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ANÁLISE
Interferência política impede negociação
DO "FINANCIAL TIMES"
Os EUA talvez venham a
lamentar por terem permitido que a política bloqueasse uma tomada de controle
acionário chinesa.
A investigação quanto à oferta do grupo petroleiro chinês
CNOOC pelo grupo norte-americano de petróleo Unocal
rejeitaria o veredicto de que a
transação morreu de causas
naturais. Foi um notório caso
de interferência indevida. A
proposta foi derrubada em razão da oposição política, que
culminou com a repreensível
decisão do Congresso nos Estados Unidos, uma semana atrás,
de aprovar um projeto de lei
que tornaria muito mais longo
o processo de aprovação pelas
autoridades regulatórias.
A lamentável história deveria
incomodar qualquer pessoa
que acredite na importância
dos mercados livres e abertos.
E também expôs o perturbador
clima de histeria contra a China
que aflige Washington.
A CNOOC acabou navegando sem perceber em direção a
uma perfeita tempestade. O
Congresso está furioso quanto
ao déficit no comércio entre os
Estados Unidos e a China,
quanto ao valor elevado do
yuan, a suposta transferência
de empregos norte-americanos
para o exterior, os preços da gasolina, o reforço do poderio
militar chinês, a insistência de
Pequim em negar liberdades
políticas e religiosas aos habitantes do país e a aquisição de
recursos naturais por empresas
chinesas em todo o mundo.
Surpreendentemente, dada a
importância da China para tantas empresas norte-americanas, não surgiram indícios de
um lobby favorável aos chineses para equilibrar o cenário. A
Casa Branca vergonhosamente
optou por manter o silêncio e
permitiu que o Congresso ditasse os termos do debate.
Não havia razão legítima para sabotar a transação. Tanto
China como os Estados Unidos
são grandes importadores de
petróleo; compartilham dos
mesmos interesses quanto ao
volume de produção elevado e
aos preços baixos do produto.
Não que a proposta fosse maravilhosa. A proposta de US$
18,5 bilhões do grupo chinês
não era decisivamente mais alta que os US$ 17,4 bilhões oferecidos pela Chevron. Ao levantar crédito a custo baixo
nos bancos estatais, a CNOOC
permitiu que seus concorrentes norte-americanos a acusassem de deslealdade.
Mas o mercado não foi autorizado a decidir quem venceria.
É péssimo que um país trate investidores estrangeiros dessa
forma quando depende de fluxos de capital externo para financiar seu déficit comercial e
bancar os custos da guerra contra o terrorismo.
O problema, evidentemente,
é específico em relação à China.
Mas uma das questões mais
importantes para o mundo é
que os EUA permitam e encorajem a ascensão chinesa. Matar as tentativas chinesas de
aquisição causa dúvidas quanto à compreensão desse fato
pelos norte-americanos.
Tradução de Paulo Migliacci
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