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Turbulência inverte rendimento de fundos
Investimentos em DI e câmbio, que eram lanternas antes da crise, agora lideram em ganhos no mercado brasileiro
Captações desses fundos aumentam, mas analistas alertam que, ao final das tensões atuais, eles devem ter desempenho pior
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A recente onda de turbulências que tem sacudido o mercado financeiro global há cerca de
40 dias alterou o ritmo da indústria de fundos doméstica.
Aplicações que lideravam em
rentabilidade no ano passaram
à lanterna no período de crise,
enquanto outras, que vinham
perdendo atratividade, se tornaram mais vantajosas.
Analistas financeiros avaliam que as últimas semanas
serviram de lição aos investidores menos experientes, que
ainda não haviam se deparado
com uma crise de maior envergadura.
As duas categorias que tinham os piores desempenhos
do ano, até o dia 23 de julho,
passaram a ser as com melhor
retorno acumulado durante essas semanas críticas.
Uma é a dos fundos DI, que
avançaram durante a crise. A
categoria, uma das maiores do
mercado, tem perdido atratividade e sofrido com saques nos
últimos anos. Mas o aumento
de seus ganhos com as turbulências atraiu um novo fluxo de
recursos.
Os fundos DI tinham rendido, na média, 6,43% no ano até
o dia 23 de julho, ficando atrás
de renda fixa (6,86%), multimercados (10,91%) e ações
(28,43%). Já entre os dias 24 de
julho e 29 de agosto, saltaram
para o topo, com ganho de
1,09% no período, batendo renda fixa (0,86%), multimercados
(-1,09%) e ações (-9,55%).
Os dados pertencem ao site
Fortuna e representam o ganho médio de cada categoria.
Sempre pode haver fundos de
investimento com retornos
maiores ou menores do que a
média.
A virada dos fundos DI foi
acompanhada da elevação de
captação de recursos. A categoria registrava captação líquida
negativa de R$ 12,32 bilhões no
ano, até o fim de julho. Em
agosto, passou a ter captação
positiva de R$ 3,91 bilhões, até
o dia 28. "Quem presenciou esse período de turbulências entendeu o que significa dizer que
os investimentos carregam riscos de volatilidade. E isso não
se aplica apenas ao mercado
acionário", afirma a consultora
de investimentos Márcia Dessen, da Bankrisk.
Os fundos DI carregam em
suas carteiras títulos públicos e
privados com taxas pós-fixadas. Isso significa que suas taxas oscilam de acordo com o
ritmo do mercado. Nos últimos
anos, que foram de maior calmaria e queda da taxa básica de
juros da economia, a rentabilidade do DI foi encolhendo.
Porém um dos efeitos das
turbulências foi o de elevar as
taxas de juros nos contratos futuros, negociados na BM&F
(Bolsa de Mercadorias & Futuros). E esse movimento elevou
o retorno oferecido pelos DI.
Pressão cambial
O alerta que os analistas fazem é que, se o mercado se estabilizar e voltar ao ritmo normal, a atratividade extra dos DI
vai desaparecer. Por isso, migrar para essas aplicações agora
pode não ser a melhor opção.
"Tivemos aumento nas taxas
futuras de juros e conseqüente
ganhos nos fundos DI. Mas a
tendência é essas aplicações
voltarem a seu ritmo normal
[com o arrefecimento da crise]", afirma William Eid Júnior, coordenador do Centro de
Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas.
Mas não foram os DI os campeões de ganhos no período de
crise. Os fundos cambiais, por
acompanharem a oscilação do
dólar, foram os que mais renderam no período de 23 de julho a
29 de agosto: 6,70%.
O dólar chegou a bater em R$
2,13 nas últimas semanas. Porém o que se viu nos últimos
dias foi um enfraquecimento
no valor da moeda, que fechou
vendida a R$ 1,964 nos negócios da última sexta-feira.
Isso mostra que o repique recente da moeda estrangeira pode não voltar a se repetir e impulsionar os ganhos dos fundos
cambiais, a não ser que a crise
internacional volte a ter novos
capítulos críticos.
A crise que chacoalhou os
mercados mundiais, incluído aí
o brasileiro, teve seu epicentro
no mercado de crédito habitacional de alto risco dos EUA. O
medo de que os calotes nesse
setor afetassem o desempenho
de grandes bancos e fundos internacionais fez com que investidores se desfizessem de ações
e títulos da dívida de emergentes, o que derrubou as Bolsas e
os mercados pelo mundo.
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