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OPINIÃO ECONÔMICA
Mudanças na política monetária
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
Está tudo preparado para
uma nova rodada de aumento de juros pelo Banco Central. As
recentes declarações do ministro
José Dirceu, sobre a independência operacional de nossa autoridade monetária, representaram o
aval político para uma elevação
da taxa Selic ainda antes das eleições. O mercado financeiro começa agora a especular sobre a intensidade e a freqüência dos aumentos a serem definidos nos próximos meses. Teremos aumentos
maiores e menos freqüentes ou o
caminho a ser trilhado acompanhará os pequenos passos, que é a
política preferida do Fed americano?
Antes de focarmos sobre essa
dúvida que atinge o mercado,
gostaria de discutir com meu leitor da Folha uma questão que
precede a essa: por que o BC tem
de aumentar os juros neste momento em que a economia consolida uma recuperação cíclica? Somente uma resposta consistente
nos permitirá participar desse debate de forma construtiva e ajudar a opinião pública a acompanhar a ação de nossa autoridade
monetária.
As projeções mais consistentes
apontam hoje para um aumento
da inflação, medida pelo IPCA,
calculado pelo IBGE, da ordem de
7,5% neste ano e de algo próximo
a 6% para 2005. À primeira vista,
um resultado muito bom, na medida em que aponta para uma
queda importante em um período
no qual o crescimento econômico
consolidou-se. Em tese, não haveria necessidade de elevação dos
juros Selic quando os mercados
futuros apontam para uma taxa
de juros reais da ordem de 12%
para os contratos que cobrem o
ano civil de 2005.
O leitor da Folha pode então
perguntar: por que essa unanimidade sobre a necessidade de um
aumento da taxa Selic? Por duas
razões: de um lado, porque o Banco Central comprometeu-se com
uma meta inflacionária de 4,5%
para o ano de 2005 e precisa, para
defender sua credibilidade no
mercado, sinalizar que agirá no
sentido de cumprir seu compromisso. Não importa saber, e até as
pedras sabem disso, que uma inflação medida pelo IPCA de 4,5%
no próximo ano é impossível de
ser obtida!
O governo teve há poucos meses
a oportunidade de adaptar essa
meta, fixada no início do ano
passado, à realidade da inflação
de 2004. Preferiu manter o compromisso anterior, criando um
problema para 2005, a passar
uma pequena vergonha de aumentar a meta para 5,5% e ter
mais folga para trabalhar no próximo ano. Um erro de avaliação
incrível, pois o mercado entenderia esse movimento e não haveria
perda de credibilidade por parte
do Banco Central. Na maioria
das vezes, o realismo responsável
é muito mais eficiente do que um
certo autismo prepotente.
Mas isso é coisa do passado e
hoje ele não tem outra alternativa
senão seguir em frente com esse
compromisso. Pelo menos até fins
do primeiro semestre de 2005,
quando, imagino, ficará claro para todos que a meta de 4,5% não
passou de um sonho de uma noite
de verão e o Banco Central vai sinalizar a busca de algum número
dentro da banda superior.
Mas a elevação da taxa Selic
hoje tem uma segunda motivação. Temos sinais claros de que
começamos a viver uma incipiente inflação de demanda. Localizada ainda nos setores que foram
mais beneficiados pelo incrível
crescimento do comércio exterior,
a partir da metade do ano passado, um processo inflacionário, de
maior intensidade, poderá se desenvolver ao longo dos próximos
meses. Com a melhora objetiva
do cenário econômico, sabemos
que o brasileiro vai sair de sua posição defensiva em relação ao
consumo e tentar recuperar, neste
fim de ano, o tempo perdido em
2002 e 2003. Nesse momento, o
aumento de nossas exportações
vai fazer diferença e criar em certos setores uma escassez de oferta.
Por outro lado, o investimento
em ampliação da capacidade
produtiva dos setores que estão
hoje funcionando a plena carga
deve acelerar, também, a demanda interna. A construção de uma
nova fábrica, até a sua entrada
em operação, funciona como fonte de pressão sobre o consumo de
insumos, serviços e mão-de-obra.
Somente após seu pleno funcionamento é que ocorre um aumento da oferta de seus produtos
no mercado.
Somados esses três fatores, exportações em níveis elevados, demanda interna se acelerando e
aumento do investimento, podemos chegar a uma situação de inflação de demanda e a necessidade de reação por parte do BC.
Não vejo motivo para uma ação
mais agressiva do Copom, nas
próximas reuniões, e o caminho
do Fed pode ser a saída mais eficiente e menos dolorosa para o dilema do governo.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 61,
engenheiro e economista, é sócio e editor do site de economia e política Primeira Leitura. Foi presidente do BNDES e
ministro das Comunicações (governo
FHC).
Internet: www.primeiraleitura.com.br
E-mail - lcmb2@terra.com.br
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