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ARTIGO
Estatistas ameaçam futuro
ADRIANO PIRES
Existem inúmeras maneiras de contar a história dos
últimos 50 anos da Petrobras. Poderíamos escolher as conquistas
tecnológicas, a busca da auto-suficiência ou o ciclo dos seus investimentos. Mas vamos optar por
um foco mais institucional, separando os 50 anos em duas fases.
A primeira, recordando a expressão de Roberto Campos, seria
a era "sauro" ("Petrossauro", como dizia o economista), que tem
início em 1953 e termina em 1997.
As características dessa fase foram o monopólio em todos os
segmentos da indústria petrolífera, com exceção da distribuição e
revenda, a inexistência de regulação e a interpretação de que o petróleo é estratégico. A segunda é a
era da Petrobrás moderna, cujas
características são o fim do monopólio, a presença de um regulador forte e a aceitação de que o petróleo é uma commodity.
A criação da Petrobras em 1953
e a aprovação da lei 2.004, que
concedeu à empresa o monopólio
do petróleo, enquadram-se no
chamado pensamento econômico estratégico, baseado nas idéias
da Cepal (Comissão Econômica
para América Latina e Caribe). A
idéia era emancipar o Brasil da inferioridade econômica, e surgiu a
campanha "O Petróleo é Nosso".
Mesmo com as primeiras descobertas, ao final da década de 50,
as importações correspondiam a
76% do consumo, em 1973, a 80%,
e em 1990, ainda a 45%.
A experiência foi pródiga em
demonstrar que o monopólio estatal foi presa de um encadeamento tão perverso quanto clássico: o da utilização de tarifas públicas como instrumento de política
macroeconômica e, paralelamente, a limitação do fluxo de recursos para investimentos em um
contexto de grave crise fiscal.
Com a emenda constitucional 5
de 1995 e depois com a da lei 9.478
de 1997, inicia-se a era moderna.
A abertura do mercado trouxe
mudanças à estrutura corporativa
da empresa. Destacam-se o esforço de elevar a profissionalização
dos quadros executivos, a responsabilização por resultados, a autonomia e a transparência.
Tratava-se de transformá-la em
uma corporação internacional,
com o foco na rentabilidade e
uma ampla base de investidores
nacionais e estrangeiros. O Estado
passou a utilizar menos a empresa
como instrumento de política e
procurou beneficiar-se mais dos
fluxos de lucros, dividendos e impostos pagos pela companhia.
O futuro passa por aprofundar
as transformações iniciadas em
1997. Primeiro deve-se garantir
uma relação transparente entre o
acionista majoritário e a empresa.
Em segundo lugar, é fundamental
respeitar o acionista minoritário.
O terceiro ponto trata da separação da figura do Estado acionista
do Estado formulador de política
e regulador.
Pode parecer paradoxal, mas o
futuro da Petrobras depende de
restringir o grau de ação de seus
pseudodefensores. Salvar a Petrobras dos estatistas será a melhor
maneira de garantir mais 50 anos
de sucesso.
Adriano Pires, 46, diretor do CBIE (Centro Brasileiro de Infra-Estrutura) e professor da UFRJ, foi consultor técnico da ANP (Agência Nacional do Petróleo).
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