequim em negar liberdades políticas e religiosas aos habitantes do país e a aquisição de recursos naturais por empresas chinesas em todo o mundo.
Surpreendentemente, dada a importância da China para tantas empresas norte-americanas, não surgiram indícios de um lobby favorável aos chineses para equilibrar o cenário. A Casa Branca vergonhosamente optou por manter o silêncio e permitiu que o Congresso ditasse os termos do debate.
Não havia razão legítima para sabotar a transação. Tanto China como os Estados Unidos são grandes importadores de petróleo; compartilham dos mesmos interesses quanto ao volume de produção elevado e aos preços baixos do produto.
Não que a proposta fosse maravilhosa. A proposta de US$ 18,5 bilhões do grupo chinês não era decisivamente mais alta que os US$ 17,4 bilhões oferecidos pela Chevron. Ao levantar crédito a custo baixo nos bancos estatais, a CNOOC permitiu que seus concorrentes norte-americanos a acusassem de deslealdade.
Mas o mercado não foi autorizado a decidir quem venceria. É péssimo que um país trate investidores estrangeiros dessa forma quando depende de fluxos de capital externo para financiar seu déficit comercial e bancar os custos da guerra contra o terrorismo.
O problema, evidentemente, é específico em relação à China. Mas uma das questões mais importantes para o mundo é que os EUA permitam e encorajem a ascensão chinesa. Matar as tentativas chinesas de aquisição causa dúvidas quanto à compreensão desse fato pelos norte-americanos.


Tradução de Paulo Migliacci

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